Evangélicos chamam Jesus de “liberal” e “fraco demais”

Russell Moore. Foto: Reprodução

A Christianity Today é uma das mais influentes publicações cristãs dos Estados Unidos. Fundada em 1956 pelo pastor Billy Graham, a revista tem historicamente representado um segmento do evangelicalismo mais moderado e intelectualizado.

Nos últimos anos, porém, a radicalização política da comunidade evangélica tem levado a uma crise interna, algo que o atual editor-chefe da revista, Russell Moore, vê com grande preocupação.

Moore, que já foi uma figura de destaque na Convenção Batista do Sul, renunciou à organização em 2021 após enfrentar conflitos com outros líderes religiosos. Ele criticou abertamente o apoio incondicional de muitos evangélicos a Donald Trump e condenou a forma como a Convenção Batista do Sul lidou com uma crise de abuso sexual e com o crescente nacionalismo branco dentro da igreja.

Agora, ele acredita que o evangelicalismo nos EUA enfrenta um momento de ruptura.

Em entrevista à rede pública NPR, divulgada na terça-feira, Moore relatou que diversos pastores lhe disseram ter citado o Sermão da Montanha em seus cultos, especialmente a parte onde Jesus ensina a “oferecer a outra face”. Segundo Moore, fiéis frequentemente abordavam os pregadores após os cultos com agressividade.

“O que me alarmou é que, na maioria desses casos, quando o pastor explicava: ‘Estou literalmente citando Jesus Cristo’, a reação não era um pedido de desculpas. Em vez disso, as pessoas respondiam: ‘Sim, mas isso não funciona mais. Isso é fraqueza’”, relatou Moore. “Quando chegamos ao ponto em que os próprios ensinamentos de Jesus são vistos como subversivos, então estamos em crise.”

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Alex Brandon/AP

Moore aponta a radicalização política dos EUA como um fator determinante para essa mudança na mentalidade de muitos evangélicos. Ele observa que cada vez mais questões são apresentadas como ameaças existenciais, criando um senso de urgência que leva muitas pessoas a justificar medidas extremas.

Nesse cenário, não surpreende que tantos evangélicos tenham abraçado Donald Trump como um líder quase messiânico. Ao longo de sua campanha e governo, Trump se posicionou como um defensor da pauta evangélica. Ele transferiu a embaixada dos EUA em Israel para Jerusalém, endureceu as políticas de imigração contra países de maioria muçulmana e indicou vários juízes conservadores para a Suprema Corte, fortalecendo uma guinada à direita na jurisprudência americana.

Sua promessa de reverter o direito ao aborto se concretizou quando a Suprema Corte revogou a decisão Roe v. Wade em junho. Durante seu governo, várias proteções à população LGBTQ foram desmanteladas e, nos protestos de junho de 2020 contra o assassinato de George Floyd, Trump ordenou a dispersão violenta de manifestantes para posar com uma Bíblia em frente à igreja de St. John, em Washington, D.C.

À medida que Trump se inclina ainda mais à extrema direita, Moore vê um problema maior: muitos evangélicos passaram a segui-lo de forma quase cega, mesmo quando isso significa rejeitar os próprios ensinamentos de Jesus.

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