Folha força “radicalismo” em Boulos e Marçal para beneficiar Nunes. Por Luis Felipe Miguel

Editorial da Folha de S.Paulo. Foto: Reprodução

No sábado, a Folha de S. Paulo publicou editorial intitulado “Maioria paulistana mostra repelir radicalismo”. Era para comemorar os dados do último levantamento do Datafolha, que uma vez mais colocavam Ricardo Nunes como favorito na eleição para a prefeitura da capital paulista.

A repulsa ao radicalismo seria demonstrada pela taxa de rejeição dos candidatos considerados radicais. Há um erro lógico no título – para que a “maioria paulistana” repelisse o radicalismo, mais de 50% dos entrevistados teriam que rejeitar simultaneamente todos os candidatos “radicais”, mas esse percentual não é alcançado por nenhum deles.

Normal: a gente sabe que os editoriais do jornal da Barão de Limeira nunca foram famosos por sua qualidade.

O principal é a taxa de rejeição crescente no caso de Pablo Marçal. A Folha foi um dos veículos que ajudou a transformar o charlatão e estelionatário condenado em centro da eleição deste ano. Não teve praticamente um dia em que ele não estivesse mencionado na capa do jornal e recebesse pelo menos uma página de cobertura. Agora, se diz aliviada com o provável fiasco eleitoral do candidato.

Pablo Marçal é, sem dúvida nenhuma, um despreparado, uma pessoa que entrou na disputa com uma estratégia disruptiva, que objetivava causar bastante burburinho e tumultuar o debate. Mas em que sentido ele é verdadeiramente radical?

Nem é só que ele não vai à raiz de nada, fica na superfície, quando não acima dela, nos teleféricos ou no topo do edifício de 1 km de altura. Mas ele não apresenta a seus eleitores nenhum programa, apresenta apenas uma imagem. Se é um radical, é apenas um radical da bravata e do deboche.

Candidatos à Prefeitura de São Paulo: Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal (PRTB). Foto: Reprodução

O outro radical que aparece com alta rejeição entre os eleitores, segundo a Folha, é Guilherme Boulos. O editorial reconhece que o radicalismo do candidato do PSOL não é mais lá aquelas coisas; nas suas palavras, ele “já foi a culto evangélico, deixou de bajular a ditadura venezuelana e até disse que fará a integração de posse em terreno invadido”.

Ainda assim, sua “elevado a taxa de rejeição parece cristalizada”. O engraçado é que a Folha não discute seu papel na construção da imagem de Boulos e do MTST como “perigosos radicais”, a serem combatidos pelo cidadão de bem. É como se fosse um fato da natureza, não uma construção discursiva.

Nisso, Ricardo Nunes surge como a voz da moderação, portanto como a escolha sensata do eleitorado – ainda que a Folha reconheça que o atual prefeito faz uma péssima administração.

Eu queria entender onde está a virtude dessa moderação. Nunes está pronto para passar pano para o golpismo bolsonarista, logo admite uma ditadura, na medida em que julga que isso serve aos seus interesses eleitorais. Nunes compactua com o negacionismo antivax, na hora em que parece conveniente. Nunes escolheu como vice um símbolo da brutalidade policial e do desrespeito aos direitos humanos. Nunes está cercado de máfias que parasitam o orçamento público, porque isso é essencial a seu projeto de poder.

Moderado? Ricardo Nunes talvez seja melhor descrito como um radical do oportunismo.

Mas é essa a visão do jornal paulistano. Pode usar palavras bonitas, pode posar de crítico implacável de tudo e de todos, mas, no final das contas, milita contra um debate político esclarecido, contra qualquer possibilidade de confronto real entre projetos de cidade e de sociedade, porque sabe que, na medida em que isso acontecer, a ordem desigual que aquece o coração dos Frias pode correr risco.

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