Empresas se queixam de “epidemia de bets” no ambiente de trabalho

Apostas em bet

Os jogos de azar, conhecidos popularmente por bets, estão afetando a vida dos funcionários de empresas de diversos segmentos, em uma “epidemia” que faz apostas serem encaradas como investimento e traz problemas financeiros para os envolvidos, segundo estudo inédito realizado pela Creditas Benefícios, em parceria com Wellz by Wellhub e Opinion Box.

De 405 entrevistas realizadas com profissionais de recursos humanos e em cargos de gestão de médias e grandes empresas entre novembro e dezembro de 2024, a maioria (80%) acredita que as apostas podem afetar o desempenho dos colaboradores, e 73% afirmaram que o tema deve ser tratado internamente – apesar disso, poucas (6%) tomaram algum tipo de providência.

Dos entrevistados, 53% relatam que os colaboradores enfrentam dificuldades financeiras devido às apostas; 54% afirmam que funcionários utilizam horários de descanso, como a pausa para o almoço, para jogar; e 56% acreditam que seus colaboradores acreditam que apostas sejam uma forma de investir.

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Quando perguntados sobre a impressão em relação ao envolvimento dos funcionários com apostas, 47% afirmou que percebeu um aumento nos últimos anos, enquanto 20% acha que se manteve o mesmo. Apenas quatro 4% acredita que o envolvimento tenha diminuído.

“É interessante perceber que 20% não soube responder essa questão. Isso significa que profissionais de RH e gestores estão distantes dos seus colaboradores, considerando que mais de 70% dos entrevistados reconhecem a importância do tema”, explica Felipe Schepers, diretor de operações do Opinion Box.

Bets e educação financeira menos relevantes

A falta de atenção também foi refletida ao descobrir que o tema “bets” é menos discutido (6%) do que ergonomia, citado por 26% dos entrevistados. Educação financeira vem logo após, com 30% de citações, superado por comunicação assertiva (31%) e gestão tempo (37%).

Os temas com mais popularidade entre os gestores foram liderança e saúde mental, com 60% das citações cada; plano de carreira, com 48%; diversidade, 46%, e inteligência artificial, com 41%.

O erro de não falar

A insatisfação expressada por 29% dos entrevistados em relação aos esforços das empresas para lidar com as bets e o impacto na saúde financeira e emocional dos funcionários também expressa a falta de atenção para o tema.

Embora quase metade (47%) dos entrevistados acreditem que seus colaboradores estejam cientes de potenciais consequências negativas das apostas, apenas 36% sentem que a liderança de suas organizações está preparada para lidar com o problema – uma contradição em vista dos riscos ao indivíduo e à organização que as apostas representam.

“A alta capacidade de gerar dependência faz das apostas e jogos de azar – reconhecidos no DSM-5 como ‘Gambling Disorder’ – um problema de saúde mental grave, que pode levar a consequências extremas, incluindo o suicídio”, explica Ines Hungerbühler, psicóloga PhD e Head de Estratégia Clínica do Wellz.

Do lado do impacto na organização, os profissionais entrevistados, que são especialistas em gestão de pessoas, enxergam como potenciais malefícios causados pelas bets nas suas equipes: impacto na saúde mental e física dos colaboradores (66%), queda de produtividade (59%), colaboradores mais ansiosos (51%).

“As bets tanto causam ansiedade quanto são usadas como fuga de um quadro de ansiedade”, pontua Schepers, do Opinion Box, que complementa explicando que, no limite de uma reação em cadeia, este cenário pode até mesmo levar a uma insatisfação do colaborador com o próprio salário, gerando um efeito real na produtividade, nas relações interpessoais e no resultado na empresa.

Debater bet é debater educação financeira e saúde mental

“Essa pesquisa serve como um alerta para que as organizações abordem proativamente esse tema entre os funcionários. Ao implementar estratégias abrangentes que incluam educação financeira, para que as pessoas entendam que apostas não são investimentos ou segunda fonte de renda, apoio e comunicação aberta, as empresas podem mitigar os impactos negativos do jogo e promover um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo”, explica Guilherme Casagrande, educador financeiro da Creditas.

Ines Hungerbühler reforça a importância de implementar essas estratégias de maneira personalizada, considerando o perfil social e econômico dos colaboradores. “A primeira conversa tradicionalmente acontece de uma maneira mais geral, mas esse primeiro momento precisa abrir espaço para uma orientação personalizada”, finaliza.

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