O fantasma de uma bolha das big tech ronda Wall Street?

Howard Marks, sócio-fundador e co-chairman da Oaktree Capital Management (Arte: Telmo Hideki)

“Para mim, uma bolha ou um colapso são mais um estado de espírito do que um cálculo quantitativo”. É a partir deste prognóstico que Howard Marks, o fundador da Oaktree Capital, elaborou uma carta a clientes para decifrar se o mercado pode estar diante de uma bolha envolvendo as principais empresas de tecnologia americanas.

Suas credenciais dão peso ao memorando. Foi Marks um dos responsáveis por antecipar, no início dos anos 2000, que a bolha da internet estaria prestes a estourar e levar junto uma série de empresas do setor de telecomunicações e e-commerce consigo.

Em dez páginas, Marks é menos taxativo desta vez e evita cravar uma bolha, embora demonstre preocupação quanto à postura dos investidores frente ao grupo chamado “Magnificente Seven”, formado por Alphabet (controladora do Google), Apple, Microsoft, Amazon, Nvidia, Meta (dona de Facebook, Instagram e WhatsApp) e Tesla.

Para ele, uma bolha não reflete apenas a disparada nos preços de ações, “mas um estado de mania caracterizado por — ou, melhor, resultado de — o seguinte”:

  • Exuberância altamente irracional
  • Adoração absoluta das empresas ou ativos em questão e a crença de que eles não podem errar
  • Medo excessivo de ficar para trás caso deixe de participar do momento (sentimento chamado de FOMO, ou fear of missing out, na sigla em inglês)
  • Convicção de que, para essas ações, “não há preço tão alto”

Howard Marks não crava nova bolha, mas faz sinalizações

O comportamento dos investidores hoje é similar a algumas das últimas grandes bolhas nos Estados Unidos, como a da internet, prevista por ele mesmo, e a das Nifty Fifty na década de 1970, avalia Marks.

Ele cita o exemplo da Nvidia (NVDC34), a desenvolvedora de chips que se tornou a queridinha dos investidores em tecnologia. Pelos atuais múltiplos baseados em lucros futuros aos quais as ações da companhia são negociadas hoje, as projeções dos investidores são de que empresa seguirá crescendo até 2030, sem ser suplantada por concorrentes.

É um nível de “persistência” raro. Marks demonstra que, entre as 20 empresas mais representadas no S&P 500 há 24 anos atrás, a Microsoft (MSFT34) é a única entre as “Magnificent Seven” que já estava lá.

Esse tipo de comportamento, avalia, muitas vezes é melhor explicado pela psicologia do que pelos números. “Quando todos acreditam que as coisas só podem melhorar para sempre, pode ser difícil encontrar qualquer coisa razoavelmente precificada”, escreveu no documento.

“Bolhas são marcadas por pensamento de bolha. Talvez por trabalhar propostas nós devamos dizer que bolhas e colapsos são momentos em que eventos extremos levam pessoas a perder sua objetividade e ver o mundo por uma psicologia distorcida — seja positivamente ou negativamente”, diz.

Sua leitura é de que há três estágios para identificar um “bull market” (ciclo de alta de preços).

A primeira delas ocorre logo após uma queda no mercado que deixa os investidores desanimados, onde apenas alguns mais perspicazes são capazes de imaginar um cenário de melhoria. Depois há uma melhoria que leva todos a acreditarem em uma melhoria, e aí, em um último momento, quando os lucros estão subindo e tudo parece bem, a avaliação é de que nada pode piorar.

Em outubro, as “Magnificent Seven” representaram entre 32% e 33% da capitalização do S&P 500. Nos últimos 28 anos, a maior participação que as sete empresas no topo do índice tiveram foi de 22% em 2000, no pico da bolha da internet.

Marks pondera alguns contra-argumentos: os múltiplos do S&P 500 são altos, “mas não insanos”; as “Magnificent Seven” são companhias “incríveis”, então o múltiplo de preço por lucro poderia estar garantido; ele também não ouve pessoas falando que “não há preço tão alto”; e o mercado, embora sobrevalorizado e superficial, não parece “maluco”.

Preocupação em Wall Street

O fundador da Oaktree não é a única voz a defender que há riscos de uma bolha estourar. No final do ano passado, o hedge fund Elliott Management disse em uma carta a seus investidores que a Nvidia está em uma “bolha” e que a tecnologia de inteligência artificial (IA) que impulsiona o preço das ações da companhia está “superestimada”.

Muitos dos supostos usos da IA “nunca serão economicamente viáveis, nunca funcionarão corretamente, consumirão muita energia ou se mostrarão suspeitos”, dizia uma carta divulgada internamente, segundo o Financial Times.

Roger McNamee, CEO da firma de venture capital Elevation Partners, afirmou em uma entrevista à CNBC em julho que os Estados Unidos “adoram uma mania financeira” e avaliou que as projeções feitas pelos investidores para bancar os elevados investimentos em infraestrutura para IA generativa são difíceis de avaliar. O especialista acredita que uma bolha pode estar sendo formada.

The post O fantasma de uma bolha das big tech ronda Wall Street? appeared first on InfoMoney.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.