Dólar, Ibovespa e juros: como o mercado reagirá nesta 5ª às decisões de Fomc e Copom?

Painel de cotações

Dólar seguindo em queda, ajuste na curva de juros, mas visão ainda nebulosa sobre impacto no mercado acionário. Esse deve ser o saldo que a “Super Quarta” para o mercado, com as decisões de juros do Federal Reserve e do Banco Central do Brasil, trará para o pregão da próxima quinta-feira (19).

A decisão do comitê de mercado aberto do Fed (ou o conhecido Fomc) já havido agitado e muito o mercado desde às 15h (horário de Brasília) de quarta (18), com o Ibovespa chegando a zerar as perdas e o dólar cair mais de 1% com o corte de 0,5 ponto percentual dos juros nos EUA, para depois o índice fechar em baixa de 0,90% e a moeda americana cair “apenas” 0,47%.

Isso com o mercado enfrentando um dilema, entre temores do mercado sobre uma possível desaceleração forte dos EUA que motivou o ajuste mais intenso, ao mesmo tempo em que o presidente do Fed, Jerome Powell, buscou calibrar em coletiva a visão do mercado sobre um possível ciclo de cortes agressivos das taxas, indicando que os próximos passos ainda serão dependentes de dados.

Com o debate sobre os próximos passos do Fed ainda no radar, mas com visão certa de cortes à frente, o real deve se beneficiar, principalmente com a alta dos juros de 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, anunciada pelo Banco Central brasileiro.

Alan Martins, analista da Nova Futura, ressalta que, apesar da alta mínima (levando em consideração que estava em aberto uma elevação de 0,5 ponto pelo BC local), o tom do comunicado do Copom foi hawkish (duro sobre preocupação com a inflação e com visão de novas altas). O Copom não somente deixou em aberto a opção de acelerar o ritmo, como também não se propôs a colocar uma taxa terminal para o ciclo, o que acaba deixando condicional a convergência da expectativa de inflação para a meta.

Assim, para esta quinta, o analista vê o dólar seguindo em queda por conta do movimento de carry trade (em que o investidor toma dinheiro emprestado barato em moeda forte e depois investe em outra com rendimentos mais elevado). Para os juros futuros, vê alta nos vencimentos mais curtos com uma visão de mais altas no curto prazo, ao mesmo tempo que deve haver uma queda nos vencimentos mais longos.

Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, também espera uma queda do dólar com as sinalizações do Copom da noite desta quarta.

“A Super Quarta de hoje trouxe alguns movimentos para o mercado e boa parte deles já foram precificados nos ativos ainda hoje após a decisão do Fomc. Nesse sentido, teve um corte mais intenso dos juros por lá. Esse corte mais intenso mostra justamente um caminho mais límpido e vetores mais brandos para a economia doméstica. Já em relação ao comunicado do Copom, nós tivemos o menor reajuste da taxa de juros possível, mas esse reajuste veio acompanhado de uma sinalização dura por parte do Banco Central, ainda que sem guidance”, avalia a economista.

Para ela, a sinalização mais dura- a despeito de que a queda tenha sido menor do que o estimado por alguma parcela do mercado – deve trazer um ajuste de alta das taxas “para o meio da curva de juros”.

Contudo, cabe destacar que, durante a noite, o dólar subia em negociações voláteis ante os principais pares globais, com o mercado repercutindo principalmente as falas de Powell.

De qualquer forma, conforme destacou Vassili Serebriakov, estrategista de câmbio e macro do UBS, “a maneira como pensamos nisso antes do anúncio é que um corte de 50 pontos-base é negativo para o dólar. Se eles tivessem feito um corte de 25 pontos-base, haveria diferentes cenários em que o dólar poderia se comportar. Mas um corte de 50 pontos-base é inequivocamente negativo para o dólar”.

Renda variável

Com relação aos ativos de renda variável, a economista da CM Capital espera um movimento positivo da Bolsa brasileira a despeito dos juros em alta. Na visão de Carla Argenta, o movimento deve ocorrer por conta de um reajuste da Selic que de início não deve ser tão elevado, em primeiro lugar.

Um segundo ponto é que esses ativos são em alguma magnitude muito afetados também pelo mercado de ações global. “Assim, esse movimento internacional, que agora tende a ser um pouco mais positivo e deve levar a uma recíproca de forma mais intensa, pode sustentar junto com essa política monetária doméstica alta dos ativos ainda nesse pregão de quinta”, aponta.

Olhando para ações específicas, o analista da Nova Futura aposta em um melhor desempenho para bancos como Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil, além de BB Seguridade (BBSE3) e Porto Seguro (PSSA3).

Entre as ações que podem cair na próxima sessão, o analista vê potencial de queda para os papéis de varejo em geral, com destaque para os com mais prêmio, com Magazine Luiza (MGLU3) e Grupo Casas Bahia (BHIA3) podendo ser afetadas.

O analista, por sua vez, destaca ter dúvidas sobre como as construtoras devem reagir no pregão de quinta, vendo um impacto negativo maior para as construtoras de baixa renda, como o caso de Tenda (TEND3).

Além disso, com o dólar com potencial de queda, empresas que possuem receitas atreladas ao dólar, como exportadoras – caso de Suzano (SUZB3) e os frigoríficos Marfrig (MRFG3) e JBS (JBSS3) – também podem sofrer na próxima sessão.

Felipe Sant’ Anna especialista em mercado da mesa proprietária Star Desk, vê que as ações ligadas a setores que precisam de crédito, como construtoras, tecnologia, turismo e varejo, ficam prejudicadas pelo “dinheiro mais caro” que impõem uma Selic mais alta e podem sofrer no curto prazo.

O especialista também destaca ser importante monitorar, nas próximas horas, qual será a posição do governo e de sua equipe econômica em relação ao anúncio, visto que Gabriel Galípolo, indicado por Lula para o próximo mandato à frente do BC, votou favoravelmente ao aumento, o que antes gerava críticas efusivas à atuação de Roberto Campos Neto.

Na noite desta quarta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica do Federal Reserve veio atrasado, mas deve iniciar um ciclo de cortes duradouro que deve seguir “sem surpresas” em 2025 e 2026 e que dará alívio doméstico ao Brasil.

Questionado por jornalistas na Fazenda sobre a alta de 0,25 ponto percentual na taxa Selic pelo Copom, Haddad disse que não se surpreendeu com o ajuste, mas que não irá comentá-lo até ler a ata da reunião.

(com Reuters)

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