Depoimentos de aliados e militares à PF contrariam Bolsonaro e atestam segurança das urnas

Bolsonaro em evento com embaixadores no Palácio da Alvorada, em Brasília. Foto: reprodução

Durante os depoimentos à Polícia Federal (PF) sobre uma suposta trama golpista na gestão bolsonarista, pelo menos seis militares e civis enfatizaram a inexistência de fraudes nas urnas eletrônicas, conforme informações do Globo. Entre os depoentes estão ex-integrantes do governo e aliados próximos de Jair Bolsonaro, como o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.

Bolsonaro foi impedido de se candidatar até 2030 devido aos seus ataques ao sistema eleitoral. No ano anterior, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o condenou à inelegibilidade por oito anos devido à disseminação de informações falsas sobre as urnas eletrônicas durante um evento com embaixadores no Palácio da Alvorada, em Brasília.

Além de Valdemar, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, juntamente com os ex-comandantes Carlos Baptista Júnior (Aeronáutica) e Marco Antônio Freire Gomes (Exército), também se pronunciaram negando qualquer envolvimento em fraudes nas urnas eletrônicas.

Outros dois depoentes foram interrogados e também refutaram a existência de fraudes nas urnas eletrônicas. O sigilo desses depoimentos foi levantado na última sexta-feira por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Valdemar Costa Neto

Relatório para questionar resultado da eleição foi ideia de Bolsonaro, diz Valdemar Costa Neto | Política | Valor Econômico
Valdemar Costa Neto. Foto: reprodução

Valdemar disse que não concorda com as falas do ex-capitão sobre fraude nas urnas.

“Respondeu que não concorda com a fala do presidente Bolsonaro, pois já participou de várias eleições e nunca presenciou nada que desabonasse o sistema eleitoral brasileiro. Inclusive, orientou a bancada do partido a votar contra a implementação do voto impresso”, registra a PF.

Após o segundo turno das eleições, o PL entrou com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) questionando o funcionamento das urnas. No entanto, Moraes negou o pedido, pois o partido questionou apenas o resultado do primeiro turno.

O partido foi multado em R$ 22,9 milhões por litigância de má-fé, como mencionado no depoimento do presidente do partido. Ele afirmou ter sido pressionado por deputados e por Bolsonaro a ingressar com a ação no TSE.

Freire Gomes

Freire Gomes: Bolsonaro apresentou minuta a comandantes
Freire Gomes. Foto: reprodução

Durante questionamentos da PF, o ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes foi indagado se a Comissão de Fiscalização do Exército detectou fraudes no Sistema Eletrônico de Votação que pudessem comprometer a integridade das eleições de 2022. Em resposta, ele afirmou que não, reforçando que o relatório apresentado não apontou qualquer irregularidade.

Em 9 de novembro de 2022, o Ministério da Defesa enviou um relatório de fiscalização das urnas eletrônicas ao TSE. No documento, os militares asseguraram que os dados de totalização dos votos estavam precisos. Freire Gomes também destacou que Bolsonaro estava ciente de que a Comissão de Fiscalização Eleitoral não havia identificado fraudes nas eleições.

“Indagado se cumpriu a orientação do Ministério da Defesa e utilizou o Exército como órgão de questionamento das urnas eletrônicas com o objetivo de reeleger o ex-presidente Jair Bolsonaro, respondeu que não; que ressalta que atuou para manter a posição institucional do Exército, de forma imparcial. Indagado se acredita que houve fraudes nas eleições presidenciais de 2022 e se o Judiciário atuou de forma parcial, respondeu que não; que o relatório técnico da Comissão do Ministério da Defesa não evidenciou qualquer fraude no sistema eletrônico de votação”, disse Freire Gomes.

Baptista Júnior

Baptista Júnior foi chamado de “melancia” após reunião da minuta | Metrópoles
Baptista Júnior. Foto: reprodução

O ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Júnior também negou a existência de fraude e certificou que a Comissão do Ministério da Defesa não encontrou qualquer irregularidade.

“Indagado se anui com as declarações apresentadas pelo então Presidente da República sobre possíveis fraudes no sistema eleitoral e as urnas eletrônicas respondeu que não; que o depoente constantemente informou ao então Presidente da República Jair Bolsonaro de que não existia qualquer fraude no sistema eletrônico de votação”, disse Baptista Júnior.

Anderson Torres

Após depoimentos sobre reuniões golpistas, Anderson Torres quer acareação com Freire Gomes e Baptista Júnior
Anderson Torres. Foto: reprodução

O ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro, Anderson Torres, também negou ter conhecimento de qualquer fraude nas urnas eletrônicas. Em seu depoimento à PF, Torres afirmou nunca ter questionado a integridade do sistema eleitoral brasileiro. Ele ainda destacou sua discordância com as declarações do ex-presidente sobre a possibilidade de fraudes nas eleições.

Além disso, o ex-ministro declarou à PF que não tinha conhecimento de qualquer fraude eleitoral ou de parcialidade por parte do Poder Judiciário. Vale destacar que essas informações foram registradas durante o seu depoimento.

“Indagado se ratifica as palavras do então presidente Jair Bolsonaro de que haveria fraude nas urnas eletrônicas e consequentemente nas eleições presidenciais de 2022, respondeu que não; indagado se cumpriu a ordem do então presidente Jair Bolsonaro dada na reunião de 05.07.2022 para no âmbito do Ministério da Justiça, questionar a segurança das urnas eletrônicas e validar a narrativa de possíveis fraudes nas eleições de 2022, respondeu que não e que nunca questionou a lisura do sistema eleitoral brasileiro”, disse.

Bernardo Romão

Militar que estava nos EUA retorna a Brasília e é preso pela PF | Política | G1
Bernardo Romão. Foto: reprodução

O coronel de cavalaria do Exército, Bernardo Romão Corrêa Netto, também negou a ocorrência de fraudes nas urnas eletrônicas. Durante seu depoimento, ele admitiu que, após os questionamentos sobre a integridade das urnas eletrônicas no TSE, “não foi comprovada nenhuma fraude nas eleições”.

“Indagado se o questionamento das urnas eletrônicas no TSE comprovou a existência de fraudes nas urnas eletrônicas capaz de alterar o resultado das eleições presidenciais no segundo turno, respondeu que não ficou comprovado fraude nas eleições”, registra a PF.

Eder Lindsay

Éder Balbino acompanhado dos advogados de defesa — Foto: Reprodução/Tv Integração
Éder Balbino acompanhado dos advogados de defesa — Foto: Reprodução/Tv Integração

A PF também investigou Eder Lindsay Magalhães Balbino, um empresário suspeito de elaborar um dossiê sobre fraudes nas urnas eletrônicas, conhecido como o “gênio de Uberlândia”.

Durante o interrogatório, Balbino negou ter prestado qualquer tipo de assessoramento técnico a Bolsonaro relacionado a possíveis fraudes nas urnas eletrônicas durante as eleições presidenciais. Ele afirmou não ter encontrado indícios de fraude nas eleições de 2022 com base nos dados que recebeu, embora não possua um conhecimento profundo sobre o funcionamento das urnas eletrônicas.

“Que, diante dos dados que recebeu, não viu absolutamente nada que vislumbrasse qualquer fraude nas eleições brasileiras de 2022, apesar de não conhecer a fundo urnas, eleições, esse tipo de coisa”, registra a PF.

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