Gerdau, Usiminas e CSN: por que as ações subiram mesmo com ameaça de tarifas dos EUA?

Indústria siderúrgica. (Foto: Karan Bhatia/ Unsplash)

Os mercados amanheceram nesta segunda-feira (10) com os temores de um novo anúncio de tarifas, agora de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio de vários países (podendo incluir o Brasil) para os Estados Unidos, Por aqui, contudo, Gerdau (GGBR4) registrou alta após o anúncio, enquanto CSN (CSNA3), Usiminas (USIM5) tiveram um dia volátil, mas fecharam em alta. A CBA (CBAV3), de alumínio, por sua vez, fecharam em queda, mas ainda assim tímida, de cerca de 1%.

As declarações foram feitas por Donald Trump, presidente dos EUA, e ocorreram poucos dias após a entrada em vigor de suas tarifas de 10% contra a China, ressalta a XP Investimentos. Canadá, Brasil, México, Coreia do Sul e Vietnã estão entre os maiores exportadores de aço para os Estados Unidos. O Canadá, por sua vez, é o maior exportador de alumínio para o país.

O Itaú aponta que os EUA são o destino de 48% das exportações de aço do Brasil (16% do alumínio).

Os produtos siderúrgicos semiacabados estão entre os principais produtos exportados pelo Brasil para os EUA, ao lado de petróleo bruto, produtos siderúrgicos semiacabados e aeronaves, ressalta o Itaú.

Segundo o governo dos EUA, entre novembro de 2023 e novembro de 2024, o Brasil foi o segundo maior fornecedor de aço, em volume, para o país.

Durante seu primeiro mandato, Donald Trump também impôs uma tarifa de 25% sobre o aço importado pelos Estados Unidos. Dois anos depois, o governo dos EUA reduziu a cota de importação de aço semiacabado do Brasil.

Em 2022, sob Joe Biden, os americanos revogaram as medidas restritivas. Além disso, Trump também anunciou que pretende implementar “tarifas recíprocas” — aumentando as taxas dos EUA para equiparar as dos parceiros comerciais — em muitos países esta semana. Ele não especificou os países, mas as tarifas seriam impostas “para que sejamos tratados igualmente com outros países”.

Olhando para as empresas, o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, ressalta que a Gerdau (GGBR4) deve ser pouco afetada ou até mesmo beneficiada com a medida de Trump, se efetivada. Afinal, a siderúrgica tem produção nos Estados Unidos que praticamente supre a demanda por lá, avalia o especialista.

Por sinal, antes da abertura do mercado brasileiro, os ADRs (recibo de ações negociados nos EUA) da Gerdau subiam mais de 1% no pré-market da Bolsa de Nova York, com a alta se estendendo no pregão da B3 para as ações da siderúrgica. Enquanto isso, CSNA3 e USIM5 fecharam com ganhos após um começo de sessão atribulado.

GGBR4 saltou 5,21% (R$ 17,57), a R$ 17,34, CSN (CSNA3) subiu 1,45% (R$ 9,07), após oscilar entre leves perdas e ganhos no início do pregão. Usiminas (USIM5) chegou a ter queda mais forte, mas também fechou com ganhos, de 2,14%, a R$ 5,72. Já CBA (CBAV3) teve queda de 1,09%, a R$ 5,44.

O Bradesco BBI ressalta impacto positivo na Gerdau. Para os analistas do banco, embora cerca de 50% do lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) da empresa venha de suas operações nos EUA, todos os volumes vendidos na região são produzidos localmente.

“Se as tarifas forem de fato implementadas, devemos ver alguma tração positiva nos preços. Observamos, no entanto, que os produtos de aço longo representam menos de 20% das importações totais de aço dos EUA, o que implica em um benefício relativamente maior para os preços do aço plano”, avalia.

Para a Usiminas, a visão é de um impacto imaterial, diz o Bradesco BBI. “Estimamos que cerca de 2,5% do Ebitda consolidado da empresa vem da América do Norte. No entanto, com o Brasil fornecendo mais de 60% da necessidade de aço semiacabado dos EUA (principalmente placas), notamos que tarifas potenciais podem implicar em maior disponibilidade de placas no Brasil, traduzindo-se em custos mais baixos para a Usiminas”, avalia.

A visão também é de impacto imaterial para a CSN. “A empresa não tem recorrido aos mercados de exportação nos últimos trimestres, principalmente devido ao amplo prêmio de preço doméstico”, aponta o BBI.

O banco vê a CBA também registrando impacto imaterial, estimando que aproximadamente 3% do Ebitda da empresa vem dos EUA.

“No geral, notamos que as indústrias de aço e alumínio dos EUA são fortemente dependentes de material importado, já que as importações respondem por cerca de 25% e cerca 20% do consumo aparente de ambos os setores. Nesse sentido, os EUA não têm capacidade doméstica suficiente para atender à demanda por ambos os produtos. Dito isso, embora reconheçamos que o risco de aumento de tarifas agora é maior, esperamos ver ajustes no que foi relatado”, avalia o banco.

O BTG Pactual aponta que a primeira reação do mercado é esperar que os preços de aço e alumínio de curto prazo nos EUA aumentem devido a possível escassez de fornecimento regional ou interrupções na cadeia de fornecimento. No entanto, a relação oferta-demanda global é raramente impactada, pois o fornecimento é normalmente redirecionado de uma região para outra, o que significa que os preços globais podem não reagir, com o impacto sendo assim mais regional.

O banco também vê a Gerdau normalmente como uma beneficiária neste contexto. “No entanto, alertamos os investidores de que ainda não sabemos por quanto tempo essas tarifas ou o fluxo de notícias permanecerão em vigor, e os fundamentos da indústria siderúrgica nos EUA permanecem um tanto fracos no curto prazo (a indústria está operando a cerca de 73% da capacidade)”, avalia.

Para os analistas, os fundamentos do setor siderúrgico brasileiro se deterioraram ultimamente, com descontos relevantes nos preços de vergalhões de 4-5% em janeiro, o que deve impactar a dinâmica de resultados no curto prazo. “Embora a reação inicial possa ser ‘cobrir’ as posições shorts (vendidas) ou procurar trading de curto prazo, recomendamos alguma cautela”, avalia o BTG.

Próximos passos

Novos desdobramentos devem ser observados com atenção pelos investidores em Brasil. Em fala no programa Morning Call desta segunda-feira, o economista-chefe da XP, Caio Megale, ressaltou que Trump parece buscar reciprocidade nas taxações. “Ele olha os países que tarifam exportações dos Estados Unidos e, com isso, busca criar tarifas na mesma proporção”, afirmou.

“O Brasil está mal posicionado nesse sentido. O Brasil tem tarifas de importação relativamente elevadas de diversos produtos e as taxas (de exportação) para os Estados unidos não são tão elevadas assim. Por esse prisma, o Brasil tende a estar no foco na política comercial dos Estados Unidos”, ressaltou.

“O impacto macroeconômico não é nada. Mas no micro pode ser relevante”, afirmou. Segundo ele, as empresas que estão envolvidas no comércio de aço podem ter impacto “relevante”.

“A guerra comercial de Trump não foi efetivamente implementada. As tarifas estão mais na ameaça e na negociação, mas todo dia dá uma chacoalhada no mercado”, complementou o especialista.

O Morgan Stanley ressalta que, como os EUA são um importador líquido de alumínio e aço, então tarifas de importação significam preços domésticos mais altos. Neste estágio, ainda não está claro quando as tarifas sugeridas serão implementadas, ou se serão, mas o banco destaca que construir e aumentar novas fundições/usinas pode levar três anos ou mais.

“Portanto, quaisquer tarifas de importação aplicadas a metais ou produtos minerados provavelmente resultarão em preços domésticos mais altos (ou prêmios físicos) nos EUA de até 25% para compradores locais desses materiais, particularmente em alumínio, dada a escassez de oferta doméstica”, avalia.

A Alcoa se beneficiaria das tarifas devido ao seu negócio de fundição nos EUA. A capacidade da Alcoa nos EUA é de 291 kmt (mil toneladas métricas), representando 13% da capacidade total de fundição da empresa.

“Dada a forte dependência dos EUA do alumínio importado (as importações líquidas representam cerca 82% da demanda refinada), esperamos que quaisquer tarifas de importação se traduzam diretamente em um prêmio mais alto (ou seja, o que os compradores pagam além do preço da commodity para obter a entrega física do metal)”, avalia.

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