Dólar: diferença de juros faria moeda cair, mas não é tudo – fiscal precisa ajudar

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Até a última quinta-feira, o dólar engatava uma sequência de sete sessões de perdas com as visões de enfraquecimento da moeda ante o real com corte de juros pelo Federal Reserve – que foi de 0,5 ponto percentual – e de alta de 0,25 ponto pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

Isso porque, conforme ressalta a Ágora, o saldo final após as decisões monetárias no Brasil e nos Estados Unidos, é um aumento sequencial do diferencial de juros entre as duas economias, que favorece as operações de carry trade (ou carrego).

“O carry trade é um mecanismo muito utilizado por investidores para tentar obter lucros com base na diferença entre a taxa de juros de dois países. Esse tipo de operação costuma ter forte impacto no câmbio, mexendo com o preço do dólar ante o real, por exemplo”, ressalta a casa. Os estrategistas avaliam que, neste contexto, é coerente esperar um cenário de fortalecimento do real ante o dólar no médio prazo, a partir da entrada de fluxo de capital estrangeiro no país para aproveitar esse diferencial de juros.

Contudo, na sexta-feira e na segunda, o dólar registrou alta e voltou a superar os R$ 5,50, principalmente por conta do cenário fiscal no Brasil. Investidores ainda digerem os números do relatório bimestral de receitas e despesas divulgados na última sexta-feira à noite com contenção menor de gastos; na sexta, especialmente, a divisa subiu 1,78%, enquanto avançou 0,25% na segunda.

Analistas de mercado ressaltam que o real se beneficia da queda nas taxas dos EUA, mas o fiscal precisa ajudar.

“Um cenário de aumento significativo do risco fiscal – que coloque em dúvida a solvência da dívida pública do país – pode naturalmente reduzir o apetite para esse tipo de estratégia e provocar uma fuga de capital, que por sua vez causaria uma elevação na cotação do dólar frente ao real”, ressalta a Ágora.

O BTG Pactual reforça também que o real deve naturalmente se valorizar com a queda nas taxas de juros dos EUA e o aumento da Selic, mas uma valorização mais acentuada do real (talvez para R$ 5) só se materializaria se o compromisso do governo com o teto de gastos se tornar claro e medidas concretas para controlar o crescimento das despesas obrigatórias forem adotadas.

Enquanto isso, mudanças estruturais adicionais no Orçamento de 2025, uma vez passadas as eleições municipais de outubro, seriam recebidas com entusiasmo pelo mercado.

As medidas para tornar o orçamento mais flexível, como desvincular os gastos com saúde e educação do crescimento da receita tributária, embora improváveis, poderiam reduzir materialmente o diferencial entre as taxas reais de longo prazo do Brasil e dos EUA.

Consequências do anúncio do governo

O relatório bimestral anunciado na sexta trouxe redução do congelamento total de gastos, que considera bloqueio e contingenciamento, de R$ 15 bilhões para R$ 13,3 bilhões. Embora parte dos analistas acredite que o governo vá cumprir a meta de resultado primário deste ano utilizando a banda de tolerância (0,25% do PIB), os números foram mal recebidos.

Na visão do economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, as projeções tanto de receitas quanto de despesas trazidas pelo relatório “são questionáveis”. Ele observa que as receitas superaram as previsões em razão do crescimento acima do esperado da economia e questiona a capacidade de o governo cumprir as metas quanto a atividade desacelerar.

“O governo até pode cumprir a meta desde ano (considerando o intervalo de tolerância), mas a desconfiança com relação ao compromisso com a sustentabilidade das contas públicas só aumenta, o que se reflete no prêmio de risco embutido nos preços dos ativos brasileiros”, afirma Olivares.

O economista-chefe do Banco Fibra, Marco Maciel, observa que, apesar de ganhos de credibilidade por parte do Banco Central, com a alta da taxa Selic em 0,25 ponto porcentual na semana passada, em decisão unânime, o real ainda sofre com a questão fiscal.

“Uma parte da credibilidade na política monetária foi adquirida, mas a aversão ao risco continua, como mostra o juro longo brasileiro, que não caiu mesmo com o BC mais hawk (duro)”, afirma Maciel. “O que está pesando no juro longo e no câmbio é o fiscal, com perspectiva de menor contenção de despesas e alguma frustração de receitas”.

Maciel afirma que o prêmio de risco sugerido pelo juro longo é compatível com uma taxa de câmbio no intervalo entre R$ 5,60 e R$ 5,70. Caso o BC tivesse optado por uma alta maior da Selic, de 0,50 ponto porcentual, poderia haver um algum alívio adicional, levando a um câmbio menos desvalorizado. “Apesar de tudo, acho que o juro longo está até um pouco exagerado. Se o governo fizer tudo direitinho, as taxas recuam um pouco e vamos para um câmbio entre R$ 5,40 e R$ 5,50 no fim do ano.”

(com Estadão Conteúdo)

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