Super Terça: por que os investidores devem olhar de perto a inflação nos EUA e no Brasil

Essa terça-feira (12) é, para analistas de mercado, uma das datas mais importantes do primeiro trimestre de 2024 para os mercados mundial e local. Estados Unidos e Brasil divulgam suas inflações de fevereiro, com investidores tentando entender os efeitos na política monetária dos bancos centrais dos dois países.

No Brasil, o IBGE divulga, às 9h (horário de Brasília), o IPCA, com o mercado projetando um avanço de 0,78% no mês e 4,44% no ano. Nos Estados Unidos, O US Bureau of Labor Statics divulga o CPI (ou dados de inflação ao consumidor) às 9h30, com o consenso aguardando uma alta de 0,4% em fevereiro e de 3,1% no ano. 

Dados mais fortes do que o esperado nos EUA tendem a puxar os treasuries yields e a curva de juros brasileira para cima. Já no Brasil, no caso de a inflação vir acima do esperado, o impacto se restringe aos juros locais. 

“Estamos possivelmente diante de um dos momentos mais importantes deste primeiro trimestre do ano. Os banqueiros centrais e investidores em geral foram surpreendidos pelos dados de atividade e inflação vindos da economia americana nestes meses iniciais de 2024, mas as divulgações das duas últimas semanas por lá deixaram o mercado disposto a embarcar em uma nova rodada de otimismo”, diz o time do Itaú BBA, em relatório publicado nesta segunda. 

No começo do ano, nos Estados Unidos, a tese de que o Federal Reserve poderia cortar os juros já na reunião de maio tinha alguma força. Em janeiro, de acordo com o Fed Watch, ferramenta do CME Group, quase 70% dos investidores enxergavam um corte de 25 pontos-base já em maio. Hoje, após uma série de dados macroeconômicos, pouco mais de 22% veem queda em maio, com a maior parte das projeções de cortes indo para junho (cerca de 68%, segundo a mesma ferramenta).

A perspectiva de que o Fed terá espaço para cortar juros leva fluxo de capital para ativos de risco e beneficia países emergentes. Investidores tiram seu dinheiro da renda fixa americana e passam a tomar mais risco, o que beneficia, por exemplo, a Bolsa brasileira. O rali que levou o Ibovespa até os 130 mil pontos, visto nos últimos meses de 2023, se deu, principalmente, por esse motivo, com a perspectiva de que o inicio do ciclo de baixa começaria em maio. Já a saída dos estrangeiros da B3 recente se deu, principalmente, pelo afastamento desta crença

“Nos Estados Unidos, as pesquisas com gerentes de compras, tanto do setor manufatureiro quanto não-manufatureiro, além dos dados de mercado de trabalho divulgados na semana passada voltaram a dar força à tese de corte de juros no primeiro semestre. O CPI será uma oportunidade de os investidores reavaliarem suas estimativas à frente”, expõe o BBA. 

No caso de um CPI dentro ou abaixo do esperado, consolidando a tese criada com as últimas publicações, é possível que as Bolsas americanas – e também a brasileira – avancem. 

Quanto ao IPCA, a Levante aponta que ele deverá ser de grande influência na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), agendada para os dias 19 e 20 de março. “Os comunicados mais recentes do Copom praticamente confirmaram dois cortes de 0,5 ponto percentual nesta reunião e na agendada para maio. No entanto, o mercado ainda quer ter certeza de que o BC está vendo uma inflação sob controle para seguir com as projeções de redução da Selic para 9% cento até dezembro”, explica a Levante.

O Banco Central brasileiro, no entanto, deve monitorar outros fatores. A perspectiva de atraso do início de ciclo de corte de juros nos EUA, no caso de um CPI mais forte, por exemplo, pode levar a um ritmo menor de cortes, com as autoridades de olho no comparativo, ou mesmo a deterioração da situação fiscal brasileira. 

“Observamos na divulgação de janeiro um repique nos núcleos de inflação na margem e, diante de expectativas ao redor de 3,5% de inflação para este e o próximo ano, é importante que o dado na ponta não destoe substancialmente deste patamar”, expõe o BBA.

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