GAL abre agenda 2024 com exposição de Fernanda Gontijo

A exposição “Num Instante”, da artista Fernanda Gontijo, fica em cartaz visitada até 13 de julho, na GAL, no Sion 

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Segunda individual da artista Fernanda Gontijo na GAL, galeria localizada no Sion, a exposição “Num Instante” será aberta oficialmente nesta quinta-feira, dia 23 de maio. Trata-se, também, da inauguração oficial do calendário 2024 do espaço capitaneado por Laura Barbi. Com a curadoria de Marina Romano, a mostra apresenta uma seleção de trabalhos recentes da artista. São obras em pintura, desenho e colagem, além de uma obra site-specific. “São trabalhos que foram produzidos de entre 2022 e 2024”, situa Fernanda.

No texto curatorial, Marina Romano assinala: “A potência de vida da ação tem o efeito de movimento constante – subitamente, uma eventual reviravolta pode perturbar a norma e alterar tudo aquilo que era conhecido. Bastou um instante para que uma ventania repentina levasse pelos ares as coisas que estavam no chão, inertes. Fernanda Gontijo recorda esse episódio, vivido em uma de suas caminhadas pela cidade. Quando pousaram, depois de girarem em redemoinho, os vestígios da vegetação, de pessoas e das construções voltaram para o solo em outra organização, como novos rastros”. 

Para saber mais sobre os trabalhos que estão reunidos na mostra, o Culturadoria conversou com Fernanda Gontijo. Confira, a seguir, o bate-papo, em tópicos.

Gênese e processo

Perguntada sobre o episódio citado no texto curatorial, Fernanda Gontijo conta primeiramente que as caminhadas pela cidade de fato estimulam muito o seu processo criativo. “Tanto na observação da paisagem urbana quanto no encontro com fragmentos que coleto”. Assim, certo dia, enquanto caminhava pelas ruas do centro, foi surpreendida por uma forte corrente de vento. Um evento que, de imediato, narra a artista, levantou muita poeira. “Mas, do mesmo modo, outros fragmentos invisíveis ao olhar acostumado de quem passa por ali no dia a dia. Assim, de repente, tudo estava suspenso no ar, girando. Na verdade, eu mal conseguia manter os olhos abertos”.

Fato, a ventania não durou assim, muito tempo. Mas, depois daquele instante, nada estava mais como antes, pontua ela. Esse acontecimento – que é tão cotidiano -, prossegue Fernanda, se revelou, naquele dia, para ela, impactante – pela força e pela delicadeza. “E, desse modo, me fez pensar sobre o quanto de potência pode estar contida em um pequeno instante, ou um instante imenso. Tem também o aspecto mágico dessa espiral de vento. Esse movimento que pode transformar os caminhos, mudar os percursos. Ou seja, tirar as coisas do lugar no qual elas estão e, assim, apresentar novas possibilidades”.

Caminhada

A artista lembra que começou a sua produção artística por meio da colagem. “Creio que pelo desejo de criar imagens com o material que tinha mais acessível na época”. No entanto, neste processo, Fernanda começou a observar o que era descartado. “O verso do recorte, as beiradas dos papéis, os pequenos fragmentos descartados… E comecei a utilizá-los também. Com isso, esse pensamento de compor através de camadas e fragmentos e o gesto de utilizar como elemento no trabalho o que seria descartado tornou-se a base dos meus processos no ateliê”.

Mais uma vez recorrendo ao texto da curadora, há um momento no qual ela pontua que, nos modos da colagem, Fernanda costuma misturar uma variedade de materiais”. “Abordando o papel, o tecido e a tela com canetas, lápis, spray, nanquim, acrílica, guache e o que mais encontrar no ateliê, de pedaços de fita-crepe usada a cascas de parede”.

Pinturas

No caso das pinturas, Marina Romano reflete que, no caso de Fernanda Gontijo, a pintura também traz esse gesto, “imprimindo no campo pictórico o resultado, em escala real, do percurso das pernas e braços pelas ruas”. “E, por onde se olha, a presença da cor é quase espontânea, em composições suaves e equilibradas, como registros de uma memória agradável da paisagem”.  

Foto da obra "A Primeira Palavra do Corpo", de Fernanda Gontijo (Juliana Gontijo/Divulgação)
Foto da obra “A Primeira Palavra do Corpo”, de Fernanda Gontijo (Juliana Gontijo/Divulgação)

Perguntada sobre a escolha das cores, Fernanda confessa não ter uma resposta objetiva para definir os critérios que adota. “Na verdade, as escolhas acontecem de maneira um pouco inconsciente. Porém, o que percebo é que, nas obras, as imagens são como uma colagem de memórias coletadas durante os percursos. E, assim como a memória, aparecem de maneira pouco clara, etérea, informe, quase desaparecem, com muitos ruídos, se acumulam e se dissipam”.

Trabalhos

Instigada a falar sobre os trabalhos que estão reunidos na GAL, Fernanda começa por “A Dança”. “É um trabalho que tem muito a presença do corpo e do movimento. Primeiramente, estiquei um papel maior que meu próprio corpo no chão do ateliê. Daí, o cobri com papel carbono de diferentes cores. Ele ficou por um tempo no chão e registrou os movimentos das pernas e braços que eu fazia caminhando e dançando por cima”. Depois, foi para a parede e, daí, a artista foi adicionando tinta, pastel e outros elementos.

Há também uma instalação site-specific. Durante a montagem da exposição, conta Fernanda, ela passou alguns dias na galeria. “E, a cada um deles, escolhia um percurso diferente para caminhar pela vizinhança. Nesses percursos, fiz várias coletas de fragmentos que estão dispostos na instalação. Me interessa inverter as expectativas de dentro e fora, colocando em evidência esses fragmentos das ruas dentro do espaço expositivo”.

Fluido e caminhante

Outro trabalho que a artista destaca foi criado a partir de um lençol que, explica ela, foi usado durante muito tempo. “No entanto, quando chegou o momento de ser descartado, ele foi para o ateliê. Primeiramente, ficou no chão, acolhendo os respingos de tinta. Depois, me acompanhou em feiras, cobrindo a mesa, até que foi para a parede e, assim, virou superfície de trabalho”. Desse modo, com costuras de retalhos, escritas e diversos materiais, Fernanda foi compondo esse trabalho em tecido frente e verso. “Ele não tem uma forma específica de apresentação, é fluido e caminhante”, explana ela.

Sobre a artista

Fernanda Gontijo é formada em Comunicação Social, bem como pós-graduada em Processos Criativos em Palavra e Imagem e em Artes Plásticas e Contemporaneidade pela Escola Guignard (UEMG). Em 2020, a pesquisa dela foi contemplada pela Lei Aldir Blanc do Governo do Estado de Minas Gerais. Apresentou a exposição individual “Quando o tempo para e cai para todos os lados”, em 2021, no Café com Letras.

Tal qual, participou da mostra coletiva “Temporada de Verão”, na Casa GAL. Do mesmo modo, teve a exposição individual “Vejo os Meus Próprios Olhos” em 2022, também na GAL. Em 2023, Fernanda participou da exposição coletiva “Cultivando Incertezas”, na Galeria da Escola Guignard.

Serviço

Exposição “Num Instante” de Fernanda Gontijo

Onde. GAL (Rua Groenlândia, 50 – Sion) – @gal.art.br 

Quanto. Abertura: 23/05 (quinta-feira) | Encerramento: 13/07 (sábado)

Horário de visitação: terça a sexta-feira: 14h – 18h30 / sábado 10h – 14h | visitas em outros horários disponíveis sob agendamento (tel/ whatsapp: 31 9370-8998)

Quanto. Entrada Gratuita

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