Mujica diz que câncer espalhou e que não pode tratar: “Estou morrendo”

O ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica, de 89 anos, revelou nesta quinta-feira (9) que o câncer de esôfago que enfrenta se espalhou para o fígado e não há mais possibilidade de controle. Em entrevista ao jornal local Búsqueda, Mujica declarou: “Estou morrendo”.

Ele explicou que o câncer avançou para o fígado e que não há tratamentos viáveis devido à sua condição de saúde. “O câncer no esôfago está se espalhando para o fígado. Não consigo impedi-lo. Por quê? Porque sou um idoso e porque tenho duas doenças crônicas. Não posso nem fazer tratamento bioquímico nem cirurgia, porque meu corpo não aguenta”, afirmou Mujica.

O ex-presidente ainda pediu privacidade neste momento delicado: “O que peço é que me deixem em paz. Que não me peçam mais entrevistas nem nada. Meu ciclo já terminou. Sinceramente, estou morrendo. E o guerreiro tem direito ao seu descanso”.

Em novembro, Mujica passou por uma cirurgia para instalação de um stent no esôfago, dispositivo metálico que se adere às paredes do tubo digestivo e facilita a ingestão de alimentos. O procedimento foi necessário após exames apontarem um estreitamento do órgão causado pelo câncer.

Descrevendo-se como um “velho no final”, Mujica disse que deseja “despedir-se de seus compatriotas e simpatizantes”. “É fácil ter respeito por aqueles que pensam de forma parecida com a nossa, mas é preciso aprender que o fundamento da democracia é o respeito por quem pensa diferente. Por isso, a primeira categoria são meus compatriotas, e deles me despeço. Dou um abraço a todos”, declarou. “Em segundo lugar, despeço-me de meus companheiros e simpatizantes. Tudo o que quero agora é me despedir”.

Com um tom reflexivo, Mujica também abordou a importância da democracia. “Não há nada como a democracia. Quando jovem, eu não pensava assim, é verdade. Me enganei. Mas hoje luto por isso. Não é a sociedade perfeita, é a melhor possível”, afirmou.

Mujica foi presidente do Uruguai de 2010 a 2015. Ex-guerrilheiro e uma das figuras mais marcantes da esquerda na América Latina, ele passou 13 anos preso em condições desumanas, grande parte durante a ditadura militar no país, que ocorreu entre 1973 e 1985.

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