Empréstimo para investir? Caça ao lucro pode virar dívida; entenda os riscos

Pedir dinheiro emprestado para investir pode parecer um contrassenso, mas a prática vem se tornando comum no País. Segundo levantamento da Serasa, o interesse em investir foi o que mais motivou brasileiros a simularem pedido de crédito em fevereiro, com 39% das pessoas apontando como objetivo usar o valor em produtos financeiros como CDB, Poupança, Tesouro Direto e fundos.

Na pesquisa “Mapa de Crédito” realizada pela Serasa com 1.396 entrevistados no mês passado, brasileiros simularam empréstimo no cartão de crédito (52%), cheque especial de contas digitais (25%) e empréstimo pessoal (18%) para investir. Opções como crédito consignado e com garantia em imóveis e veículos também foram simuladas com o mesmo objetivo. Os valores desejados se concentraram entre R$ 1 mil e R$ 5 mil.

Tomar empréstimo para investir é uma prática comum do mercado financeiro conhecida pelo nome de “alavancagem”. Entretanto, trata-se de um movimento de muito risco, utilizado por investidores experientes em produtos financeiros refinados, como derivativos e mini índices. Além disso, não é comum com produtos de renda fixa. 

Entenda, a seguir, os riscos da alavancagem para investidores iniciantes, segundo planejadores financeiros consultados pelo InfoMoney.

Empréstimo para investir vale a pena?  

Depende. Financiar a compra de imóveis ou veículos pode ser válido a depender da situação, mas dificilmente a mesma regra vale para aplicações financeiras, como explica a planejadora Rejane Tamoto. “O risco real é de pagar mais juros do que irá receber de rendimento. Quando a pessoa pega empréstimo paga juros sobre o dinheiro concedido, encargos e IOF. Quando aplica, o rendimento ainda é descontado de Imposto de Renda no resgate. A conta não fecha.”  

Como comparar os juros do empréstimo com o investimento?  

Dados do Banco Central ajudam a comparar os juros de um empréstimo com os rendimentos médios de aplicações financeiras.

  • Empréstimos: Em janeiro, a taxa média de juros do rotativo do cartão de crédito foi de 14,64% ao mês (415,3% ao ano); do cheque especial – que é o limite automático das contas de banco – foi de 7,05% ao mês (126,6% ao ano); do crédito pessoal foi de 3,57% ao mês (52,4% ao ano); e a média do consignado foi de 1,83% ao mês (24,3% ao ano).  
  • Investimentos: todos os juros de empréstimos ficam bem abaixo do entregue por aplicações financeiras de renda fixa. Elas são balizadas pela taxa Selic, que em fevereiro de 2024 estava em 11,25% ao ano, equivalente a 0,89% ao mês. O CDI, que regula a maior parte dos CDBs, foi de 0,80% em fevereiro, mesmo valor do Tesouro Selic com vencimento em 2025. A poupança, que tem um retorno menor ainda, rendeu 0,54% no mês.

Simulação: Tesouro Selic x consignado  

Com um rendimento de 0,89% ao mês, uma aplicação de R$ 1 mil no Tesouro Selic renderia R$ 8,90 no período de um mês. Já um empréstimo consignado de R$ 1 mil com taxa média de 1,83% ao mês deixaria um saldo devedor de R$ 18,30 em um mês. Quanto maior o valor e o período de resgate, maior a discrepância.

“Um cliente recebeu uma oferta de crédito com juros subsidiado de 6,9% + correção pela Selic no valor de R$ 150 mil. Trata-se de alguém que não precisa de crédito, só que o vendedor ofereceu como uma opção para investir no mercado financeiro. Disse que a taxa era baixa e que poderia investir em Taxa Selic e ganhar mais. Eu fiz o cálculo e, no final de 48 meses, o cliente teria um prejuízo de R$ 20 mil com os juros, em relação ao que poderia receber de rendimento em um investimento na taxa Selic”, conta Tamoto.   

Empréstimo para investir na Bolsa 

Nenhuma aplicação de renda fixa é capaz de vencer os juros de empréstimos. Mas e no mercado da renda variável?

Segundo especialistas, embora haja possibilidade de retorno superior, os riscos são grandes demais. Isso porque investimentos em ações, fundos imobiliários, fundos multimercado, criptomoedas e outros não oferecem previsibilidade em relação ao retorno.  

“São investimentos onde o risco de ganho e de perda não são passíveis de serem calculados. Ao entrar sem capital ou recursos próprios, usando dinheiro de terceiros, o risco é perder o dinheiro investido e entrar em uma espiral de endividamento e inadimplência”, diz Paula Sauer, planejadora financeira pela Planejar.  

E se o dinheiro for para “bets”?

Populares no Brasil, as chamadas “bets” são vistas como ainda mais arriscadas que o mercado de renda variável: enquanto os juros dos empréstimos são fixos e recalculados diariamente, apostas são jogos de azar e não têm garantia de ganhos. “É uma grande questão o sujeito que vai fazer uma aposta esportiva ou uma ‘fézinha’ no cassino dizer que vai investir. Não é um investimento”, afirma Sauer.

Como conseguir dinheiro para investir?  

Muito se fala em investir no mercado financeiro para ter uma reserva, diz Tamoto, mas pouco se fala sobre adquirir o hábito de poupar. “O primeiro passo é fazer sobrar dinheiro todos os meses para realmente investir o próprio dinheiro – não o do banco – e ver o patrimônio crescer sem se endividar”, recomenda a especialista. 

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