O bolsonarismo está sem forças. Por Moisés Mendes

O ex-presidente Jair Bolsonaro e Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil. Foto: Reprodução

Até uma certa esquerda mais assustada contribuiu para que levassem a sério uma ameaça. Se prendessem figuras consideradas intocáveis do bolsonarismo, os tios saltariam do zap para as ruas e deflagrariam protestos e ações violentas.

Diziam que poderiam prender manés e patriotas do 8 de janeiro, políticos e coronéis, mas não um general. Jamais um Braga Netto. De forma alguma um filho de Bolsonaro. Nunca o pai deles.

Para agregar agravantes à ameaça, contavam com o clima criado pela eleição de Trump. Alexandre de Moraes estaria sob o bafo do fascista americano e ninguém faria movimentos bruscos, porque Trump poderia agir.

Já se sabe que é tudo bobagem. Que não aconteceu nada até agora. E já teve prisão de deputado, de delegado da Polícia Federal, de coronel e de generais. A reação mais forte e mais gritada contra a prisão de Braga Netto partiu de Silas Malafaia.

Mas Malafaia só é ouvido na sua igreja ou em cima de um trio elétrico na Avenida Paulista. Malafaia não tem poder político para acionar fúrias incontroláveis. Não tem voto e perdeu o respeito da extrema direita raiz. Tem fiéis da base bolsonarista, mas hoje isso conta pouco ou quase nada.

O ex-presidente Jair Bolsonaro ao lado do pastor Silas Malafaia. Foto: Dhavid Normando/Futura Press

Podem fechar o cerco em torno de chefes golpistas civis e fardados, de muambeiros e de nazistas chinelões que fazem gestos com os dedos. Podem asfixiar os grandes empresários financiadores do golpe, e não só os do dinheirinho miúdo, que não acontecerá nada.

Não há força para levante algum. Os tios do zap sabem que não podem contar mais com os militares, com a Polícia Rodoviária Federal e com as PMs. Não têm lideranças nem quadros sequer para uma motociata. Não têm nada que possa segurar uma tentativa de incendiar o país.

Podem gritar no zap e nas redes sociais, mas não podem mais nada além disso. Se Alexandre de Moraes tivesse motivos e argumentos para decretar prisões preventivas em massa, não aconteceria nada.

O único desafio seria arranjar celas especiais para todos eles, com ar-condicionado e TV a cabo. Claro que não há e dificilmente haverá motivo para um grande número de prisões preventivas. Mas, se houvesse, todos poderiam ser enjaulados ao mesmo tempo.

Não aconteceria nada além do berreiro de Malafaia e de alguns que têm mandato e tribuna, mas não são ouvidos nem pelos seus. E o resto continuaria miando baixo e pedindo que o estado democrático de direito seja respeitado. É esse o cenário hoje.

O golpismo baixou a crista e foi subjugado pela própria incapacidade de reação. Perdeu retórica e grito de guerra por ter ficado sem a bandeira da anistia. E percebeu que os líderes políticos de direita, dos militares, dos jornalões e do empresariado estão cansados de guerra e já entregaram as armas.

Querem se livrar de Bolsonaro, de Braga Netto, de Augusto Heleno, dos grandes financiadores do fascismo e da turma do escalão intermediário.

Ninguém defende mais ninguém, porque a vida precisa se reorganizar e seguir em frente na direita. Moraes sabe que pode mandar prender quem já vem pedindo para ser preso.

Publicado originalmente no “Blog do Moisés Mendes”

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