Trabalho: paridade entre gêneros deve crescer lentamente

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De acordo com dados colhidos e divulgados pelo Grant Thornton, apenas 33,5% dos cargos de alta gerência são ocupados por mulheres atualmente. Em 2004, esse número era ainda menor (19,4%). Nesse ritmo de crescimento, a expectativa é de que a paridade entre homens e mulheres no mercado intermediário em cargos de alta gerência seja alcançada apenas em 2053. 

Outra pesquisa, realizada pela Korn Ferry, mostrou que apenas um em cada cinco alto executivos é do sexo feminino. Em entrevista com mais de 20 pessoas, a consultoria constatou que 35% afirmam que as empresas precisam encorajar mais as mulheres para cargos comerciais ligados ao lucro das organizações. 

Para a empresária Cristina Boner, os dados refletem um avanço preocupantemente lento e evidenciam que, embora os debates sobre equidade de gênero tenham ganhado força, os resultados práticos ainda estão aquém do esperado. “É um chamado à ação para governos, empresas e a sociedade em geral para acelerar as mudanças e enfrentar as barreiras estruturais que impedem a equidade de gênero na liderança”, afirma. 

Segundo a profissional, alguns dos motivos pelos quais é possível observar uma lentidão no avanço da ocupação das mulheres em cargos de liderança são:  

  • Perpetuação de estereótipos de gênero que associam liderança a características historicamente atribuídas aos homens;
  • Ausência de medidas concretas, como cotas, políticas de equidade salarial e programas de mentoria para mulheres;
  • Sobrecarga de trabalho doméstico e cuidados familiares, que ainda recaem desproporcionalmente sobre as mulheres;
  • Rede de poder fechada, uma vez que muitas lideranças masculinas ainda operam em ambientes onde a inclusão de mulheres não é incentivada.

A entrevista feita pela Korn Ferry reforça, ainda, que 70% das pessoas acreditam que programas de incentivo e capacitação das mulheres no início das carreiras podem fazer com que elas atinjam seu potencial e cresçam mais rapidamente. 

Para Cristina, a equidade de gênero na liderança não é apenas uma questão moral, mas também estratégica. “Empresas com maior diversidade em suas lideranças têm melhor desempenho financeiro, são mais inovadoras e apresentam maior retenção de talentos”, afirma. 

“Além disso, alcançar a paridade exige que homens e mulheres trabalhem juntos, criando um movimento coletivo em direção à mudança. Isso também implica ouvir as mulheres, entender suas experiências e adaptar estratégias que respondam às necessidades reais do mercado e da sociedade”, complementa. 

De acordo com a profissional, apesar do lento progresso, as mulheres devem se manter otimistas, uma vez que cada conquista realizada inspira outras mulheres e, embora os números sejam baixos, o aumento demonstra que mudanças são possíveis e que esforços contínuos geram impacto. 

“Estudos mostram que a diversidade de gênero na liderança melhora o desempenho financeiro e a inovação nas empresas, fortalecendo a relevância da equidade. Ainda, movimentos globais e mudanças culturais estão gerando mais consciência sobre a importância da equidade, criando um cenário mais promissor para o futuro”, comenta. 

Organizações têm protagonismo no cenário de mudança

Cristina aponta qual papel das empresas, em sua visão, do ponto de vista de reconhecimento, recursos humanos e desenvolvimento interno, para que as mulheres possam alcançar cargos de liderança mais rapidamente. “As empresas têm um papel central nesse processo, e podem contribuir de diversas formas, começando pelo reconhecimento, valorizando as conquistas das mulheres e garantindo que elas tenham visibilidade e oportunidades iguais para promoções”. 

“Quanto aos recursos humanos e desenvolvimento interno”, prossegue a empresária, “é possível adotar processos de recrutamento livres de preconceitos, com metas claras de diversidade e oferecer treinamentos, programas de liderança e oportunidades reais de crescimento, garantindo um preparo maior das profissionais”.

“E por fim, a cultura organizacional da empresa deve promover um ambiente inclusivo onde as mulheres possam prosperar sem enfrentar discriminações ou barreiras injustas”, complementa Cristina. 

Para além do papel das companhias no processo de paridade dos gêneros nos cargos de liderança, a empresária reforça que também é preciso levar em conta o papel da sociedade como um todo. “Os caminhos para que possamos alcançar a igualdade no mercado de trabalho devem ser implementados desde cedo, como combater estereótipos de gênero nas escolas, incentivar a parceria entre homens e mulheres, melhorar a flexibilidade de horário e suporte para mães e pais nos trabalhos e exigir transparência salarial de todas as companhias para que possam corrigir suas disparidades de remuneração”, finaliza. 

Cristina Boner (@cristina.boner) | Cristina Boner | LinkedIn

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