Apoio ao atentado contra o MST é sinal de que ódio venceu nas redes sociais. Por Leonardo Sakamoto

Militantes e familiares no velório de Gleison Barbosa de Carvalho e Valdir do Nascimento. Foto: Douglas Mansur/Comunicação MST

Por Leonardo Sakamoto

Tão logo viralizou a notícia da execução de dois assentados do MST, em Tremembé (SP), a fina flor das redes sociais passou a celebrá-la, lamentando que foram poucos corpos e incitando mais mortes. Isso lembra que as plataformas, que já eram terreno fértil para o ódio, serão bastante adubadas com o anúncio de que Mark Zuckerberg seguirá a trilha aberta por Elon Musk.

Ler ou ouvir a sigla “MST” dispara um gatilho em extremistas que passam a repetir o pacote que lhes foi incutido sobre movimentos sociais, chamando-os de terroristas, assassinos e bandidos. Poucos tiveram interesse real de conhecer a história da concentração de terra no Brasil, quem produz de fato alimentos para as mesas dos brasileiros ou a importância da reforma agrária.

Menos pessoas ainda ainda se interessaram em saber mais sobre o que aconteceu no assentamento Olga Benário (onde 45 famílias estão instaladas há mais de 20 anos e de forma regular) e sobre a luta delas para proteger os lotes distribuídos pela reforma agrária para o uso das famílias. Ao ouvir que se tratava do MST, relincharam que os óbitos eram mais que justificados e ponto.

Não vou dar palco para usuário criminoso de redes sociais citando o nome ou pseudônimo. Mas quem tiver curiosidade é só destampar o esgoto. Não está na deep web, mas a olhos vistos, em publicações nas plataformas de Zuckerberg e de Musk.

Empresário Mark Zuckerberg, dono do Facebook e Instagram. Foto: GettyImages/Chip Somodevilla

Pode-se criticar a linha de ação adotada pelo MST ou por movimentos ligados à terra sem descambar para a incitação ou apologia de assassinatos. Da mesma forma que é possível repudiar declarações de Jair Bolsonaro sem apoiar o abominável atentado que sofreu em setembro de 2018.

Esse comportamento faz parte de um projeto de sociedade miliciana, onde a Justiça é trocada pelo justiçamento. Na qual a mediação dos conflitos naturais em toda a sociedade, que deveria ficar a cargo de instituições, é atacada em nome da possibilidade de grupos armados resolverem da forma como melhor entenderem os seus problemas. .

Essa sociedade miliciana invadiu as sedes dos Três Poderes, em Brasília, em uma tentativa tosca e violenta de golpe de Estado porque as instituições foram contra o que decretou o seu líder supremo. Não queriam Justiça para o que achavam correto, queriam justiçamento, reequilibrando o universo com a força de suas próprias mãos.

Os agricultores mortos estão sendo chamados na rede de “terroristas” por esses extremistas – que, ao mesmo tempo, chamam os participantes dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, que tocaram o terror na capital federal, de mártires.

A disputa de significados é feita hoje, em grande parte, no ambiente digital. E as plataformas de redes sociais têm privilegiado um lado.

O cavalo de pau na moderação de conteúdo anunciado pelo dono da Meta vai baixar o sarrafo daquilo que era considerado como discurso de ódio, alinhando-se com o governo Trump e, principalmente, baixando os custos da empresa.

Se já nos deparávamos com incitação à violência contra grupos historicamente marginalizados, imagina só como vai ficar agora. Postagens que incitam a violência vão aumentar em frequência e com elas o transbordamento do que é on-line para o mundo offline. Nunca a construção de garantias para a dignidade humana foi tão importante. E, ao mesmo tempo, tão difícil de acontecer.

Publicado originalmente no UOL

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