Belchior e Elis rolam no túmulo ao serem usados pela bolsonarista Zanatta para defender golpistas

A deputada federal Julia Zanatta (PL-SC) (crédito: reprodução)

A deputada bolsonarista Júlia Zanatta (PL-SC), aquela que publicou uma foto instigando tiros contra Lula, resolveu tentar se apropriar de Belchior e Elis Regina.

Zanatta postou versos de “Como Nossos Pais” e um vídeo de Elis para protestar contra as investigações que estão cercando e prendendo os canalhas golpistas que ela defende. Já havia feito o mesmo com Chico Buarque, aliás, usando versos de “Vai Passar”.

As interpretações de Elis ajudaram a moldar a memória coletiva desse período. “O bêbado e o equilibrista”, de 1979, talvez seja o hino definitivo da resistência às trevas que ainda nos ameaçam — com a ajuda de gente como Zanatta.

Belchior descreveu a sensação gerada por “Como Nossos Pais” com uma palavra numa entrevista ao Professor Pasquale: incômodo. Em 1976, quando foi destaque no clássico disco “Alucinação”, o Brasil vivia a “distensão” cascateira da ditadura. Vladimir Herzog fôra assassinado um ano antes sob tortura. É o álbum mais contundente de Belchior contra os militares.

Belchior sempre deu recados sobre o terror que era o jugo dessa gente que Zanatta idolatra. O alerta de “Como Nossos Pais” também se verificava nos versos de “Todo sujo de batom” (“Eu estou muito cansado / De não poder falar palavra”) e em “Apenas um rapaz latino-americano” (“Mas não se preocupe, meu amigo / Com os horrores que eu lhe digo / Isto é somente uma canção / A vida realmente é diferente / Quer dizer, ao vivo é muito pior”).

Mais da metade das faixas do LP “Coração Selvagem” havia sido censurada meses antes. Apenas quatro delas escaparam da sanha dos censores, entre elas “Como se fosse pecado”, que teve sua gravação definitivamente proibida, sendo lançada apenas no ano seguinte, no disco “Todos os Sentidos”.

Zanatta, uma das parlamentares que mais processam jornalistas no Brasil, assumiu a presidência da recém-criada Frente Parlamentar em Defesa da Liberdade de Expressão. Pois é. Ela é campeão de processos contra jornalistas (apenas contra o DCM são cinco ações; acabamos de ganhar uma).

Em nome da democracia, é de se esperar que os herdeiros de Belchior e Elis recorram à Justiça para impedir que sua obra seja usada desta maneira porca, ignominiosa, hipócrita e fascista.

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