Sakamoto: Quem chama Brasil de ditadura por gancho no X, chamará os EUA após TikTok?

Logotipo do TikTok com a bandeira dos Estados Unidos ao fundo. Foto: Reprodução

Por Leonardo Sakamoto

Independentemente do destino que o TikTok tenha nos Estados Unidos, a decisão da Suprema Corte de manter o banimento da plataforma, a partir do próximo domingo (19), caso não seja vendida para um proprietário norte-americano, cria um desafio para quem chama o Supremo Tribunal Federal brasileiro de ditatorial por causa da suspensão do X.

“O Congresso determinou que a alienação é necessária para tratar de suas preocupações de segurança nacional bem apoiadas em relação às práticas de coleta de dados da TikTok e ao relacionamento com um adversário estrangeiro”, disse anúncio da decisão da Suprema Corte, em Washington DC, nesta sexta (17).

A Suprema Corte considerou constitucional o banimento de uma plataforma com 170 milhões de usuários só nos Estados Unidos por não atender aos interesses norte-americanos, tal como o Supremo Tribunal Federal suspendeu o X por desrespeitar leis e decisões judiciais e, dessa forma, a Constituição brasileira.

Donald Trump, que já foi favorável ao banimento do TikTok, hoje tenta contorná-lo. E não é improvável que a plataforma consiga um respiro via decreto presidencial ou seja vendida a alguém nos EUA (Elon Musk?) ou alguma outra saída Deus Ex Machina que possa surgir de última hora. Mas tudo isso não muda o fato que a Suprema Corte, de maioria conservadora, diga-se de passagem, chancelou o bloqueio.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: AFP

A justificativa de que hoje o TikTok pode colocar em risco os EUA, uma vez que ela poderia ser obrigada a compartilhar dados com o governo chinês, é irônico, uma vez que o Tio Sam é acusado de já exigir o compartilhamento de informações de usuários das plataformas sediadas no país.

Ressalte-se que, se os Estados Unidos afirmam que não é seguro usar o TikTok por causa da China, por que deveríamos acreditar que é seguro usar o X, o Facebook, o Instagram e o Threads por causa dos Estados Unidos? Há elementos para outros países desconfiarem — até porque a colaboração de plataformas com o governo dos EUA foi largamente mostrada pelo vazamento de documentos da NSA, o Conselho de Segurança Nacional.

Toda essa história do TikTok é uma fonte inesgotável de contradições. Após ter divulgado um “relatório” acusando o Brasil, o Supremo Tribunal Federal e o ministro Alexandre de Moraes de censura ao X/Twitter, a maioria dos membros do Comitê de Assuntos Jurídicos da Câmara dos Deputados dos EUA votou, em abril, por banir o TikTok do país caso o controle não passasse para uma empresa norte-americana.

O relatório criticando as instituições brasileiras foi produzido, aliás, com arquivos repassados pela empresa de Musk, que atacou sistematicamente instituições brasileiras.

Após as declarações de Mark Zuckerberg, que viu uma oportunidade de negócios com a volta do Trump ao poder e deu um cavalo de pau nas políticas da Meta a ponto de autorizar chamar homossexuais de doentes mentais, Brasil, União Europeia e Austrália avaliam como se fortalecer nesse campo. Mais que nunca, as Big Techs tendem a ser usadas em nome dos interesses políticos e econômicos de alguns atores dos EUA.

A decisão da Suprema Corte desta sexta é um sinal nesse sentido. Deveria servir para que supostos patriotas percebam que não estão defendendo o interesse nacional.

Publicado originalmente no UOL

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