Policial militar da ativa matou delator do PCC, aponta investigação

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo prendeu na manhã desta quinta-feira (16), na Operação Protodes, 15 policiais militares suspeitos de envolvimento com o PCC (Primeiro Comando da Capital) e com a morte de Antônio Vinícius Gritzbach, 38, delator da facção.

Entre eles está o cabo Dênis Antonio Martins, 40, apontado pela investigação como um dos autores dos disparos que mataram Gritzbach. A prisão dele é temporária, por 30 dias.

Ele foi preso segundo o artigo 150 do Código Penal Militar, que trata da organização de militares para prática de violência.

Segundo a Corregedoria da PM, os policiais da escolta e o suposto atirador não têm ligação.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) comemorou as prisões. “A polícia vinha investigando o que ocorreu, chegou à autoria dos disparos. A PM está punindo a PM”, disse na manhã desta quinta.

Segundo Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública de São Paulo, o cabo não era investigado, mas o trabalho da Corregedoria, em conjunto com o Centro de Inteligência da Polícia Militar, identificou a presença dele na cena do crime.

Gritzbach foi assassinado a tiros em 8 de novembro de 2024, no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Ele era jurado de morte pelo PCC.

Ligado à facção criminosa, ele teria se envolvido numa série de problemas com o grupo. Era suspeito de ter mandado matar dois integrantes da facção. Também fechou um acordo de delação premiada com a Justiça.

A delação teria sido o motivo da morte, segundo Ivalda Aleixo, diretora do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).

Segundo ela, Gritzbach expôs “todo um esquema de corrupção”, aponta “policiais vendidos” e “dá nome aos donos do PCC, que fazem a lavagem de dinheiro”.

“Essa prisão temporária de 30 dias é o tempo necessário que nós temos também, agora, para robustecer esse corpo probatório e para solicitar a conversão de prisão temporária para prisão preventiva [sem prazo]. O principal deles é o material genético coletado no dia no assassinato no aeroporto de Guarulhos. Temos materiais genéticos coletados, e agora nós vamos coletar dos indivíduos que foram presos para fazer a comparação”, disse Derrite.

De acordo com o Tribunal de Justiça Militar, o cabo deve passar por audiência de custódia na sexta-feira (17) nas dependências do Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte de São Paulo.

Procurada, a defesa de Martins afirmou por telefone que todo o posicionamento será feito no processo, por se tratar de um caso em segredo de Justiça.

Segundo Derrite, foram presos preventivamente (sem prazo) outros 14 policiais militares -um tenente que chefiava a escolta irregular de Gritzbach, 12 cabos e soldados que integravam esse grupo e outro tenente que facilitava a folga de agentes que participavam da segurança do delator. Foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão na capital e na Grande São Paulo.

O advogado Ivelson Salotto, que defende policiais que faziam a escolta, contesta os pedidos de prisão. “Não tem nenhum dos pressupostos necessários à decretação da prisão preventiva deles.”

Segundo Salotto, os PMs não tinham conhecimento de nenhum envolvimento de Gritzbach com a organização criminosa. “Isso é uma balela, tanto é que o Vinícius sequer foi condenado.”

O advogado, que também já integrou a defesa do próprio Gritzbach e intermediou a indicação dos PMs para a escolta dele, diz ainda que o policial apontado pela investigação como atirador não fazia parte da escolta.

A investigação começou em abril de 2024, oito meses antes do assassinato do delator, com o recebimento de uma denúncia anônima na Corregedoria, que apontava que policiais militares faziam segurança particular para Gritzbach.

Os agentes também são suspeitos de vazar informações de operações e investigações para a alta cúpula da facção.

“Um oficial era o chefe que gerenciava a segurança pessoal ilícita do Vinícius. Um outro oficial favorecia alguns policiais militares com a escala, dava folgas para os policiais, fazia intermediação de escalas para os policiais”, disse o corregedor da PM.

Ao todo, cinco policiais militares participavam do trabalho de escolta. Eles foram contratados de maneira particular pelo empresário, que não tinha direito a segurança oficial.

Quatro dos PMs estavam em veículos blindados que deveriam escoltar o delator do aeroporto até a sua casa. Um quinto agente viajou com o empresário para Alagoas, onde ficaram por sete dias.

Após a morte de Gritzbach, outra investigação, a cargo do DHPP, foi iniciada para descobrir o assassino e o mandante do crime.

“A prisão efetuada pela Corregedoria da Polícia Militar é extremamente importante. O crime foi encomendado pelo PCC”, afirmou Ivalda,, diretora do departamento.

Segundo Derrite, a investigação não vai parar até que o mandante seja descoberto. Essa parte da investigação, acrescentou, vai ter um melhor andamento agora, a partir da prisão dos agentes que faziam parte da segurança privada do delator.

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