Renan Ribeiro lança ‘Falando ‘sôzinho’ e outras crônicas’

Renan Ribeiro
Algumas das crônicas presentes no livro de Renan Ribeiro foram publicadas na coluna “É logo ali”, na Tribuna (Foto: Jéssica Pereira e Rafaela Frutuoso/ Divulgação)

Da Zona Norte à Zona Sul, a distância é extensa. Sobretudo quando dentro de um ônibus urbano, ela pode ser ainda maior e permeada de pequenos mundos que ficam ali, esperando para serem percebidos, captados, transformados em outras coisas. No caso do jornalista Renan Ribeiro, ele transformou tudo isso em crônica: um punhado do dia a dia que não necessariamente é notícia, mas que, ancorado no gênero, ganha, também, as páginas dos jornais. Esses seus textos agora podem ser lidos juntos, no livro “Falando ‘sôzinho’ e outras crônicas“, que é lançado neste sábado (23), a partir das 11h, na Sala de Leitura da Praça CEU. Os exemplares vão ser distribuídos autografados gratuitamente no dia.

Renan é ex-repórter da Tribuna, lugar em que, além de escrever sobre as notícias da cidade e da região, mantinha a coluna de crônicas “É logo ali”. Virar cronista, de acordo com ele, aconteceu a partir de sua vontade de escrever mais sobre as coisas que lia, para além do que entraria no jornal. “Tem coisas que a gente presencia, observa e vivencia e que acabam ficando de fora. Existia uma inquietação e uma necessidade de falar das coisas que estavam fora dessa vivência diária do jornalismo”, afirma.

Isso ficou ainda mais claro quando, em uma das vezes que fazia o trajeto de volta para a casa, da Zona Sul para a Zona Norte (onde morou por 32 anos), no ônibus urbano, presenciou um caso que o chamou atenção: “Em janeiro de 2017, eu vi um homem tendo uma convulsão dentro do ônibus. Isso me impactou. A forma como tudo aconteceu. Tinham pessoas que estavam em um curso de Enfermagem que contornaram a situação de maneira cinematográfica. Foi tudo muito articulado e rápido. E eu fiquei sem fôlego, porque o que eu poderia fazer dentro daquela situação para ajudar? Nada. Então, eu só observei”.

‘Virei cronista’

A prática do jornalismo, realmente, aguça esse olhar cuidado às cenas cotidianas. E o costume de transformar imagens em texto é também corriqueiro. “Aquela cena não era exatamente uma notícia. mas eu senti que tinha que compartilhar aquilo com alguém. Eu fiquei muito inquieto, sentei, e enquanto eu não escrevi sobre aquilo não consegui dormir. Senti que aquele texto não era só meu e compartilhei nas redes sociais”, conta Renan. A postagem foi feita. “Virei um cronista.” O convite para fazer a “É logo ali” foi feita, e os textos saiam semanalmente.

Ter esse compromisso com a coluna, fez com que Renan passasse a observar ainda mais as cenas que o rodeavam. A maioria dos textos de Renan são, realmente, fruto da observação feita nos caminhos. “Eu sempre falo que o óbvio precisa ser dito”, acredita. Qualquer episódio à vista poderia ser tema. “A gente passa pelas coisas comuns sem observá-las com o cuidado que elas precisam ser observadas. A gente passa pelas coisas e precisa olhar para elas com um pouquinho mais de cuidado. Escrever sobre isso é também um exercício de parar para observar aquilo que está sempre próximo da gente, que a gente nunca parou para prestar atenção. É uma oportunidade que você se dá de olhar de uma maneira diferente para o mundo. Eu acho que é esse o barato da crônica: permitir a você mesmo ter uma percepção diferente sobre qualquer aspecto da vida.”

Como essas situações poderiam acontecer a qualquer momento, Renan passou a anotar esses detalhes. Foi o jeito que encontrou para que as memórias do que via ficassem sempre vivas, a qualquer momento. “Eu guardo coisas aleatórias na cabeça com muita facilidade. Eu guardo coisas que me tocam profundamente, e eu sei contar com riqueza de detalhes. Minha memória afetiva e emocional a respeito das coisas é forte, ao contrário da minha memória prática. E isso me ajuda a contar as coisas. Ela me coloca em um ponto de observador que me ajuda a trazer esse envolvimento com a cena”, explica.

Renan Ribeiro
Eu acho que é esse o barato da crônica: permitir a você mesmo ter uma percepção diferente sobre qualquer aspecto da vida”, afirma Renan Ribeiro (Foto: Jéssica Pereira e Rafaela Frutuoso/ Divulgação)

Construção de “Falando ‘sôzinho’ e outras crônicas”

Quando se viu de frente para mais de 100 crônicas, percebeu que ali poderia ter um livro. Os textos de “Falando ‘sôzinho’ e outras crônicas” foram escritos a partir de 2017 e a maioria foi publicada na coluna “É logo ali”. Outras crônicas mais recentes, feitas no processo de elaboração livro, foram incluídas. “Escolher as crônicas foi um processo de descoberta. Eu fui ver o que encaixava. E, as que já estavam prontas, nós fizemos um trabalho de revisitar cada palavra. Foi interessante esse passeio.” Passeio esse que, além de falar do próprio autor, conta também sobre as histórias e as nuances da cidade.

“Falando ‘sôzinho’ e outras crônicas” está dividido em três partes: “O aqui e agora” passa pelos ambientes e sentimentos mais internos de Renan, das coisas que o formaram; “Pandemia: hiato de mais de dois anos que divide dois mundos”, sobre a forma como esse período afetou todas as percepções; e “Pelas ruas da cidade”, que foca na relação dele com os pontos de Juiz de Fora e as pessoas. O primeiro e o último capítulo têm crônicas de diferentes períodos, enquanto o da pandemia foca naquele tempo. “Eu fiquei muito surpreso de ver, quando eu estava montando o esqueleto do livro, como isso ficou demarcado. E ficou muito fácil de ver como a pandemia representa uma cisão na nossa maneira de ver o mundo, e isso perdura. E não voltou a ser normal, o sentido de normalidade caiu.”

Viver a cidade e as distâncias

Outra percepção interessante é em relação, exatamente, à presença dos caminhos, que permeia, de certa forma, todo o livro. “Eu passava muito tempo em caminhos, andando para chegar, e, por isso, sempre tive a ideia de distância das coisas. E eu sabia o quanto as coisas eram longes e distantes. E também o quanto as pessoas não têm ideia e dimensão do tamanho da cidade. E a distância não é só geográfica: leva em consideração várias coisas. Então, todas essas peculiaridades me interessam, e é isso que eu queria trazer também, que eu acho importante que as pessoas conheçam mais a cidade como um todo. As outras regiões da cidade também são vibrantes.”

Assunto recorrente é também os caminhos dentro do ônibus – como aquilo que aconteceu na primeira crônica que escreveu. E ele justifica: “Eu acredito que os ônibus são como micro sistemas, porque dá para perceber muitas coisas: organização social das cidade até o serviço mesmo, em uma viagem. E é interessante como, às vezes, a gente não se dá conta de como as relações são complexas, mas quando você está sentado ou em pé em uma viagem de ônibus, dá para pensar em um sociedade inteira. E está tudo escrito ali”.

Lançamento na Praça CEU

Para o lançamento de “Falando ‘sôzinho’ e outras crônicas”, Renan escolheu a Praça CEU exatamente pelo o que ela representa para a Zona Norte e também pela relação que teve com o espaço naquele momento do começo do fim da pandemia. “Lá foi meu refúgio, o meu primeiro contato com o mundo após a pandemia”, justifica. O livro teve financiamento do Edital Murilão, que faz parte do Programa Cultural Murilo Mendes, e é mantido pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) por meio da Funalfa.

O post Renan Ribeiro lança ‘Falando ‘sôzinho’ e outras crônicas’ apareceu primeiro em Tribuna de Minas.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.