Fed é guiado por metas econômicas e pela lei, diz Powell após crítica de Trump

Ao responder a uma série de perguntas sobre a influência do governo Trump sobre o banco central dos Estados Unidos, o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, disse nesta quarta-feira (29) que a política não motivou a decisão do Fed de deixar um grupo global voltado para o clima e não afetará suas decisões sobre a taxa de juros.

E embora Powell tenha dito que o Fed está trabalhando para alinhar suas políticas de pessoal com o decreto do presidente Donald Trump que proíbe a promoção da diversidade e inclusão, ele sinalizou que as mudanças podem ser limitadas, dizendo que elas seriam “consistentes com a lei aplicável” e que ele continua convencido de que a diversidade é uma marca registrada das organizações bem-sucedidas.

O Fed protege cuidadosamente a independência de sua política monetária, argumentando que a influência política sobre a definição dos juros do banco central prejudica sua capacidade de controlar a inflação.

Trump, que frequentemente criticou Powell e o Fed durante seu primeiro mandato, está novamente testando esses limites, dizendo na semana passada que “exigirá” cortes imediatos nos juros.

“Não é apropriado” comentar sobre o que o presidente diz, disse Powell nesta quarta-feira, quando perguntado sobre o tema.

Mas, acrescentou, “o público deve estar confiante de que continuaremos a fazer nosso trabalho como sempre fizemos, com foco no uso de nossas ferramentas para atingir nossos objetivos e realmente manter a calma”.

Com a inflação ainda acima da meta de 2% do Fed, disse ele, o banco central vai esperar por sinais de mais progresso na inflação ou de fraqueza do mercado de trabalho antes de reduzir ainda mais os juros. Ele também se recusou a especular sobre como as políticas de Trump sobre comércio, imigração, impostos e regulamentação afetarão a economia. “O comitê está aguardando para ver quais políticas serão adotadas”, disse ele.

Logo após a coletiva de imprensa, Trump lançou uma nova rodada de críticas. “Se o Fed tivesse dedicado menos tempo à diversidade, equidade e inclusão, à ideologia de gênero, à energia ‘verde’ e à falsa mudança climática, a inflação nunca teria sido um problema”, escreveu Trump em uma publicação na rede social Truth Social, prometendo que resolverá a alta dos preços com suas políticas.

O Fed e todos os seus 12 bancos regionais retiraram de seus sites as seções dedicadas à diversidade racial e de gênero na época da posse de Trump, em 20 de janeiro, e de seu decreto que instruiu órgãos governamentais a encerrar os esforços para promover a diversidade, a equidade e a inclusão.

As mudanças incluíram a remoção de dados sobre o número de economistas femininas ou que são parte de grupos minoritários no Fed e padrões para a diversidade de pessoal.

Esses padrões foram desenvolvidos de acordo com as exigências das reformas financeiras Dodd-Frank de 2010 aprovadas pelo Congresso norte-americano. A deputada democrata Maxine Waters argumentou que um decreto não pode desfazer o que, segundo a Dodd-Frank, é uma exigência legal para promover diversidade e inclusão.

“Estamos analisando os decretos e os detalhes associados” das novas políticas de diversidade, disse Powell, e “como tem sido nossa prática ao longo de muitas administrações, estamos trabalhando para alinhar nossas políticas com os decretos, conforme apropriado e consistente com a lei aplicável”.

Ele não abordou nenhuma possível mudança na política de recrutamento ou contratação do banco central.

Risco climático

Três dias antes da posse de Trump, o Fed se retirou de uma organização global de bancos centrais dedicada a explorar formas de reduzir o risco climático no sistema financeiro.

O Fed ingressou no grupo em 2020, no final do primeiro mandato de Trump, após a eleição do democrata Joe Biden para a Presidência.

“Estou ciente de como isso pode parecer, mas na verdade não foi motivado por política”, disse Powell sobre a decisão. Ele afirmou que havia decidido sugerir a ideia de deixar o grupo “há alguns meses” porque o mandato da organização havia se expandido de tal forma que “não era mais uma boa opção para o Fed”.

Ainda assim, alguns analistas continuam a ver nas ações recentes do banco central uma certa diminuição da independência do Fed.

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