Com nova fábrica no Ceará, Eternit projeta crescer com fontes renováveis e construções modulares

Líder no mercado de telhas no Brasil, a Eternit voltou a realizar investimentos robustos. Mesmo em recuperação judicial, a empresa inaugurou ontem uma unidade para a produção de telhas de fibrocimento. Localizada em Caucaia, no Ceará, a planta recebeu aporte de R$ 187 milhões e produzirá inicialmente 7 mil toneladas ao mês. Desde 2020, a companhia investiu mais de R$ 400 milhões na ampliação de sua capacidade fabril.

Com a instalação de 2.160 telhas fotovoltaicas, a unidade poderá ser um modelo em sustentabilidade para projetos da empresa no futuro. Para aproveitar o aumento da demanda por energia solar e diversificar sua atuação, a Eternit lançou, em 2019, sua telha de concreto com painel fotovoltaica. Agora, a grande aposta são as telhas solares de fibrocimento. Embora com preço mais elevado do que o das telhas comuns, a expectativa é que a alternativa se mostre mais vantajosa para o consumidor final em relação à instalação de painéis solares no futuro – hoje, isso ainda não acontece, até pela produção em estágio incipiente.

“Enquanto uma telha comum custa até R$ 50, a telha com instalação fotovoltaica chega a R$ 600. Nossa comparação deve ser feita com os painéis solares. Hoje, a gente ainda está 40% mais cara que o painel, mas estamos estudando alternativas para sermos mais competitivos, como colocar placas “stand-alone” no telhado como um todo”, diz o CEO da Eternit, Paulo Roberto Andrade. “Hoje, a gente ainda tem uma operação pequena para a produção desse tipo de telha, localizada em Atibaia. Queremos, primeiro, ter certeza de que esse negócio é escalável para podermos investir em uma fábrica maior.”

O CEO da Eternit, Paulo Roberto Andrade (foto: Divulgação)

Conhecida como a “marca da coruja”, a Eternit viu sua resiliência ser testada em 2017, quando o Supremo Tribunal Federal proibiu o uso de sua – até então – principal matéria-prima, o amianto, considerado uma substância cancerígena pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Pouco tempo depois, com mais de R$ 200 milhões em dívidas, pediu recuperação judicial. No passado, a empresa era acusada por analistas de ter preconizado o pagamento de dividendos aos acionistas em detrimento de investimentos em inovação e diversificação das operações, mesmo sabendo dos riscos iminentes em colocar o foco no amianto.

“Quando saiu a decisão do STF, em novembro de 2017, proibindo o uso do amianto, perdemos nossa principal geração de receita, paralisando a mina de amianto que vendia para o mercado interno. E, quando fomos produzir telha sem amianto, acabamos ‘apanhando’ demais”, diz Vitor Mallmann, diretor de relações com investidores da Eternit. Ele afirma que hoje, com o uso da fibra de polipropileno, a empresa conseguiu encontrar uma solução mais vantajosa para seus negócios se comparada à margem que obtinha antigamente com a venda da telha de amianto.

A despeito disso, a companhia ainda tem ligações fortes com o amianto. Parte expressiva de sua receita advém da extração de amianto em sua mina localizada em Minaçu (GO), reativada em 2021 para operar com foco destinado à exportação. A empresa se ampara em uma legislação estadual para operar, e produz cerca de 200 mil toneladas de amianto na unidade por ano. A Eternit aguarda uma definição do STF sobre a manutenção da liberação da extração do amianto no Brasil para o mercado externo antes de investir novamente nesta unidade. “A gente está confiante de que a produção de amianto para exportação é constitucional”, diz Roberto Andrade. Atualmente, a Eternit é a única empresa brasileira a operar com esse tipo de minério.

Diante do baque da proibição do amianto para o mercado doméstico, a empresa decidiu desinvestir em alguns mercados, como a produção de louças sanitárias, e passou a centrar o foco na produção de telhas a base de fibra de polipropileno. Recentemente, a Eternit investiu R$ 24 milhões para a ampliação de sua fábrica voltada para esse produto em Manaus. Em abril, a companhia terá capacidade para produzir 1,5 mil toneladas por mês de fibra de polipropileno no país. Hoje, ela produz pouco mais da metade disso no mercado interno. A ideia é iniciar a exportação do volume excedente para países como Colômbia e México.

O futuro da companhia também passa pela ampliação de soluções voltadas ao mercado de construções modulares – como estruturas pré-montadas, o que reduz o custo da mão-de-obra. A empresa estuda a possibilidade de firmar parcerias ou aquisições de olho no desenvolvimento desse mercado. “A gente acredita que esse é um modo de construção que vai crescer muito”, diz o CEO. “Não dá para ter todas as soluções para construção a seco, por isso estamos procurando parceiros e fornecedores de alguns itens para esse tipo de construção. À medida que a coisa avançar, a gente tem a expectativa de fazer algum tipo de associação com outras empresas.”

Com alavancagem saudável e voltando a gerar caixa, a Eternit vive a expectativa de sair da recuperação judicial em breve, tanto que já voltou a pagar dividendos aos acionistas. Recentemente, a empresa aprovou o pagamento de R$ 10 milhões referentes ao ano de 2023. No quarto trimestre do último ano, a empresa registrou lucro líquido de R$ 83 milhões e receita líquida de R$ 282 milhões. “Hoje, nossa dívida é de R$ 38 milhões, sendo que entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões são de credores que não compareceram para receber”, diz Mallmann. “Podemos dizer que a recuperação judicial está superada”. Uma assembleia de credores deve ser convocada em breve para definir o futuro da recuperanda.

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