“Foi o pior dos golpes”, diz Rui Falcão sobre 8 de janeiro

Rui Falcão, ex-presidente do PT, em entrevista à Folha. Foto: Marlene Bergamo/Folhapress

O ex-presidente do PT e um dos coordenadores da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, Rui Falcão, fez duras críticas à política econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Segundo Falcão, o novo teto de gastos coloca o país em uma “camisa de força” e exige mudanças urgentes. “Nos metemos numa espécie de corda no próprio pescoço”, afirmou o político em entrevista à Folha de S.Paulo.

Para Falcão, o governo Lula tem enfrentado pressões do mercado financeiro que resultam na adulteração do programa originalmente proposto. Ele classificou essa situação como “o pior dos golpes”.

Veja trechos da entrevista feita por Mônica Bergamo e Catia Seabra:

O presidente cumpriu nestes dois anos o programa de governo e as promessas de campanha?

Acho que nós estamos sofrendo, nesse momento, uma espécie de duplo sequestro. O Brasil, desde a proclamação da República, tem uma tradição de golpes sucessivos, como o de 1964, o impeachment da [ex-presidente] Dilma Rousseff e a prisão do Lula.

Depois da eleição de 2022, houve o 12 de dezembro [em que bolsonaristas depredaram e incendiaram prédios de Brasília no dia da diplomação de Lula como presidente] e o 8/1.

[…]

Esse golpe continuado não cessou. E hoje temos o golpe que quer nos fazer cumprir um programa de governo que não é o nosso. É o pior de todos os golpes, porque não requer arma, não requer força militar, não requer medidas jurídicas.

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Rui Falcão e Lula na festa de 36 anos do PT, em 2016. Foto: Mauro Pimentel/Folhapress

Como avalia a interlocução com os movimentos sociais?

O diálogo não deve ser feito só pelo governo, mas também pelo PT, que precisa se reconectar com as classes trabalhadoras. A presidenta [da legenda] Gleisi [Hoffmann] está fazendo um mandato combativo, altivo, trazendo os movimentos sociais para participarem da disputa do programa [do governo Lula], que está sendo adulterado pela pressão do grande capital.

Lula está adulterando o programa de governo?

O programa está sendo reduzido em sua pretensão. O PT precisa recuperar sua vocação histórica e apresentar um projeto imediatamente. Nosso projeto não pode ser só reeleger o Lula em 2026. Ele deve ser um projeto civilizatório, anticapitalista, com as devidas atualizações de experiências anteriores. Isso é essencial para que a gente possa ser realmente antissistema, apontando um rumo que se contraponha ao próprio sistema e à extrema-direita. A extrema-direita está fazendo uma disputa política permanente. Ao contrário da esquerda e do nosso governo.

[…]

Acha que a troca do ministro Paulo Pimenta por Sidônio Palmeira na Comunicação pode melhorar isso?

A chegada do Sidônio é importante, pois pode ajudar o governo a ter uma comunicação mais integrada, menos fragmentada e mais politizada. Ele tem talento, criatividade, postura democrática e corajosa. Trabalhei com ele na campanha de 2022 e, mais que um ‘marqueteiro’, é um quadro politico de muito valor. Mas o problema não é pessoal. Parece a história do time de futebol. Quando o conjunto não joga bem, o técnico vai embora. Acho que Pimenta foi injustiçado.

[…]

Acha que o seu voto contrário ao ajuste surpreendeu o Lula?

Eu e mais 22 deputados votamos a favor do novo teto de gastos [em 2022], com voto em separado, e o tempo mostrou que infelizmente a gente tinha razão. Hoje, somos prisioneiros do novo teto de gastos. E uma das coisas que a gente precisa fazer é tentar romper esse torniquete. Depois de dois anos, tudo o que está sendo feito é para tentar consertar essa corda que nós pusemos no próprio pescoço, sem necessidade. Nada de pessoal contra o ministro e companheiro Haddad. No PT, lutamos para conservar direitos e alcançar novas conquistas; nunca reduzi-los. O novo teto de gastos, conhecido como arcabouço fiscal, nos meteu numa camisa de força, uma espécie de corda no próprio pescoço. É urgente darmos outro sentido à atual política econômica, marcadamente austera e contracionista.

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