Jornada interior e tributo aos anos 1990 pautam “O Melhor Amigo”

Tendo o elogiado “Pacarrete” (2019) no currículo, Allan Deberton volta aos cinemas com “O Melhor Amigo”. Logo na primeira cena, o espectador se depara com o personagem Lucas (Vinicius Teixeira) no momento em que descobre sua homossexualidade. Ele troca um beijo com  Felipe (Gabriel Fuentes), com quem depois perde contato. Uma passagem temporal flagra o agora jovem arquiteto em uma relação morna com o dedicado Martin (Léo Bahia). O rapaz não poupa esforços para demonstrar seus sentimentos.

Por não querer se estabelecer em uma zona de conforto, Lucas pausa o relacionamento e  viaja para Canoa Quebrada, onde, em meio às paisagens idílicas desta que é uma das praias  mais visitadas do Ceará, reencontra Felipe. Mais que isso, se propõe a novas experiências em um percurso que, no final das contas, é também de autodescobrimento.

Tributo aos 1980

No entanto, como o próprio material de apresentação do filme enviado à imprensa salienta, mais que a jornada do personagem, “O Melhor Amigo” presta tributo aos anos 1990, particularmente no que tange à espera musical. Parênteses: há também um flerte aos 80 e referências atuais, como Beyoncé. São escolhas que, óbvio, refletem desejos particulares do diretor e corroteirista – essa tarefa, ele divide com Raul Damasceno, Otavio Chamorro e Pedro Karam.

Sendo assim, em “O Melhor Amigo” entram em cena várias participações especiais, que incluem, por exemplo, a cantora Gretchen. Do mesmo modo, de atores que Deberton convidou para reforçar essa reverência, como Cláudia Ohana – que, aqui, interpreta a mística Estrela D’Alva. Outra presença que vai chamar a atenção do público é a do ator Matheus Carrieri, com quem Lucas inicialmente  experimenta um trisal e, mais tarde, um ménage à quatre (digamos assim).

Coreografias

O elenco de “O Melhor Amigo” abarca, ainda, um bom número de atores e atrizes cearenses: Dênis Lacerda (Deydianne Piaf), Souma, Muriel Cruz, Rodrigo Ferrera (Mulher Barbada), Solange Teixeira, Patrícia Dawson, Walmick de Holanda, Gabriel Arthur e Adna Oliveira. Não só. O filme contou com a participação de corpo de baile, que executa  as coreografias idealizadas por Rômulo Vlad.

Dissemos coreografias? Sim. Embora não se trate de um musical, “O Melhor Amigo” inclui alguns números do gênero. Ou seja, há cenas nas quais o personagem passa a expressar seus sentimentos ao soltar a voz por meio de canções conhecidas, cujo curso é acompanhado por dançarinos, nas citadas coreografias.

Ousadia

É, vamos combinar, um recurso ousado. Diríamos, temerário. À primeira vista, penso que a decisão não vai agradar a gregos e troianos. É que, de certa forma, pensando especificamente neste roteiro, inserir um componente de entretenimento na trama acaba bifurcando o caminho. Isso porque, nestes momentos, a condução passa (creio eu) a se dissociar um pouco do citado aspecto da jornada de autodescoberta para se render ao de tributo a uma era.

Mas é também óbvio que esse risco foi assumido com total consciência pelos roteiristas e por Deberton, que também está na produção, por meio de sua Deberton Filmes. “O Melhor Amigo” entra em cena também em coprodução com o Telecine e produção associada da Mistika. No aspecto fotografia, o filme traz belos recortes da paisagem exuberante do Ceará, particularmente no poente.

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