Polícia alerta sobre perigos das armas de gel

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Armas de gel não são classificadas como brinquedos pelo Inmetro (Foto: Divulgação/Inmetro)

As armas de gel viraram febre entre jovens e estariam entre os presentes mais cobiçados neste Natal. Apesar de a venda e o porte desses simulacros para recreação não configurarem qualquer tipificação criminal, a Polícia Civil alerta que o uso de tais equipamentos pode levar a crimes, como lesão corporal, vias de fato/agressão e perturbação do sossego. O delegado Rodolfo Rolli orienta os responsáveis sobre a segurança e recomenda que esses dispositivos, que disparam bolinhas de gel, sejam utilizados apenas em ambientes familiares e privados, já que o maior risco desses tiros em espaços públicos é que as réplicas sejam confundidas com armas de verdade, resultando em reações que podem levar até à morte.

O contrário também acontece. Na última quinta-feira (19), um policial penal, de 51 anos, foi executado por criminosos ao presenciar assalto a um depósito de bebidas em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A vítima teria confundido os fuzis dos assaltantes com as armas de gel e teria se apresentado como policial, motivando os disparos fatais. No final de outubro, um entregador, 27, foi morto em Jacarepaguá, também na Zona Oeste do Rio, supostamente depois que milicianos encontraram no celular uma foto dele segurando uma arma de gel.

A arma de gel ou gel blaster costuma ser colorida e é semelhante à de paintball, mas no lugar da tinta são usadas bolinhas de gel, que se desfazem facilmente ao serem disparadas. A venda acontece livremente em lojas e camelôs. Em setembro deste ano, no entanto, o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) afirmou estar atento às “réplicas de armas com projéteis de bolas de gel” e destacou que, de acordo com a Portaria Inmetro 302, de 2021, esses produtos não são considerados brinquedos.

“A regulamentação define que brinquedos são produtos destinados ao uso por crianças menores de 14 anos. Portanto, itens que não atendem a essa definição não podem ser comercializados como ‘brinquedos’, nem ostentar o Selo de Identificação da Conformidade do Inmetro.” Da mesma forma, pelo Decreto 11.615, de 21 de julho de 2023, que regulamenta o uso de armas no país, a prática de tiro desportivo com airsoft ou paintball é permitida aos maiores de 14 anos.

Vídeos de confrontos com armas de gel viralizam

Em Juiz de Fora, já foram registradas de seis a sete ocorrências envolvendo armas de gel, conforme o delegado Rodolfo Rolli. Em um dos casos, no Bairro Linhares, Zona Leste, um motoboy teria se assustado com pessoas portando armas de gel em via pública e caiu do veículo, sofrendo lesões. Um vídeo divulgado nas redes sociais também revela a prática entre moradores do Bairro Santo Antônio. Mascarados, eles se enfrentam disparando bolinhas de gel uns contra os outros. Vídeos do tipo costumam viralizar nessas plataformas.

Confrontos semelhantes também já foram observados em outros bairros da cidade. “Um influenciador digital convoca grupos nas redes para fazer essas ‘guerras’ na pracinha do Bom Jardim. Isso atrapalha o sossego da população”, conta uma moradora, de 32 anos, que preferiu não se identificar. “Eles usam roupas pretas, fazem barulho com os disparos e saem correndo, como se fosse um confronto real. A maioria é adolescente”, comenta.

‘Não devem pintar as armas de gel de preto ou prata’

Em nota, a Polícia Civil informa que as ocorrências envolvendo armas de gel “serão avaliadas de acordo com o caso concreto e investigadas à medida em que forem recebidas nas unidades policiais”, visando ao esclarecimento de autoria, materialidade, motivo e circunstâncias dos fatos.

O delegado Rodolfo Rolli sugere uma regulamentação municipal sobre o uso das armas de gel. “As pessoas estão brincando com isso nas ruas, mas é perigoso. Pode causar lesão corporal simples ou gravíssima, se pegar no olho, por exemplo.” Outro perigo, segundo ele, é que muitos usuários estariam pintando esses equipamentos de preto ou prata, exatamente para que se assemelhem ainda mais às armas de verdade. “Quem vê, pode se sentir ameaçado. As pessoas não devem descaracterizar o equipamento. Em zonas quentes de criminalidade, essa situação pode até motivar o disparo de um policial”, alerta.

Sobre a perturbação do sossego, o delegado exemplifica que, nas imediações de estabelecimentos comerciais, os tiros de bolinhas de gel atrapalham tanto os comerciantes, quanto os clientes, que podem se sentir intimidados e até desistirem de entrar na loja. Pessoas idosas também podem se assustar e sofrer quedas graves. “A venda está liberada, é a coisa que mais se vende neste Natal. É uma febre nacional, mas incentiva o uso de armas pela população e demonstra um pouco da violência da sociedade brasileira”, lamenta. “Por isso recomendo o uso dessas armas de gel no ambiente familiar, com autorização dos responsáveis. Os jovens não devem tampar a cara com máscaras e simular assaltos ou confrontos, porque é muito perigoso.”

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