Por trás de uma das figuras mais emblemáticas da história da música eletrônica, um semblante simpático, e uma postura tranquila

Steve Angello ocupa seu espaço com conforto, e transmite isso à quem se aproxima. Poucos minutos o separavam de sua próxima performance, quando eu tive a oportunidade de conhecê-lo, e nenhuma preocupação parecia o afetar – o que é de se esperar de alguém que fez isso milhares de vezes ao redor do mundo. 

O mais surpreendente foi desvendar sua motivação ao longo da conversa: se divertir. 

Ao se aproximar de um ídolo, sobretudo alguém que marcou a história da Dance Music, não se sabe ao certo o que esperar. Como se porta uma estrela amada em todos os continentes, alguém cuja arte atingiu pessoas bilhões de vezes? 

No caso de Steve, simplicidade, objetividade, e uma personalidade calorosa, exatamente quem ele é no palco. Foi o que eu senti, e o que logo ele me explicaria: não há distinção entre o artista e a pessoa. Em dado momento perguntei: 

Como você lida com seu lado artístico e criativo… e antes que pudesse terminar a pergunta, ele dá uma risada alta e genuína, partindo para a resposta, como quem já foi perguntado sobre aquilo inúmeras vezes:

Você não equilibra! Hahaha! Você simplesmente não equilibra. Esse sou eu, cara. Essa é minha vida, sabe? Eu vivo isso. Eu não vou ao trabalho, é assim que eu vivo. Toda vez que eu vejo algo que me inspira, toda vez que eu vejo algo que me desafia, seja lá o que for, é a vida! E tudo isso é uma grande coisa só.”

Mas você acredita que o lado “business” pode impactar muito nisso? 

Eu não ligo pra isso, sabe? Pra mim é diferente. Eu só quero me divertir, fazer coisas boas, fazer bons shows, lançar músicas. E obviamente, se o “business” está funcionando, legal! Se não está, indica que tem que trabalhar mais intensamente.”

Se hoje a diversão e sua verdade norteiam o projeto, fica evidente o pilar de sustentação disso: O trabalho árduo e contínuo. 

Eu comecei quando ainda era muito novo. Eu comecei a performar em clubes quando tinha 14 ou 15 anos, e então, aos 17, comecei a fazer residências. Aos 18 eu já estava viajando. Demorou um bom tempo. Mas eu acredito que você só tem que trabalhar duro, se dedicar, e se divertir, sabe?”

Natural da Grécia, e radicado na Suécia, Steve Angello cresceu em meio a conflitos familiares e sociais, e logo cedo decidiu dedicar-se à arte. Foi na discotecagem que tudo teve início, até então sem distinção de gêneros musicais. 

Ele começou mixando principalmente Hip-Hop, aos poucos passou a ter interesse pela Dance Music, e ao conhecer o Daft Punk, teve a fagulha de inspiração que o fez ingressar neste mundo. 

Eu iniciei com breaks, beats, então comecei a samplear, e aos poucos fui para a música eletrônica. Mas então descobri Daft Punk, e percebi que eles usavam todas as técnicas do Hip-Hop na música eletrônica. Eu fui fisgado, e assim tudo começou.”

O quanto você acredita que a cultura musical da Suécia impactou no seu desenvolvimento artístico? 

Muito! Eu acredito que, enquanto crescemos, tivemos muitos filmes e programas infantis com músicas muito melancólicas, eu acredito que a cultura sueca e seu lado sombrio nos inspirou.”

E depois, como você lidou com a transição de ser alguém que fazia música e tocava somente pela paixão, para se tornar um nome mundialmente conhecido? 

É complicado! Demorou um longo tempo. Nós começamos em pequenos clubes, para 30 pessoas, e então viraram 50, e então 80, daí 200, e então 250, e então 300. A cura foi muito muito lenta. Eu comecei a performar com 14, 15 anos, aos 17 comecei a fazer residências em clubes, e então aos 18 eu já estava viajando para me apresentar, então demorou bastante tempo. Eu acredito que seja importante trabalhar duro, se dedicar, e se divertir.”

Quando você começou, ainda jovem, você imaginava que chegaria onde está? 

Sabe, eu sempre tive um sonho. Meu objetivo sempre foi me tornar algo. Antes de tudo, minha meta era viver de música, esse era meu sonho. E então quando você alcança, começa a construir novos sonhos. Eu sempre tive a meta de fazer algo grande e espetacular. Então eu eu nunca parei de trabalhar, por anos e anos e anos”

Antes de ser conhecido pelo seu próprio nome, Steve Angello ingressou na música eletrônica com diferentes projetos. Dentre eles Who’s Who, Fireflies, General Moders, Mode Hookers, e muitos outros. 

Um de seus primeiros sucessos, a faixa “Tell Me Why”, foi assinada como Supermode, projeto no qual formava dupla com Axwell. 

Ao longo da sua carreira você teve inúmeros ‘aliases’ (projetos/nomes paralelos) diferentes, e até mesmo hoje tem seus projetos paralelos. O quão importante é isso, para um artista da sua magnitude, em termos de manutenção da criatividade? 

Quando eu era mais novo, era diferente, porque houve um período em que, os artistas de EDM não poderiam fazer coisas diferentes, não poderiam tocar coisas diferentes. E o mesmo com o público do techno, se um artista de Techno fizesse algo fora da caixa, seria um ‘jogo sujo’. Então nós usávamos muitos aliases para nos divertir. Era como uma tela vazia. Ninguém sabia de nada, e nós lançávamos músicas que ninguém sabia que eram nossas. Até hoje, muitos desses nomes ninguém sabe. É sobre se divertir, e aproveitar fazer música” 

Movido pela vontade de lançar músicas livremente, Steve fundou uma plataforma para promover seu trabalho, a Size Records, gravadora criada em 2005, e que há quase 20 anos vem fomentando a cena eletrônica. 

Como você vê o impacto da Size Records em quase 20 anos em atuação? 

Nós achamos muitos artistas, fizemos os primeiros lançamentos de muitos artistas, como Eric Prydz, Afrojack, Avicii. Antes de tudo, é uma plataforma para jovens, na qual eu quero assinar novos talentos, ajudá-los a lançar suas músicas da maneira que ninguém me ajudou quando eu era novo. Eu quero estar lá para ajudá-los, e se fizerem sucesso, continuarem lançando músicas, legal, se lançarem por outras gravadoras, tudo certo por mim também. Nós queremos nos divertir, trazer essas crianças e lançar músicas que gostamos.”

O sucesso global viria alguns anos à frente, através do Swedish House Mafia, trio ao lado de seu amigo de infância Sebastian Ingrosso, e Axwell. Foi através deste projeto que Steve Angello se tornaria conhecido por assinar algumas das faixas mais importantes da história da música eletrônica. 

Atualmente, o artista tornou-se um sinônimo de autoridade na música eletrônica. Não poderia ser diferente com alguém que viveu tantas fases da Dance Music, inclusive moldando-as. 

Que movimentos da cena eletrônica mais tem chamado sua atenção ultimamente? 

Eu já estive nessa antes, sabe? Toda a cena da música passa por um grande loop. É a mesma coisa se repetindo, a cada 15 ou 20 anos. São os mesmos gêneros, os mesmos tipos de artistas, o mesmo… movimento. Então, isso impacta, mas não é nada que já não tenhamos visto antes. Eu vejo que a tecnologia está sendo aprimorada, as pessoas estão aproveitando isso, e isso é muito empolgante, sabe? Eu amo isso, ver novos talentos, ver pessoas desafiando, e levando as coisas para a frente.”

Divertir-se no processo é importante. Fazer o que ama é importante, e sem dúvida alguma, fazer com que o artista no palco, e a pessoa por trás da obra sejam indistinguíveis, é um diferencial de artistas como Steve Angello. 

No entanto, às vezes é preciso dar espaço ao silêncio. Poucos dias após conhecer essa figura tão querida e carismática, um assunto foi posto em pauta pelo próprio: a necessidade de respirar, após 25 anos ininterruptos de carreira. 

Sempre fui uma pessoa introvertida, alguém que vive dentro de seus pensamentos, encontrando energia não em multidões, mas na solidão. E é nessa solidão que minha criatividade começa a respirar,a se expandir, a florescer.” desabafou o artista através das redes sociais. 

Mas ao contrário do que muitos podem ter pensado, isso não  necessariamente representa um hiato. O silêncio, neste contexto, pode ser a ferramenta que pavimentará o caminho do DJ daqui para frente. 

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