O silêncio em torno dos ricaços investigados como golpistas. Por Moisés Mendes

Bolsonaro, Luciano Hang e general Heleno. Foto: reprodução

Jornalistas lavajistas e militaristas, que bateram continência para os generais de Bolsonaro até pouco antes da aglomeração de Silas Malafaia na Paulista, deixaram as barricadas.

Braga Netto, Augusto Heleno e oficiais subalternos presos ou ainda soltos foram abandonados. Sergio Moro e Deltan Dallagnol já haviam sido largados muito antes. Apenas Merval Pereira ainda oferece proteção e consolo a Moro.

Os generais, o ex-juiz, o ex-procurador e todos os lavajatistas sofreram avarias irreversíveis. São descartáveis por inutilidade. Prestaram serviços relevantes e viraram estorvo.

Mas as estruturas de comando das corporações de mídia e o colunismo de direita e extrema direita não abandonam o núcleo empresarial do golpismo. Esse é o último reduto ainda intacto e sob proteção das organizações.

Foi pulverizado o núcleo civil e militar do entorno de Bolsonaro, com idealizadores, planejadores e operadores do golpe. Desmantelou-se o grupo político-miliciano. Estão pegando até 17 anos de cadeia os integrantes do núcleo delirante dos manés do 8 de janeiro.

Mas continua inalcançável e esquecido o núcleo dos empresários ricos que sustentavam com muito dinheiro as milícias bolsonaristas, dentro e fora do Palácio do Planalto, desde 2019.

Poucos falam deles. Na semana passada, o colunista Elio Gaspari, da Folha e do Globo, abordou a prisão dos atacadistas golpistas Joveci Xavier de Andrade e Adauto Lúcio de Mesquita, de Brasília, com uma ressalva.

“Há mais gente na fila de ricos coitados do 8 de janeiro”, escreveu Gaspari, como se estivesse comunicando uma descoberta ou oferecendo-se como vidente. O colunista não deu um nome de rico na fila, nem conhecido nem ainda não divulgado.

Poderia ter informado quem são, não por especulação ou intuição ou chute, mas por informação concreta, pelo menos os suspeitos que vêm sendo investigados há muito tempo.

Mas Elio Gaspari e seus colegas colunistas dos jornalões respeitam muito os ricos coitados e não os identificam. Porque eles são, sem deboche, muito mais ricos do que coitados.

A grande imprensa abandona até altos generais amigos, como se fossem tanques que viraram ferro velho, mas não mexe com o poder econômico, mesmo que os endinheirados estejam a caminho de condenações.

Bolsonaristas invadem prédio do Congresso, em Brasília – Foto: Reprodução

Se quisesse dizer os nomes dos ricaços coitados, citando os inquéritos em andamento, Gaspari poderia informar que grandes empresários continuam impunes, apesar de sob investigação desde março de 2019.

Poderia ter citado Luciano Hang (na foto com Bolsonaro e Heleno), Edgard Corona, Otavio Fakhoury, Mário Luft, Fabio Wajngarten, Meyer Nigri. Poderia ter citado Afrânio Barreira Filho, delatado por Mauro Cid. Poderia ter dito que estão na fila os grandes financiadores dos bloqueios de estradas. Todos ricos e impunes.

Poderia, mas não diz nada a respeito dos que botaram dinheiro nos projetos golpistas desde muito antes de Bolsonaro assumir o governo, como prevenção a qualquer eventual derrota do fascismo.

Há na fila empresários participantes da turma que sustentava o esquema de disseminação de mensagens em massa e que motivou as duas ações contra a chapa Bolsonaro-Mourão, rejeitadas em outubro de 2021 pelo TSE.

Há muitos ricos coitados entre os patrocinadores do 8 de janeiro, a maioria de facções ligadas ao agro pop do centro-oeste, já identificados em textos da jornalista Denise Assis aqui no 247. É uma lista extensa.

Mas há muito mais, do outro lado, jornalistas coitados e temerosos do que empresários ricos coitados. Também por isso, pela cumplicidade das corporações, os grandes patrocinadores do fascismo, e não só do golpismo, ainda não foram nem indiciados.

Não há pressão do jornalismo amigo para que sejam enquadrados pelo sistema de Justiça. O núcleo poderoso dos ricos coitados da extrema direita foi esquecido pela coitada da grande imprensa.

Publicado originalmente em Blog do Moisés Mendes

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