Dado de serviços surpreende negativamente: estamos perto de uma inflexão na economia?

Após os dados do setor de serviços revelarem um recuo de 0,9% em novembro, analistas financeiros das principais casas de investimento indicam uma desaceleração na atividade econômica no último trimestre de 2024 (4T24).

O resultado, divulgado nesta quarta-feira (15), veio abaixo das expectativas do mercado, que previa uma queda de 0,5%, e interrompeu uma sequência de dois meses de alta, acumulando uma expansão de 2,3% no período anterior.

Apesar do desempenho mais fraco no final do ano dar sinais de desaceleração da atividade econômica, analistas ainda projetam crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025, amparados por setores-chave, como serviços de informação e comunicação, que se mantêm 27,4% acima do nível pré-pandemia. Cabe ressaltar que serviços é o maior setor do PIB do Brasil, representando cerca de 70% da economia nacional.

Para Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, o resultado de novembro do setor de serviços surpreendeu negativamente; entretanto, é difícil falar nesse momento em ponto de inflexão, com a queda no volume de serviços prestados muita concentrada em duas atividades, além da base de comparação do mês anterior (outubro) ser elevada.

“O setor de serviços é muito heterogêneo e, na verdade, sua trajetória depende não somente do ambiente macroeconômico, mas também (e, possivelmente, em peso até maior) da dinâmica natural dos negócios. (…)”, avalia Leal.

No comparativo anual, o setor apresentou crescimento de 2,9%, menor que a estimativa de 3,3%. O desempenho mais fraco foi atribuído a resultados negativos concentrados em dois segmentos: transportes, que recuou 2,7%, e serviços profissionais, administrativos e complementares, com queda de 2,6%. Nicolas Borsoi, da Nova Futura Investimentos, também aponta que essa concentração reforça o fraco desempenho observado no mês.

O segmento de transportes foi fortemente impactado pela retração de 13,7% no transporte aéreo, reflexo direto do aumento de 22,65% nos preços das passagens em novembro. Já os serviços técnicos e profissionais, que incluem áreas como consultoria empresarial e engenharia, recuaram 5,1%. Para Matheus Pizzani, da CM Capital, as condições econômicas adversas devem continuar pressionando o setor no início deste ano.

Por outro lado, serviços prestados às famílias e outros serviços apresentaram crescimento de 1,7% e 1,8%, respectivamente. Esse resultado foi impulsionado principalmente pelo setor de alimentação e alojamento, que avançou 2,5% no mês. Economistas destacam que a demanda interna ainda encontra suporte no mercado de trabalho aquecido e nas políticas de estímulo ao consumo.

Heliezer Jacob, do C6 Bank, acredita que o setor de serviços encerrou 2024 com um crescimento próximo a 3%, sustentado pelo consumo doméstico. No entanto, ele projeta uma expansão mais modesta para 2025, de 2%, devido ao impacto de juros elevados e maior incerteza econômica.

De acordo com Igor Cadilhac, do PicPay, o mercado de trabalho forte e o aumento da massa salarial continuam oferecendo suporte à economia, apesar das pressões inflacionárias e da elevação da taxa de juros. Ele aponta que a desaceleração no setor de serviços é gradual e faz parte de uma tendência natural de ajuste após fortes avanços pós-pandemia.

Dados revelam que o setor de serviços ainda está 16,9% acima do nível pré-pandemia (fevereiro de 2020), com destaque para os avanços em serviços de informação e comunicação (+27,4%) e transporte (+19,8%). Mesmo com a recente retração, os especialistas afirmam que o setor mantém uma base equilibrada, o que pode suavizar os impactos de uma possível desaceleração mais ampla na economia.

Economistas da Genial Investimentos sugerem cautela na avaliação dos dados de novembro, ressaltando que os resultados negativos foram pontuais e limitados a poucos segmentos. O crescimento em categorias voltadas ao consumo, segundo a corretora, indica que o setor ainda possui capacidade de resposta em meio às adversidades.

O Itaú BBA aponta que os números reforçam um viés de baixa para o PIB no último trimestre do ano. A projeção inicial de crescimento de 0,5% pode ser revisada para baixo, dependendo da performance econômica nos meses seguintes.

Crescimento modesto

Apesar do desempenho mais fraco em novembro, analistas mantêm uma perspectiva de crescimento modesto para o PIB em 2025, com estimativas variando entre 2% e 2,5%. Matheus Pizzani diz que fatores sazonais, como o Carnaval e o reajuste do salário mínimo, podem beneficiar o setor de serviços nos primeiros meses deste ano.

A G5 Partners avalia que, embora o dado de novembro tenha surpreendido negativamente, não há evidências claras de uma mudança de tendência no setor. Eles acreditam que a desaceleração será gradual e influenciada por fatores estruturais e macroeconômicos, incluindo as taxas de juros elevadas.

Com os números fechados de novembro, a CM Capital projeta uma queda de 0,4% no Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), indicando que o arrefecimento observado nos serviços, indústria e varejo deve pesar no desempenho geral da economia no mês. Os economistas concordam que, embora a desaceleração seja evidente, a atividade econômica brasileira continua bem posicionada em setores específicos, como o consumo.

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