Começa o ano da serpente na China, época de criatividade; eles vão precisar de muita

Nesta quarta-feira (29), o calendário tradicional da China entra no ano 4723. As celebrações da passagem se estenderão por 15 dias enquanto a segunda maior economia do mundo começa um ano regido pela serpente de madeira, segundo a astrologia local. O animal representa sabedoria, conhecimento e criatividade, atributos necessários para as autoridades locais, que lutam contra o declínio do crescimento econômico, ao longo de 2025 (no calendário gregoriano). 

Para Lucas Sigu Souza, sócio-fundador da Ciano Investimentos, a regência do ano-novo chinês condiz com o momento econômico do país, que precisa de um bom plano para resolver assuntos como aumento de tarifas de importação nos Estados Unidos, crescimento arrefecendo e consumo doméstico fraco.

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“O sistema político da China permite que a estratégia desenhada seja, de fato, cumprida, sem interferências de mudanças de presidente, por exemplo. Economicamente, para eles, é muito mais fácil cumprir uma estratégia”, compara. 

As habilidades atribuídas à serpente serão necessárias para os agentes econômicos do país asiático, já que “a China tem um ano duro pela frente, de desaceleração econômica, com estímulos insuficientes para mudar essa tendência”, segundo Marianna Costa, economista-chefe da Mirae Asset. 

Os desafios para o crescimento econômico

Mesmo antes da eleição de Donald Trump, já existia a expectativa de desaceleração do crescimento econômico da China, lembra Costa. Em 2023, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 5,2% e, no ano passado, avançou 5%. 

Os economistas defendem que o modelo de crescimento está perto do seu limite. “Vai precisar de uma mudança na dinâmica dessa economia”, segundo a especialista da Mirae. Em 2024, o crescimento foi puxado pelas exportações e estímulos do governo, enquanto o consumo interno desacelera. 

O país asiático atravessa uma crise imobiliária que já dura anos e não parece perto do fim em 2025. O problema tem aspectos estruturais e conjunturais: a industrialização causou uma migração do campo para a cidade e aumentou a demanda por habitação nos grandes centros. Com isto, o setor se desenvolveu e, estimulado, gerou grandes estoques. 

A crise iminente se tornou explícita com o choque de elevação de juros após a pandemia de Covid-19, que impactou as empresas fortemente alavancadas que operavam com a pré-venda de moradias. Com unidades sobrando nos estoques e consumidores sem confiança, o preço das casas vem caindo, o que afeta o bolso de quem já investiu em uma moradia. Além disso, a população está envelhecendo e diminuindo, o que pressiona o consumo interno. 

A longa lista de desafios da economia chinesa em 2025 ainda tem o fator mais comentado nas últimas semanas: a tarifa de importação prometida por Trump. Durante campanha, o republicano chegou a prometer imposto de 60%, mas vem diminuindo o tom, falando em tarifa de 10% e possibilidade de negociação. 

“Ele só falou em 10% porque precisava ser minimamente coerente com sua campanha, já que o tom mais agressivo tende a vender. Na prática, há muitas partes envolvidas, empresas que não aceitam mudanças abruptas”, avalia Souza. 

Caminhos alternativos

Para limitar as perdas com as tarifas de Trump, a China deve tomar quatro atitudes, segundo Marianna Costa. A primeira é partir para a retaliação, mas evitando “bater de frente” com os EUA, algo que não seria do interesse chinês. Os asiáticos ainda devem procurar outros países para vender suas mercadorias. Os estímulos do governo também são uma alternativa importante. Por último, a negociação com os norte-americanos, que vai ganhando abertura nos dois lados, mostra o noticiário econômico recente. 

Sabedoria

Na disputa por outros países compradores, os especialistas destacam Índia, Indonésia, Arábia Saudita, Tailândia e Coreia do Sul. Para Souza, eles têm demanda suficiente para absorver parte da produção que hoje vai para os Estados Unidos.

“São países com mais dinheiro ou população; a Índia é um dos únicos países com expectativa de crescimento populacional, a Arábia Saudita, todos sabem, é um país rico, e a Indonésia tem um misto de população grande e riqueza”. 

Aqui, a sabedoria da serpente é bem-vinda, já que a expansão geográfica pode fazer os países adotarem uma postura protecionista para se protegerem da “invasão de produtos chineses”, segundo Costa, da Mirae. 

Na frente de estímulos, o governo chinês deve anunciar medidas gradativamente. A ideia é ter cartas na manga para reagir conforme a política econômica adotada por Trump.

A cada pacote anunciado, porém, vai ficando claro para o mercado que aumento salarial de funcionários públicos, grandes emissões de títulos públicos de dívida e incentivos fiscais para o mercado imobiliário não são suficientes para fazer o país crescer mais.

“Talvez a China não cresça os 6% ao ano e fique mais perto dos 4,5%”, mesmo com os incentivos do governo, diz Marianna Costa. 

O FMI (Fundo Monetário Internacional) também espera desaceleração da economia chinesa, mas vem revisando para cima suas projeções por lá. No último dia 17, o fundo mudou sua estimativa de crescimento de 4,5% para 4,6% em 2025.

Para o ano que vem, a projeção saiu de 4,1% para 4,5%. Os estímulos fiscais e a reforma da previdência “compensam, em grande parte, o efeito negativo sobre o investimento devido ao aumento da incerteza da política comercial e do mercado imobiliário’, dz relatório do órgão internacional. 

China em crise? Como fica o Brasil? 

Mesmo diante de vários desafios e necessidade de mudanças estruturais, a economia chinesa não está em crise, garantem os especialistas ouvidos pelo InfoMoney. Souza, da Ciano, resume a situação chinesa e os impactos para o Brasil: “a China cresceu 5% em 2024, o que ainda é maravilhoso, a preocupação com ela não é crescer pouco, é encolher. Se uma empresa já vende R$ 1 milhão por ano para a China, não vai perder vendas porque ela cresceu menos, vai passar a vender R$ 1,05 milhão”. 

Para ele, “se a China não crescer industrialmente, só não vamos crescer em venda de minério de ferro, mas vamos vender o mesmo que ano passado, estão muito longe de reduzir o consumo”. 

Mesmo que o crescimento da demanda chinesa pelas commodities produzidas no Brasil desacelere, não haverá “queda tão abrupta, que gere impacto significativo” para a nossa economia, segundo Marianna Costa. “Não dá para falar em crise, mas a tendência é muito clara’, conclui. 

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