América do Norte se prepara para novas tarifas de Trump às vésperas do fim do prazo

WASHINGTON (Reuters) – Empresas, consumidores e fazendeiros de toda a América do Norte se preparavam nesta sexta-feira (31) para que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impusesse tarifas de 25% sobre as importações canadenses e mexicanas dentro de algumas horas, o que poderia interromper quase 1,6 trilhão de dólares em comércio anual.

Trump estabeleceu prazo até sábado para impor as tarifas punitivas em razão de suas exigências de que o Canadá e o México tomem medidas mais rigorosas para interromper o fluxo de imigrantes ilegais e do opioide mortal fentanil para os EUA.

Trump disse na quinta-feira (30) que ainda está considerando uma tarifa adicional de 10% sobre as importações chinesas para punir a China por sua participação na questão do fentanil.

Grupos do setor estavam buscando qualquer informação sobre como Trump planeja implementar as tarifas, se ele iria impor o total de 25% com efeito imediato ou se as anunciaria, mas adiaria sua implementação para dar algum tempo para negociações sobre as medidas que os países poderiam tomar.

Mesmo a imposição imediata exigiria duas ou três semanas de aviso antes que a agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA pudesse iniciar as cobranças, com base em ações tarifárias anteriores.

Trump disse na quinta-feira que decidiria em breve se aplicaria as tarifas às importações de petróleo canadense e mexicano, uma indicação de que ele pode estar preocupado com o impacto sobre os preços da gasolina nos EUA. O petróleo é a principal importação dos EUA do Canadá e está entre as cinco principais importações do México, de acordo com dados dos EUA.

Um porta-voz da Casa Branca disse que nenhum anúncio de tarifa está previsto para esta sexta-feira.

O principal assessor comercial de Trump, Peter Navarro, disse na sexta-feira que a receita tarifária ajudará a pagar pela extensão dos cortes de impostos de Trump de 2017, que totalizam cerca de 4 trilhões de dólares e expiram este ano.

“O presidente Trump tem um novo e excelente corte de impostos, o maior da história, e as tarifas podem facilmente pagar por isso”, disse Navarro à emissora CNBC.

Duas fontes familiarizadas com o assunto disseram que se esperava que Trump invocasse a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional como base legal para as tarifas, declarando uma emergência nacional pela overdoses de fentanil –que matou quase 75.000 norte-americanos em 2023 — e a imigração ilegal.

O estatuto, promulgado em 1977 e modificado após os ataques de 11 de setembro de 2001, dá ao presidente amplos poderes para impor sanções econômicas em uma crise.

Entre as ferramentas da lei comercial à disposição de Trump, a lei de emergência lhe daria o caminho mais rápido para impor tarifas amplas, já que outras exigem longas investigações do Departamento de Comércio ou do escritório do Representante Comercial dos EUA.

Os indicados de Trump para dirigir essas agências, Howard Lutnick e Jamieson Greer, ainda não foram confirmados pelo Senado para assumir os cargos. Trump usou a lei de emergência para respaldar uma ameaça tarifária de 2019 contra o México por questões de fronteira.

Disruptura

A imposição das tarifas destruiria um sistema de livre comércio de 30 anos que construiu uma economia norte-americana altamente integrada, com autopeças às vezes cruzando as fronteiras várias vezes antes da montagem final de um carro, por exemplo.

Economistas e executivos de empresas alertaram que as tarifas provocariam grandes aumentos nos preços de importações de produtos como alumínio e madeira do Canadá; frutas, legumes, cerveja e eletrônicos do México; e veículos de ambos os países.

As tarifas são pagas pelas empresas que importam produtos, que repassam os custos aos consumidores ou aceitam lucros menores, dizem os economistas.

“As tarifas do presidente Trump taxarão primeiro os Estados Unidos”, disse Matthew Holmes, chefe de políticas públicas da Câmara de Comércio Canadense. “Com custos mais altos nas bombas de gasolina e nos supermercados, as tarifas afetam a economia em cascata e acabam prejudicando os consumidores e as empresas dos dois lados da fronteira. É uma situação em que todos perdem”.

O Canadá elaborou alvos detalhados para a retaliação tarifária imediata, incluindo taxas sobre o suco de laranja da Flórida, o Estado adotado por Trump para viver, disse uma fonte familiarizada com o plano. O Canadá tem uma lista mais ampla de metas que poderiam atingir 150 bilhões de dólares canadenses em importações dos EUA, mas realizaria consultas públicas antes de agir, disse a fonte.

O ministro de Energia e Recursos Nacionais do Canadá, Jonathan Wilkinson, disse que a resposta do Canadá se concentraria em produtos que prejudicam mais os norte-americanos do que os canadenses.

Durante o primeiro mandato de Trump, a China atacou a soja e outros produtos agrícolas dos EUA, enquanto a União Europeia atacou produtos norte-americanos icônicos, incluindo o uísque bourbon e as motocicletas Harley-Davidson.

A presidente do México, Claudia Sheinbaum, disse que o México também retaliaria, argumentando que as tarifas de Trump custariam 400.000 empregos nos EUA e aumentariam os preços para os consumidores norte-americanos.

Porém, mais recentemente, Sheinbaum duvidou publicamente que Trump cumprirá sua promessa de impor as tarifas, dizendo: “Sinceramente, não acreditamos que isso vá acontecer”.

No domingo, Trump travou uma guerra comercial de 10 horas com o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, ameaçando o país sul-americano com tarifas de 25% devido à sua recusa em permitir voos militares dos EUA carregados com deportados colombianos. A crise terminou quando Petro concordou em aceitar os voos.

A China tem sido mais circunspecta sobre seus planos de retaliação. Liu Pengyu, porta-voz da embaixada da China em Washington, enfatizou a cooperação da China com os EUA na contenção do tráfico de fentanil e disse que espera que os EUA “não considerem a boa-vontade da China como garantida”.

Um executivo de um grupo comercial dos EUA, falando sob condição de anonimato, disse que os comentários recentes de Trump indicando algum progresso em relação ao fentanil e às preocupações com a imigração indicavam que havia uma boa chance de que as tarifas fossem anunciadas, mas suspensas. O executivo acrescentou que Trump talvez precise apoiar suas ameaças com ações.

“Se eles continuarem ameaçando e depois não colocarem em prática, perderão a credibilidade”, disse o executivo.

(Reportagem de David Lawder e Andrea Shalal; reportagem adicional de Jarrett Renshaw, em Washington; David Ljunggren e Promit Mukherjee, em Ottawa; e Cassandra Garrison, na Cidade do México)

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