Dirceu: “Brasil não pode perder o controle sobre seu destino”

José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil. Foto: reprodução

Nesta quinta-feira (30), José Dirceu, ex-ministro-chefe da Casa Civi, publicou um artigo na Folha de S.Paulo defendendo que, diante das incertezas geopolíticas e econômicas globais, agravadas pelo retorno de Donald Trump à presidência dos EUA, o Brasil precisa avançar em um projeto nacional de desenvolvimento baseado em reindustrialização, infraestrutura e transição energética, sem “perder o controle do seu destino”.

Ele argumentou que Lula tem experiência em superar crises e deve priorizar crescimento econômico, fortalecimento da articulação política e combate à emergência climática para garantir a autonomia do país e sua relevância internacional. Leia alguns trechos: 

Uma era de grandes incertezas econômicas e mudanças significativas no cenário geopolítico internacional, como a que vivemos hoje no mundo, exige de um país como o Brasil capacidade de controlar o próprio destino a fim de moldar o seu futuro. Esse é talvez o grande desafio do nosso tempo, uma questão que deve dirigir tanto nossa política externa quanto um inadiável projeto nacional de desenvolvimento.

O início do novo governo de Donald Trump, com um conjunto de medidas que inevitavelmente vão aguçar conflitos geopolíticos e instabilidade econômica, só acelera essa necessidade.

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O presidente dos EUA tem a sua convicção, e o Brasil também precisa ter a sua. Sobretudo, precisa ter a certeza de que, em uma época de mudanças como a nossa, não pode perder o controle do seu destino e do seu futuro.

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Já vínhamos em um mundo de conflitos com impacto global, como a guerra entre Rússia e Ucrânia e a guerra de Israel contra o povo palestino, mas há também os problemas econômicos enfrentados pelos EUA em decorrência da sobrevalorização do dólar, da dívida pública, dos riscos de inflação e da ameaça de perder a hegemonia comercial e tecnológica, além da redistribuição de poder e da força da emergência de países como China, Índia, Rússia, Irã, Turquia, Indonésia, Arábia Saudita e Brasil.

Há também, nos EUA, o agravamento da desigualdade social, do crime e da violência, o crescimento dos sem-teto, a crise em seu sistema saúde e o desafio da imigração, sem a qual a economia norte-americana não vive.

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Esse cenário exige, mais do que nunca, um projeto nacional de desenvolvimento, ancorado na Nova Indústria Brasil, no PAC e na transição energética e ambiental —tema no qual venho insistindo, especialmente com a necessidade do Brasil buscar autonomia tecnológica e financeira, cuja ausência pode fazer com que o país termine por perder a capacidade de construir seu próprio destino. Sem isso, seguiremos à mercê das instabilidades e incertezas internacionais, perdendo o bonde das transformações geopolíticas e econômicas.

Dirceu e Lula durante o segundo mandato do petista. Foto: Ricardo Stuckert

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Mais do que nunca, o Brasil precisa equilibrar-se entre a ascensão da China e do Sul Global, que são a força emergente do século 21, e nossas históricas relações com os EUA e a Europa.

Para esse equilíbrio ser bem-sucedido, porém, o Brasil precisa de uma estratégia capaz de preparar o país para enfrentar as consequências das medidas que Trump adotará e, ao mesmo tempo, promover uma verdadeira revolução social capaz de preservar nossa liderança na integração da América do Sul.

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Agendas prioritárias:

1. A economia tem de continuar a crescer, sem o que todas as outras prioridades ficam prejudicadas. Ao mesmo tempo, o aumento da cesta básica é uma realidade. Precisamos de uma resposta efetiva, com uma política agrícola nacional para a agricultura familiar e a formação de estoques reguladores.

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3. O crime organizado em todo o país e o avanço do narcotráfico na região da Amazônia demandam a continuidade e o fortalecimento da política anunciada pelo Ministério da Justiça, com visibilidade e impacto.

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5. As mudanças na comunicação do governo devem incluir as relações e as articulações políticas com o Congresso e a sociedade. A comunicação precisa ser vista, portanto, de forma ampliada: sem articulação política ampla, uma pode inviabilizar a outra.

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7. Além de aperfeiçoar a articulação política com o Congresso, é preciso dar visibilidade e transparência às negociações com o Legislativo e, sobretudo, não recuar na necessária mudança nas emendas parlamentares impositivas —ou o governo seguirá refém de uma estrutura que não exige dos partidos compromisso com o êxito das políticas públicas.

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A história mostra que Lula sabe superar crises e impasses

A atenção devida a essas agendas é o primeiro passo para que o país possa construir, de fato, um projeto nacional de desenvolvimento, tendo como base a Nova Indústria Brasil, o PAC e a transição energética e ambiental, o que resultará no fortalecimento da indústria, do setor agrícola e em transferência de tecnologia e de financiamento de longo prazo.

O presidente Lula já mostrou diversas vezes que tem capacidade, liderança e experiência na superação de momentos de grande impasse, reorientando o seu governo. Basta lembrar que, entre 2005 e 2006, seu primeiro governo enfrentou uma crise de proporções inéditas, precisando lidar com os efeitos do que se convencionou chamar de crise do mensalão.

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Agora, nesse mundo que surgirá, é hora, mais uma vez, de uma orientação em suas políticas e no exercício de sua capacidade de liderança. Mais do que nunca, o país precisará de coesão interna e de um projeto nacional que nos ajude a enfrentar as incertezas internacionais. É o meio, enfim, de o Brasil ter domínio sobre o seu destino.

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