Jamil Chade: Soldado israelense deixa o Brasil após Justiça ordenar investigação da PF

Soldado israelense. Foto: Divulgação

Por Jamil Chade

Um reservista israelense de 21 anos deixou o Brasil, depois que a Justiça Federal determinou uma investigação contra ele por supostos crimes de guerra. O soldado estava de férias na Bahia, mas havia lutado em Gaza.

O caso levou as autoridades israelenses a emitir um alerta a todos os soldados, indicando que eles poderiam ser processados no exterior, por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

A chancelaria israelense explicou que, de fato, “acompanhou” a retirada do soldado do Brasil e que entrou em contato com ele e sua família ao longo do processo. Questionado sobre o caso, o Itamaraty pediu que a coluna procurasse o Ministério da Justiça por “tratar-se de investigação judicial”.

A Federação Árabe Palestina no Brasil explicou que o soldado Yuval Vagdani “estava a turismo na Bahia e a sua última localização conhecida é o Morro de São Paulo, naquele estado”.

“A Justiça Federal brasileira havia determinado que a Polícia Federal (PF) investigasse Vagdani. A decisão, emitida em 30 de dezembro de 2024 pela juíza Raquel Soares Charelli, da Seção Judiciária do Distrito Federal, atende a um pedido da Fundação Hind Rajab (HRF), organização internacional que defende os direitos palestinos”, explica.

Segundo a entidade, o militar é suspeito de participar da demolição de um quarteirão residencial em Gaza, no final de 2024, utilizando explosivos fora de situações de combate. As residências serviam de abrigo para palestinos deslocados internamente após o início da agressão “genocida” em 7 de outubro de 2023.

“A HRF apresentou evidências coletadas por meio de inteligência de fontes abertas, incluindo vídeos e dados de geolocalização, que comprovam o envolvimento do soldado nas ações denunciadas”, afirmou.

Tropas israelenses Foto: Divulgação

De acordo com a entidade, a investigação se concentra no período em que Vagdani atuou no batalhão Givati. “A denúncia ainda destaca a destruição de um corredor em Gaza, que gerou expulsão forçada de civis e profundas consequências humanitárias”, indica.

Além da investigação, a HRF solicitou a prisão provisória do militar, alegando risco de fuga ou destruição de provas. A decisão judicial baseia-se no artigo 88 do Código de Processo Penal Brasileiro, que permite a aplicação da jurisdição universal para crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio, conforme previsto no Estatuto de Roma, do qual o Brasil é signatário.

Segundo a entidade, o Departamento de Assuntos Consulares do Ministério das Relações Exteriores e a Embaixada de Israel no Brasil contataram o cidadão israelense e sua família, fornecendo apoio durante todo o incidente até sua partida rápida e segura do Brasil.

“Houve uma ofensa severa à soberania do Estado brasileiro por um Estado investigado por genocídio, crimes de guerra, crime de Apartheid e colonialismo”, afirma Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal). “Isso tem implicações graves.”

O ex-presidente Jair Bolsonaro criticou a ação da Justiça brasileira. Ele republicou a postagem de outra conta no X (antigo Twitter) que diz: “Em 2019, Israel foi um dos únicos países a enviar uma equipe para ajudar as buscas em Brumadinho. Hoje, o Estado brasileiro está colocando a Polícia Federal para investigar membros das Forças Armadas de Israel de férias no Brasil”.

Uma coluna publicada neste domingo no Haaretz, um dos principais jornais de Israel, diz que o caso no Brasil teria jogado Israel em um “modo de pânico”.

Originalmente publicado no UOL

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