“Gabinete do crime”: MP acusa policiais de SP por extorsão a empresários

Contagem do dinheiro de propina era feita no escritório dos advogados das vítimas em Indaiatuba, segundo investigação do Ministério Público. — Foto: Reprodução/Fantástico

No último domingo (31), o Fantástico expôs um esquema chocante envolvendo policiais e agentes públicos que extorquiam dinheiro de empresários no interior de São Paulo.

Conforme detalhado pelo Ministério Público, o grupo operava através de ações policiais, confiscando mercadorias e fabricando irregularidades para pressionar o pagamento de propinas vultosas.

Em Indaiatuba, localizada a 110 quilômetros da capital, a polícia confiscou 23 veículos de uma concessionária, além de outros bens dos empresários e mercadorias, transportados em dois caminhões fornecidos pelos policiais.

Um promotor envolvido na investigação relatou que os policiais invadiam os estabelecimentos sem mandado judicial e acusavam os empresários de crimes.

As vítimas eram então conduzidas à delegacia, onde ocorria a extorsão. “A gente acabou vendo que vocês têm crime de lavagem dinheiro, crime de mercadoria falsificada, de formação de quadrilha, de porte ilegal de arma, abuso sexual”, disse uma das vítimas em depoimento.

Em troca da promessa de esquecer todas as acusações anteriores e devolver as mercadorias, os policiais exigiam uma quantia de 3 milhões de reais, como lembrou uma das vítimas em seu depoimento.

A polícia de Indaiatuba apreendeu 23 carros de concessionárias de empresários em esquema de extorsão envolvendo agentes públicos. — Foto: Reprodução/Fantástico
23 carros de concessionárias de empresários em esquema de extorsão foram apreendidos pela polícia. — Foto: Reprodução/Fantástico

O suposto líder da organização criminosa é identificado como Clésio de Oliveira Filho, delegado titular do Primeiro Distrito Policial de Indaiatuba. O local funcionava como um “gabinete do crime”, onde as vítimas eram selecionadas e os valores das propinas eram acertados.

Os empresários relataram ter participado de uma reunião na delegacia, acompanhados pelo advogado Hélio dos Santos Júnior, sócio de Rubens. Durante o encontro, foram confrontados pelos policiais civis André da Silva e Carla Moreira, pelo guarda municipal Jackson da Silva e por Márcio Pereira Mendes, que não era policial.

“Era a Márcio ‘treme-treme’ que conduzia, mas a pessoa que mais humilhava era a Carla. Era uma cara de deboche, uma cara de humilhação como se a gente fosse qualquer pessoa na frente dela. Autoridade em cima da gente”, disse uma das vítimas em depoimento.

“Eles tinham colocado umas drogas na mesa e se a gente não resolver, não fizer acordo, eles iriam falar alguma coisa desse naipe pra incriminar a gente”, afirmou outra vítima não identificada.

Após negociações intensas, chegou-se a um acordo de propina no valor de 1 milhão de reais, com pagamento inicial de 500 mil reais e parcelas semanais de 25 mil reais.

Os empresários foram liberados juntamente com suas mercadorias, e na delegacia foi registrado um boletim de ocorrência afirmando que as notas fiscais dos produtos apreendidos haviam sido apresentadas.

Prisões

Vale destacar que, nesta semana, foram presos o delegado Clésio, os dois investigadores, o guarda municipal e outros envolvidos. Os três advogados dos empresários, Rubens Filho, Hélio dos Santos Júnior e Marcelo Savioli, também foram presos acusados de ter participação no crime.

Fábio Moraes, um funcionário da Secretaria Municipal de Assistência Social de Indaiatuba, também foi capturado. Seu papel era intimidar os comerciantes para forçá-los a pagar propinas.

Segundo o Ministério Público, o “gabinete do crime” era composto por 14 pessoas, incluindo policiais, agentes públicos e outros indivíduos. “É um grupo formado estrategicamente para que cada um deles pudesse contribuir com essa atuação coletiva”, afirmou o promotor Paulo Carolis.

Dos 14 suspeitos, 13 estão sob custódia, enquanto Márcio Pereira Mendes permanece foragido. O Ministério Público já identificou novas vítimas e solicitou o bloqueio de até R$ 10 milhões nas contas de cada um dos investigados.

Os promotores enfatizaram que os advogados, que deveriam proteger os interesses de seus clientes, se envolveram no esquema criminoso. “Os advogados nesse caso atuaram contribuindo para que essa extorsão e essa propina fosse efetivamente paga”, disse o promotor Paulo Carolis.

No depoimento, um sócio de uma concessionária relatou que, através do advogado Marcelo Savioli, foi ameaçado de ser acusado de lavagem de dinheiro caso não realizasse um acordo financeiro de R$ 1 milhão com os criminosos.

“O negócio é o seguinte: você tá tudo errado. Se você não fizer um acordo com os caras, você vai ser preso”, relembrou o sócio, que não identificado. A contagem e pagamento das propinas eram realizadas no escritório dos advogados, conforme as investigações.

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