“Vamos em Frente”: ex-ministros de Lula, Dilma e FHC se manifestam contra “extorsão” da Câmara

Câmara dos Deputados em dia de sessão. Foto: reprodução

Ex-ministros dos governos Lula (PT), Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) uniram forças para lançar o manifesto “Vamos em Frente”. A iniciativa, que já conta com 83 assinaturas de lideranças políticas, acadêmicos e representantes da sociedade civil, busca isolar a extrema-direita nas eleições de 2026 e combater o que chamam de “extorsão do Orçamento” pelo Congresso, por meio de emendas parlamentares.

Entre os signatários estão Tarso Genro, Cristovam Buarque, Aloysio Nunes Ferreira, José Eduardo Cardozo, Renato Janine Ribeiro e Nelson Jobim. Segundo os idealizadores, o documento é uma tentativa de promover um diálogo amplo entre diferentes espectros democráticos, com o objetivo de fortalecer a democracia e a Constituição de 1988.

O manifesto denuncia a influência de bancadas “oligárquicas e fisiológicas” no Congresso, que comprometem até 74% da verba de ministérios, segundo dados recentes.

Para Tarso Genro, essas práticas subvertem as relações institucionais e colocam o Executivo em uma posição de vulnerabilidade. “O bloco político de extorsão orçamentária prejudica qualquer governo, independentemente de sua coloração partidária, ao submetê-lo a um parlamentarismo perverso”, afirmou o ex-ministro.

A carta também propõe que partidos democráticos assumam o compromisso de não firmar alianças com representantes da extrema direita ou organizações que defendam ditaduras.

Arthur Lira, presidente da Câmara, é apontado como o “pai” das emendas. Foto: reprodução

Embora não cite nomes diretamente, o texto faz referência ao governo Bolsonaro, destacando “déficit fiscal de R$ 782 bilhões, desmonte institucional, propagação de violência miliciana e culto à morte” como legados a serem superados.

O grupo busca replicar a mobilização em outras regiões do Brasil, incentivando a criação de frentes políticas regionais que possam atuar em sintonia com a pauta nacional. Tarso Genro destacou que o manifesto não pretende interferir nas decisões partidárias, mas influenciar o pensamento político dos eleitores, promovendo a união entre diferentes visões democráticas.

Para José César Martins, coordenador do grupo Derrubando Muros, a proposta é formar uma “frente amplíssima” que abrace as diferenças em torno da defesa da democracia e enfrente desafios como a transição climática, desigualdade social e crises na educação e segurança.

“Democracia demanda entregas. Não podemos fazer concessões à extrema direita, mas também precisamos evitar personalismos e atuar de forma firme e progressista”, destacou.

Os organizadores planejam lançar um site para ampliar as adesões ao manifesto, buscando envolver mais lideranças e cidadãos no debate. A última assinatura registrada foi a de Nelson Jobim, ex-presidente do STF, que representou três governos diferentes.

O documento reforça que a reconstrução democrática depende de um campo político unificado, baseado em princípios éticos e no fortalecimento das instituições. “Nosso chamado é ao consenso e à negociação para que possamos superar a situação atual e avançar como nação democrática”, concluiu Genro.

Leia o manifesto na íntegra: 

CARTA EM DEFESA DA DEMOCRACIA E DA REPÚBLICA: JUNTOS EM FRENTE

Esta carta é dirigida a todos os que professam a democracia e defendem a paz e a ordem republicana do Estado Social da Constituição de 1988. E é um manifesto em defesa do Brasil, como país soberano, do trabalho como valor fundamental, da construção da nação como comunidade de destino, do empreendedorismo inovador -em todos os níveis- baseado na inteligência cientifica universal.

As guerras das grandes potencias militares com seus interesses estratégicos estão transformando o planeta inteiro num catastrófico teatro de ações políticas e operações militares, que já ameaçam as condições naturais mínimas para a sobrevivência dos humanos e a soberania das nações. As guerras, em geral, são propagadoras da barbárie e alimentadoras do autoritarismo e das ditaduras.

Esta Carta propõe que aqui no Brasil, a partir da sociedade civil, propaguemos um amplo movimento cívico descentralizado, com iniciativas locais, regionais, nacional -idênticas ou análogas – para defender o futuro da democracia no país. A herança do governo anterior, com um déficit fiscal de 782 bilhões, desmanche de instituições e políticas públicas, negação retrógada da inteligência científica universal, propagação da violência miliciana e o culto da morte – erigidos como política de Segurança Pública -também são um legado perverso do qual devemos defender o país.

Afirmamos, primeiro, que a solução é mais democracia, não menos; e que isso só será possível com o suporte de um campo político unificado, capaz de mostrar diferenças: entre democracia e ditadura; entre frentes políticas eleitorais sem princípios e frentes eleitorais baseadas em princípios mínimos, tanto voltados para a restauração da dignidade da política, como da preservação dos Poderes da República.

Esta Carta, portanto, propõe que é possível estabelecer uma comunicação entre as múltiplas visões democráticas – nos Estados e na própria União – para buscar pontos de unidade em direção a novas Frentes políticas, com suas especificidades regionais, já no1º turno ou, alternativamente, no 2º turno das eleições de 2026, pautando-se pelos seguintes objetivos:

1. Bloquear a influência no Congresso Nacional, de bancadas oligárquicas e fisiológicas, que se dedicam a extorquir, para proveito próprio, os orçamentos públicos, assim subvertendo a relação institucional entre os poderes da União;
2. Defesa dos princípios do Estado de Direito da Constituição de 88 e da preservação dos seus poderes constitucionais;
3. Defesa de uma política interna e externa, que unifique o país na transição climática, para uma potente política de prevenção de catástrofes e de redução das desigualdades sociais e regionais;
4. Compromisso de não firmar alianças com setores de partidos ou partidos, da direita autoritária e da extrema direita, ou de quaisquer organizações partidárias que proponham ditaduras de qualquer natureza nos processos eleitorais em curso no ano vindouro.

Estas novas frentes denunciarão tentativas golpistas, defenderão a identidade laica do Estado, defenderão a profissionalização das Forças Armadas e seus proponentes envidarão esforços desde agora – autônomos, comuns ou associados em rede – para proporcionar múltiplas manifestações e novos manifestos pautados pelos objetivos ora concertados.

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