Críticas ao identitarismo na base do “lugar de fala” não colam mais, diz Luis Felipe Miguel

Marx identitário

Após atravessarem os últimos ciclos eleitorais, as pautas identitárias tornaram-se um tema central de debate para a esquerda no Brasil. No PSOL, essas questões ganharam destaque, especialmente entre representantes no Legislativo, e foram citadas como um dos fatores que teriam contribuído para o fracasso de Guilherme Boulos na disputa pela Prefeitura de São Paulo.

Na Folha, Luis Felipe Miguel, professor de ciência política da UnB (Universidade de Brasília), destaca que as pautas identitárias emergiram em um momento em que “grupos historicamente excluídos impuseram suas necessidades, recusando-se a colocá-las como questões menores, subalternas às questões de classe”.

Ele observa que outro fator relevante foi “o esgotamento dos modelos tradicionais da esquerda classista, o que levou o espectro a marcar sua diferença abraçando as causas de grupos oprimidos”. No entanto, Miguel pondera que isso “não significou contestação ao sistema neoliberal, limitando-se a ajustes cosméticos”.

O pesquisador também aponta que “o identitarismo é mais sintoma do que causa da crise da esquerda. É a válvula de escape de uma esquerda que não apresenta mais um projeto de transformação anticapitalista da sociedade”. Segundo ele, no âmbito eleitoral, as pautas identitárias tendem a beneficiar mais candidatos ao Legislativo, pois atraem um eleitorado já inclinado à esquerda.

Entretanto, para cargos majoritários, esse discurso pode afastar grandes parcelas do eleitorado. Ele observa ainda que “as tentativas de silenciamento das críticas, na base de carteiradas de ‘lugar de fala’, já encontram resistência. Não cola mais o discurso de vitimização que tenta fazer com que qualquer discordância seja automaticamente definida como recusa da importância das agendas de gênero ou racial”.

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