Ricardo Nunes comandou a pior gestão dentre as capitais brasileiras

Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo. Foto: Rodilei Morais/Estadão

Por Márcio Chaer, no Conjur

Dentro de duas semanas, eleitores de todo o país escolherão os administradores de suas cidades pelos próximos quatro anos. Como acontece em países com o grau evolutivo do Brasil, a qualidade das ideias e da capacidade dos eventuais gestores pesa pouco na hora do voto.

Talvez porque os martírios do dia a dia do munícipe sejam considerados “pequenos direitos” que, por sua aparente miudeza, não chamam a atenção como as “grandes causas” levadas aos tribunais.

Uma das razões para a falta de guias de orientação é a inexistência de métricas de resultados das gestões dos que concorrem no cargo à reeleição que são, disparado, os favoritos nas disputas.

No ranking da transparência e eficiência da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), a Prefeitura de São Paulo, por exemplo, sequer aparece no mapa — enquanto a do Rio de Janeiro é considerada “padrão ouro”.

Falha geológica

Em outro levantamento, esse feito pela Folha de S.Paulo, as posições se invertem. A prefeitura paulistana aparece em 60º lugar, enquanto a carioca fica bem atrás. Esse estudo, contudo, tem uma inadequação. O ranking de eficiência do jornal aferiu a eficiência e gastos nas áreas de saúde, educação e saneamento, cotejando-os com a receita per capita de cada cidade.

A falha geológica do levantamento é que as três áreas escolhidas têm pouca ou nenhuma ligação com a capacidade administrativa do prefeito no cargo. Trata-se de estruturas que o prefeito não construiu. Os contratados por gestões passadas só seguem fazendo o que já faziam. O prefeito recebeu a máquina em funcionamento. Quando muito, ele pode piorá-la.

Os quesitos que não foram e deveriam ser examinados são aqueles relacionados aos serviços prestados diretamente pelos administradores eleitos e pelos cabos eleitorais que eles contratam para gerir secretarias, administrações regionais e demais órgãos executivos.

É nesse ponto que a gestão da maior capital brasileira, comparada às demais, é quem presta o pior serviço do país. A saber: nos prazos para obter alvarás (demolição, construção, etc), a certidão chamada de “Habite-se” e serviços do dia a dia, como reparação de vias públicas, poda ou extração de árvores e serviços semelhantes.

Falta de manutenção nas ruas de São Paulo. Foto: Alex Silva/Estadão

Zeladoria Zero

Uma consulta aos sites das prefeituras das dez maiores capitais brasileiras coloca a de São Paulo na última posição na maior parte dos quesitos. O que não está nos sites é a demora real para a prestação dos serviços — o que abrange não só a administração atual, mas as anteriores, governadas pelo mesmo grupo político.

A Folha de S.Paulo, em notícia e editorial, no ano passado, descreveu o calvário de quem mora na capital paulista. E divulgou um número que pode ser a ponta de um iceberg: os paulistanos registram, por dia, 1.221 queixas por causa do tormento do lixo, árvores ameaçadoras, calçadas e pistas arrebentadas. Não atendidas.

Isso pode ter relação com o fato de que mais da metade dos moradores de São Paulo mudaria de cidade se pudesse. Foi o que apurou um levantamento do Datafolha. Entre os paulistanos, são 51% os que gostariam de ir embora da cidade.

Cidade travada

Em São Paulo, quem quiser remover uma árvore que ameaça vidas, de frente da sua casa, pode ter que esperar dez anos ou mais e só conseguir resolver o problema com ordem judicial. Um alvará de demolição costuma demorar 3 anos. Um bueiro sem tampa, 4 anos.

A eleição deste ano na capital paulistana vai demorar mais que o de anos anteriores. As obras que não foram feitas em 3 anos e meio da gestão de Ricardo Nunes foram todas adiadas para as vésperas da eleição. A cidade travou. A prefeitura vem sendo interpelada pela falta de licitações para obras que, por não terem sido empreendidas antes, tornaram-se “urgentes” agora.

Na prefeitura, Ricardo Nunes é visto como braço direito do, nominalmente, secretário de governo do município, Edson Aparecido. Administrador hábil, Aparecido tornou-se um dos políticos mais ricos do país. Voz influente na contratação de empresas de ônibus e coleta de lixo, foi bastante prestigiado pelo empresariado na candidatura para o Senado. Bom gestor, foi quem menos gastou na campanha.

Como secretário da Saúde, organizou de forma eficiente a ordem de prioridades para a tão cobiçada vacina contra a Covid-19.

Empresários, jornalistas e políticos elogiaram bastante o seu trabalho. Mas como ninguém está imune a maledicências, Aparecido foi acusado de ter ajudado empresas da área da saúde de seus amigos, em detrimento de concorrentes a quem acusou de matar em seus hospitais clientes infectados pelo coronavírus.

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