WEG: analistas tentam medir real “efeito DeepSeek” para ação após turbulência recente

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A semana começou com turbulência para as ações da WEG (WEGE3), com queda de quase 8% para os ativos na sessão de segunda-feira (27). O mercado repercutiu um tema que ainda pouco comum para as ações brasileiras – e que ainda é visto como bastante nebuloso sobre qual será a real repercussão para as empresas da B3.

Trata-se do “efeito DeepSeek”, que gerou bastante preocupação com empresas de tecnologia dos Estados Unidos, mas também com fabricantes de equipamentos como Siemens Energy e Schneider, em razão de incertezas sobre gastos necessários com a infraestrutura de inteligência artificial.

A startup chinesa lançou na semana passada um assistente gratuito que, segundo ela, usa menos dados por uma fração do custo dos modelos das empresas já estabelecidas, possivelmente marcando um ponto de virada no nível de investimento necessário para a IA – e que derrubou ações de techs no mundo todo (assim como a WEG).

A primeira visão era de uma leitura negativa para a WEG, dado que T&D [Transmissão e Distribuição] acaba sendo a grande avenida de crescimento da companhia no curto-prazo. Com a visão de custos menores para desenvolvimento da IA, as ações acabaram sofrendo também, mas analistas tentam se debruçar sobre qual o real impacto do “efeito DeepSeek”.

Conforme destacam Lucas Laghi e equipe, que assinam relatório da XP sobre o tema, a IA se tornou um impulsionador mais claro para investimentos em data centers, impulsionando a demanda da rede (portanto, transformadores). Eles ressaltam que semana passada, realizaram conferência para discutir a perspectiva de T&D com a Siemens Energy, com prazos de entrega mais altos na indústria (2-3 anos) apoiando um ponto de preço favorável e nova capacidade esperada para entrar no mercado até 2027-28.

Já nesta semana, as visões sobre as bases da a demanda estrutural de T&D foram questionados desde o avanço do DeepSeek, com 10 a 40 vezes menos consumo de energia do que seu comparável nos EUA, levantando questões sobre os investimentos estruturais necessários para data centers em todo o mundo (e particularmente fora da China).

Até a semana passada, as empresas relacionadas ao tema de T&D estavam em um movimento contínuo de reclassificação de múltiplos. Assim, com o “efeito DeepSeek” as ações de empresas como Siemens Energy e GE Vernova despencaram, com o mercado questionando o crescimento estrutural para investimentos em infraestrutura relacionados à IA se a tecnologia se tornar mais concentrada na China.

A XP ainda vê mais perguntas do que respostas, mas ressalta alguns insights sobre o tema desde então: (i) DeepSeek já gerou preocupações sobre Segurança Nacional (como o TikTok), com uma potencial proibição desses aplicativos chineses em discussão no Congresso dos EUA; (ii) Data Center representa apenas um dos muitos impulsionadores do aumento global no uso de eletricidade (menos de 5% da previsão de crescimento da Agência Internacional de Energia para 2023-2030), com os principais impulsionadores derivando de várias indústrias, prédios, veículos elétricos e aquecimento/resfriamento de ambientes.

A equipe de análise do BTG Pactual aponta que o tema global das IAs chinesas causou uma queda massiva em todos os principais nomes de infraestrutura elétrica e, ao refletir sobre o tema, tenta traçar uma linha sobre até onde tem conhecimento para opinar e onde não tem.

“Com certeza não estamos fazendo uma estimativa sobre se a DeepSeek pode gerar disrupção no modelo de negócios do ChatGPT, mas sabemos o quanto os fluxos de investidores estrangeiros têm sustentado a performance da WEG nos últimos meses, razão pela qual achamos que um processo de rotação global, como o visto segunda, provavelmente deixará algum impacto. Mesmo assim, a história de crescimento de lucros da WEG e como o mercado historicamente a precifica não deve mudar muito”, avalia o banco.

A equipe de análise ressalta que, se alguma vez havia alguma questão sobre o “tema relacionado à IA” implícito no preço das ações da WEGE3, na segunda-feira houve uma resposta clara.

A queda de cerca de 8%, ainda que significativa, mostra que a precificação da IA na WEG continua a ficar atrás de outros nomes com maior exposição à construção de infraestrutura de IA, que tiveram desempenhos piores, como Eaton, GE Vernova e Schneider.

O que realmente os analistas apontam que querem entender agora é se há algum risco de revisões negativas nos lucros para a WEG – e a estimativa fundamentada diz que provavelmente não. “Embora a WEG não divulgue seu backlog (carteira de pedidos), os relatórios de todos os seus principais concorrentes mostram níveis recordes, e esses backlogs são a evidência mais clara de que a demanda está bastante forte. Em nossa interação recente com o CEO, ele mencionou um cenário de forte demanda nos EUA por alguns anos, e não acreditamos que esse panorama mudará no curto/médio prazo”, avalia o BTG.

Para o BTG, a WEG é uma tese de crescimento de lucros de alta qualidade e uma tese geradora de valor para os acionistas. A característica de alta qualidade (que se tornou escassa no Brasil recentemente) vem de seu histórico de ROIC (retorno sobre capital investido) superior ao dos pares e de uma história de crescimento muito longa (e comprovada ao longo do tempo). Isso é improvável de mudar. O ROIC deve continuar a subir com o mix de produtos favorável e a abertura de novos mercados.

A desvalorização do real também ajuda no crescimento dos lucros. Usando a taxa de câmbio atual, o banco vê a WEG negociando a cerca de 29 vezes o múltiplo sobre preço sobre lucro para 2025, o que está dentro da sua faixa histórica de negociação de 25-35 vezes. Com base em tudo isso, vê qualquer queda das ações como exagerada (como a de segunda) como uma oportunidade de compra.

A XP também vê as reações como exageradas. Para os analistas da casa, embora não se possa negligenciar os riscos de crescimento para uma ação de alta duration/crescimento como a WEGE3, dadas as informações que existem por enquanto, vê o desempenho atual como uma potencial reação exagerada, apoiada por: (i) menor exposição relativa da WEG ao tema em comparação aos pares (estima 10-15% de exposição a T&D nos EUA para a WEG, em comparação a 20-30% para os pares); e (ii) baixa exposição do backlog da WEG a projetos de Data Center (conforme discutido em sua teleconferência do 2T24, sua principal exposição é por meio da Marathon, que tinha uma posição de liderança de mercado nos EUA), com a renovação da rede como um impulsionador de demanda independentemente da IA. A casa reiterou sua postura positiva e classificação de compra para a WEG.

Apesar da liquidação de tecnologia nos EUA e das preocupações crescentes sobre investimentos em infraestrutura de IA, o BBI nota que a demanda robusta por T&D nos EUA já estava aumentando antes do boom da IA, e espera que isso continue independentemente dos avanços do data center, sustentando a demanda por WEG. A recomendação do banco para a ação é neutra, com preço-alvo de R$ 50. Além disso, vê que o governo dos EUA provavelmente tomará todas as decisões necessárias para manter sua liderança nessa frente de IA.

O Goldman Sachs, por sua vez, permanece com recomendação de venda para a WEG, pois vê uma combinação de crescimento abaixo da média no nível de lucro líquido para os próximos anos, juntamente com um P/L acima da mediana histórica de cerca de 31 vezes em 2025 (versus mediana de 12 anos de cerca de 25 vezes), mesmo quando se considera o forte momento operacional que a empresa está passando atualmente. O banco vê riscos com para as expectativas de crescimento da divisão GTD da WEG no exterior por conta do “efeito DeepSeek”.

“Por outro lado, vale a pena notar que a WEG é vista como uma ação defensiva no Brasil, o que significa que as ações tendem a ter desempenho superior em condições macroeconômicas piores”, aponta.

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