Carregar ou vender: o que fazer se o título de renda fixa perdeu valor?

Se você já ouviu falar sobre prejuízos na renda fixa além dos calotes, pode ter se deparado com o conceito de marcação a mercado. Graças a seus efeitos, quem coloca dinheiro no Tesouro Direto ou papéis de crédito privado, como as debêntures, pode, sim, sair no prejuízo – ou ganhar mais dinheiro do que o esperado. 

Quem investiu no Tesouro Prefixado 2035, por exemplo, pode se assustar ao ver que a rentabilidade acumulada do papel nos últimos 12 meses é de -8,95%, segundo o site do Tesouro Direto. O resultado atual pode motivar o investidor a vender o título e comprar outro – ou o mesmo – com taxa maior, mas especialistas recomendam cautela com esse tipo de movimento. 

Rafael Abrantes, gerente de produtos de renda fixa da XP, diz que “a marcação a mercado não é um prejuízo; é uma simulação de como seria a venda do ativo naquele momento”. Ele lembra que “se o investidor levar o título até o vencimento, terá a renda fixa que contratou”. Ou seja, o retorno negativo de quase 9% do Tesouro Prefixado 2035 só se concretizará para quem vender o título hoje. 

O que é e como calcular a marcação a mercado? 

A marcação a mercado é a conta de quanto um ativo comprado lá atrás vale hoje, com as condições atuais – os preços refletem fatores como a taxa de juros atual, os juros futuros e a oferta e demanda pelo ativo.

A regra é que, quanto maior a taxa atual na comparação com o valor contratado, menor o valor que será calculado para o título no momento da venda, e vice-versa. Isso faz com que o investidor, em geral, fique no zero a zero se vender para reinvestir no mesmo papel a uma taxa maior. 

Um exemplo: um investidor adquiriu R$ 20.000 de um título IPCA+ com vencimento em 2029 no final do ano passado, a uma taxa de 7,05%. Se esperar até o vencimento, ele receberá R$ 32.106, mas se vender hoje, com a taxa a 7,94%, terá apenas R$ 20.072, quase o mesmo valor que investiu. 

Esse deságio que “come” toda a rentabilidade acumulada nesses meses é o preço que o comprador pede para abrir mão de um papel que paga 7,94% (a taxa que ele encontra hoje no mercado) por outro que paga 7,05% (a taxa antiga).

Se o vendedor do exemplo reinvestir esse valor no mesmo IPCA 2029, receberá no vencimento R$ 32.080, e terá prejuízo de R$ 26. Esses cálculos podem ser feitos na calculadora que o Tesouro Direto disponibiliza. Além da simulação básica, que calcula o retorno líquido se carregar o papel até o vencimento, é possível fazer a conta do resgate antecipado na aba “simulação avançada”.

Outro ponto importante que deve ser considerado é que quanto menor o tempo da aplicação, maior o IR a ser pago, o que também pode prejudicar o resgate antecipado.  

Cautela no resgate antecipado

Considerando quem tem marcação a mercado negativa em algum de seus papéis atualmente, Thiago Manso, responsável pela plataforma de renda fixa da XP, diz que “só faz sentido realizar prejuízo (na venda antecipada) se o movimento te tirar do ativo original”.

No crédito privado, o investidor pode passar a não se sentir confortável com o risco da companhia emissora, o que justificaria uma saída antecipada, mesmo com deságio, com o objetivo de migrar para um papel considerado mais seguro, exemplifica o especialista. 

Outro exemplo de troca que pode fazer sentido, segundo Abrantes, é por um título de vencimento mais curto. O movimento pode trazer menos volatilidade ao portfólio até o vencimento do papel e, portanto, diminuir o risco do investimento. 

Mariana Conegero, planejadora financeira e sócia da The Hill Capital, diz que se o objetivo é travar uma rentabilidade atrativa por muito tempo, o investidor pode decidir alongar o vencimento. “Eu costumo sempre analisar caso a caso antes de recomendar essa troca. Mas acredito que se o resgate resultar em prejuízo hoje, não vale a pena. Tente reservar outro valor para investir e aproveitar as taxas atuais e resgatar investimentos apenas quando a marcação estiver positiva”, diz Conegero.

Para quem tem medo de contratar as taxas atuais e, nos próximos meses, ver remunerações mais altas, Manso recomenda ter um horizonte de investimentos muito claro: “não adianta comprar IPCA+ 2050 se o investidor precisa do dinheiro a qualquer momento, senão vira uma questão de sorte”. 

Portanto, os especialistas recomendam um bom planejamento antes de realizar os aportes para não deixar os resultados dependendo da marcação a mercado. “O investidor precisa entender que a renda fixa levada ao vencimento é fixa e diminuir prazo significa mitigar riscos”, conclui Rafael Abrantes.

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