Putin pede desculpas a presidente do Cazaquistão por queda de avião da Embraer e admite sistema antiaéreo ligado na região

Sobreviventes do desastre aéreo desembarcam no Azerbaijão na quinta-feira (26) – AFP

Por Brasil de Fato

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, reafirmou neste sábado (28) a necessidade de uma investigação “objetiva e transparente” sobre a queda de um avião comercial do Azerbaijão, que, segundo especialistas dos Estados Unidos e de outros países ocidentais, pode ter ocorrido devido ao lançamento de um míssil antiaéreo russo. A aeronave foi fabricada pela empresa brasileira Embraer.

“A comissão governamental cazaque encarregada de investigar todos os detalhes do incidente chamará especialistas russos, azerbaijanos e brasileiros (…). Este trabalho, realizado no território do Cazaquistão, será objetivo e transparente”, disse Putin em uma ligação telefônica com seu homólogo cazaque, Kassym-Jomart Tokayev, de acordo com um comunicado do Kremlin.

A aeronave da Azerbaijan Airlines caiu no Cazaquistão na quarta-feira (25), quando transportava 67 pessoas, sendo que 38 morreram na hora. Segundo a companhia aérea, o Embraer 190, de fabricação brasileira, que transportava 62 passageiros e 5 tripulantes, realizava uma rota entre Baku, capital do Azerbaijão, e Grozny, capital da república russa caucasiana da Chechênia quando caiu perto de Aktau, nas margens do mar Cáspio, no oeste do Cazaquistão.

Também no sábado, Putin pediu desculpas ao seu homólogo azerbaijano pela queda do avião, ao admitir que o sistema de defesa antiaérea russo estava ativo no momento do acidente.

“Vladimir Putin pediu desculpas pelo fato de este trágico incidente ter ocorrido no espaço aéreo russo”, indicou o Kremlin, sem fornecer mais detalhes.

O presidente russo informou, em uma conversa telefônica com o presidente do Azerbaijão, que o avião “tentou aterrissar no aeroporto de Grozny”.

Mas “naquele momento, as cidades de Grozny, Mozdok e Vladikavkaz estavam sendo atacadas por drones de combate ucranianos, e o sistema de defesa aérea russo repeliu os ataques”, acrescentou.

Por sua vez, o presidente azerbaijano, Ilham Aliyev, afirmou que o avião foi atingido por “uma interferência física externa”, o que dá credibilidade à hipótese de que um míssil russo tenha derrubado acidentalmente o avião, mas sem acusar formalmente a Rússia, país com o qual Baku mantém laços estreitos.

“O chefe de Estado ressaltou que as múltiplas perfurações na fuselagem do avião, as lesões sofridas pelos passageiros e pela tripulação […] e os testemunhos […] confirmam a evidência de uma interferência física e técnica externa”, informou a presidência azerbaijana em um comunicado.

Reações

A vice-presidente da União Europeia, Kaja Kallas, reiterou neste sábado a necessidade de iniciar uma investigação internacional independente. Kallas considera que este incidente é um “duro lembrete” do voo MH17 da Malaysian Airlines, derrubado por um míssil lançado por rebeldes pró-russos no leste da Ucrânia em 2014.

O diretor da agência russa de aviação civil Rosaviatsia, Dmitri Yadrov, declarou no Telegram que a situação no aeroporto de Grozny na quarta-feira era “muito difícil” devido aos ataques de “drones militares ucranianos”. O diretor afirmou que, após duas tentativas “frustradas” de fazer o avião azerbaijano aterrissar em Grozny, onde havia uma “densa neblina”, o piloto “tomou a decisão de ir para o aeroporto de Aktau”.

Subjonkul Rajimov, um passageiro que sobreviveu, relatou à mídia estatal russa que houve uma explosão fora do avião.

“Eu não diria que aconteceu dentro, porque parte da fuselagem perto de onde eu estava sentado saiu voando”, afirmou.

Várias companhias aéreas anunciaram a suspensão de seus voos para a Rússia, especialmente de países vizinhos, entre elas a Turkmenistan Airlines e a Qazac Air. A companhia israelense El Al indicou na quinta-feira que suspenderia seus voos por uma semana.

Segundo autoridades cazaques, 17 especialistas de diferentes nacionalidades participam das investigações, incluindo dois russos e vários brasileiros.

A Embraer, fabricante do avião, expressou suas “condolências a todos os afetados” e afirmou que está “plenamente comprometida em apoiar as autoridades competentes”.

“Em resposta, enviamos imediatamente uma equipe de especialistas para o local para prestar assistência técnica na investigação”, declarou o CEO da companhia brasileira, Francisco Gomes Neto.

Bandeira do Azerbaijão içada a meio-pau em memórias dos cidadãos do país mortos na queda no vizinho Cazaquistão / TOFIK BABAYEVAFP

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