Novos rótulos, marketing e uma aposta além da cerveja: como a Petrópolis tenta voltar a crescer

Em março de 2023, a vida de Marcelo de Sá, CFO do Grupo Petrópolis, teve um “pequeno” dissabor. Assim que a dona das marcas de cerveja Itaipava, Petra e Crystal resolveu aderir a um plano de recuperação judicial, com dívidas avaliadas em mais de R$ 5 bilhões, pipocaram no celular do executivo mensagens de fornecedores atônitos – ao todo, são mais de 5.000 credores. “O primeiro dia foi uma loucura. Todo mundo me ligou para entender o que estava acontecendo. Foi uma grande experiência, que nos aproximou dos fornecedores, muitos dos quais nunca tínhamos tido um contato mais próximo antes”, disse o executivo em entrevista ao IM Business.

Quase um ano após a decisão, a Petrópolis admite ter liquidado a dívida com cerca de 20% de seus credores e vendido sua frota de caminhões – outrora uma das maiores do país – para a Vamos por R$ 575,3 milhões. Dos 2.923 veículos repassados na transação, 2.390 ainda prestam serviços para a Petrópolis via locação.

O plano de desinvestimentos da empresa também prevê a venda de seu parque de geração de energia, com seis pequenas centrais hidrelétricas com capacidade instalada combinada de 106 MW. Estuda-se, ainda, a venda da participação do grupo em ativos do agronegócio.

Sá acredita que a Petrópolis – terceiro maior grupo cervejeiro do país, com 12,1% de participação – tem tudo para voltar a registrar um crescimento robusto e elevar sua fatia para 15%, em linha com o registrado em 2021. Para isso, aposta no retorno dos investimentos em marketing e no lançamento de novos rótulos – algo esquecidos desde a pandemia. “Cerca de 70% dos nossos investimentos nos próximos anos será em marketing, até para alavancar as vendas e fortalecer a marca”, aponta.

Hoje, o grupo possui capacidade instalada para produzir 55,4 milhões de hectolitros de bebidas em suas oito unidades fabris no país – a última e mais moderna foi inaugurada em 2020 em Uberaba (MG), com investimento de mais de R$ 1 bilhão. Atualmente, metade dessa capacidade fabril está ociosa – mas Sá, que enxerga o copo meio cheio, vê isso como uma oportunidade caso o mercado cervejeiro volte a borbulhar.

“Estamos produzindo 28 milhões de hectolitros, o que nos dá, em caso de reaquecimento do mercado, capacidade para atender a demanda a qualquer momento”

— Marcelo de Sá, CFO do Grupo Petrópolis

Na linha de produtos, uma das apostas da cervejaria no momento é a Go Draft, chope engarrafado que passou por uma remodelação para voltar ao mercado. A empresa também tem ampliado os esforços para crescer além da cerveja, nos chamados “não alcoólicos”, com refrigerantes, energéticos e isotônicos.

A diversificação não é à toa. Pesquisas apontam que os jovens estão mais preocupados com a saúde, buscam um estilo de vida saudável e, por isso, consomem menos álcool. O energético TNT, por exemplo, hoje é produzido apenas na fábrica de Teresópolis, no Rio de Janeiro, mas a ideia da Petrópolis é espalhar essa produção por outras unidades.

“A tendência é o jovem consumir mais os produtos ‘zero açúcar’, e estamos acompanhando esse movimento”, diz Sá. A empresa afirma que o volume de vendas de energético cresceu 53% em 2023 ante 2022.

Para viabilizar o futuro da companhia, a Petrópolis projeta um desembolso de R$ 4,1 bilhões até 2035, sendo que a maior parte desse montante virá apenas a partir de 2030. Já para 2024, o relatório de viabilidade econômica da companhia estima uma receita líquida de R$ 10,3 bilhões.

Com balanços auditados pela E&Y desde 2020, a empresa estuda a possibilidade de um IPO no futuro. Hoje, pertence à família do empresário Walter Faria. “O nosso desafio neste momento é resolver a questão da recuperação, mas seria importante trabalhar com a ideia de um IPO ou outras hipóteses para o futuro. A gente estava caminhando para isso. Temos comitês e conselho e aprimoramos a governança”, revela Sá.

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