A aliança inédita contra fome e pobreza após Brasil driblar as tretas do G20

O presidente Lula (PT) em seu 1º discurso no comando do G20, em Brasília: ao seu lado, os ministros de Relações Exteriores, Mauro Vieira (à esq.), e da Fazenda, Fernando Haddad (à dir.), e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (no canto direito). Foto: reprodução

O Brasil, com a responsabilidade de presidir o G20 em 2024, enfrentou uma missão difícil em meio a conflitos geopolíticos, como a guerra na Ucrânia, tensões no Oriente Médio e a crescente crise climática global. Em um cenário desafiador, o país optou por colocar no centro da sua agenda o combate à fome e à pobreza, uma bandeira histórica dos governos do presidente Lula (PT). Com informações da BBC News.

Diplomatas de várias nações, tanto brasileiras quanto de outros países, elogiaram a escolha estratégica do Brasil, considerando que o tema escolhido foi mais agregador e permitiu o avanço de uma iniciativa inédita e de grande peso político: a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.

O projeto é visto como um exemplo raro de impacto concreto do G20, que frequentemente se limita a declarações de intenções. No entanto, sua eficácia futura será avaliada principalmente pela capacidade de liberar recursos financeiros, como destacou Maximo Torero, economista-chefe da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Segundo ele, a eficácia da Aliança dependerá do financiamento e do compromisso dos países membros.

O projeto

A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza foi concebida com o objetivo de facilitar a implementação de políticas públicas que já demonstraram resultados positivos em países de diferentes partes do mundo, como o Bolsa Família, programas de merenda escolar, microcrédito e apoio à agricultura familiar.

Esses programas serão levados a países com economias mais frágeis ou de renda média baixa, com a intenção de fortalecer suas estruturas nacionais. Além disso, a aliança tem como objetivo tornar mais acessíveis os fluxos de financiamento para esses países, simplificando o acesso a recursos de instituições financeiras internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

As primeiras metas da Aliança incluem a ampliação de programas de transferência de renda em países como Togo, Chile e Nigéria, com a previsão de impactar 500 milhões de pessoas.

Outro objetivo relevante é dobrar o número de crianças com acesso à alimentação escolar, com a meta de alcançar 150 milhões de alunos até 2030. Para apoiar essa expansão, países como França, Alemanha e Noruega se comprometeram a financiar a expansão de refeições escolares.

Segundo dados da ONU, em 2023, o número de pessoas famintas no mundo atingiu 733 milhões, um aumento significativo de 152 milhões em comparação com 2019. As projeções indicam que, sem esforços adicionais, a meta global de erradicar a fome até 2030, definida em 2015, não será atingida. A criação da Aliança surge, portanto, como uma resposta urgente para esse cenário de crise alimentar.

O lançamento oficial da Aliança ocorrerá na segunda-feira (18), durante a Cúpula de Líderes, em um evento que reunirá líderes globais no Rio de Janeiro.

O presidente Lula (PT): Iniciativa pretende apoiar a implementação de políticas públicas bem-sucedidas como o Bolsa Família em mais países. Foto: reprodução

Entre os líderes presentes, estão o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o presidente da China, Xi Jinping, o presidente da França, Emmanuel Macron, o presidente da Argentina, Javier Milei, e o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Também são esperados o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, e os primeiros-ministros da Índia, Narendra Modi, do Reino Unido, Keir Starmer, e da Itália, Giorgia Meloni. O G20 é composto por 19 países e, em 2023, a União Africana também se integrou ao grupo.

Renato Godinho, assessor especial de Assuntos Internacionais do Ministério do Desenvolvimento Social, afirmou: “A Aliança vem como objetivo de colocar e depois manter o combate à pobreza no alto das prioridades”, destacando a relevância do projeto para os países em desenvolvimento.

Desde a aprovação consensual da criação da Aliança pelo G20 em julho, o número de países e organizações filantrópicas envolvidos cresceu significativamente. Até o dia 15 de setembro, 41 países, 13 organizações internacionais e instituições financeiras, além de 19 organizações filantrópicas, aderiram à iniciativa.

Entre os países membros da Aliança estão Brasil, Estados Unidos, China, Alemanha, Japão, Angola, África do Sul, Reino Unido, Espanha, Portugal, Irlanda e outros. A adesão de novos membros está em andamento, com a participação dos países sendo dividida em três categorias: como financiadores, fornecedores de políticas públicas bem-sucedidas ou como implementadores dessas políticas em uma escala nacional.

A Aliança tem um prazo inicial até 2030, o ano marcado para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Entre esses ODS, erradicar a fome e a pobreza são duas metas prioritárias. No entanto, fatores como conflitos armados, a crise climática, a inflação e os efeitos da pandemia de COVID-19 têm dificultado o alcance dessas metas.

A fome no mundo

De acordo com o relatório da ONU de julho de 2023, a fome aumentou principalmente na África, onde 298 milhões de pessoas sofrem de subnutrição, representando cerca de 20% da população do continente. A Ásia, por sua vez, possui o maior número absoluto de famintos, com 384 milhões de pessoas afetadas.

Por outro lado, a América Latina tem registrado progressos no combate à fome, com uma redução significativa no número de pessoas afetadas, especialmente no Brasil, onde os resultados positivos foram notáveis.

Maximo Torero, da FAO, comentou que a liderança do Brasil e de Lula foi “super importante” para a criação da Aliança, destacando tanto o sucesso do Brasil na redução da fome e da pobreza nas últimas décadas quanto a habilidade política do presidente brasileiro em alcançar consensos.

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