Deputado bolsonarista apresentou emendas com “valores quebrados” para facilitar rastreio de agiota

Josimar Maranhãozinho e Jair Bolsonaro: o deputado apresentou emendas com “valores quebrados” para facilitar o rastreamento posterior por agiota. Foto: reprodução

Conversas rastreadas pela Polícia Federal (PF) indicam que o deputado federal Josimar Maranhãozinho (PL-MA), investigado por um suposto esquema de desvio de emendas parlamentares, fez indicações ao Ministério da Saúde no governo de Jair Bolsonaro (PL) que poderiam ser identificadas e posteriormente cobradas pelo agiota Josival Cavalcanti da Silva, conhecido como Pacovan, junto às prefeituras beneficiadas. Com informações do Globo.

Em um dos diálogos, Josimar revelou a Pacovan que indicava “valores quebrados”, como R$ 1,048 milhão e R$ 4,123 milhões, para facilitar a cobrança. Ele e outros dois deputados do PL, Pastor Gil (MA) e Bosco Costa (SE), foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em agosto de 2023 por corrupção passiva e organização criminosa.

A denúncia sustenta que o grupo, sob a liderança de Josimar, direcionou recursos federais para a prefeitura de São José do Ribamar (MA), em 2019, com o objetivo de que o dinheiro fosse posteriormente coletado por Pacovan. O caso está sob relatoria do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou sua inclusão na pauta de julgamentos da Corte.

Pacovan, formalmente empresário do ramo de combustíveis, ficou conhecido no Maranhão por emprestar dinheiro a candidatos em campanhas eleitorais, prática que configura crime de caixa dois. Em uma entrevista ao Leriado Podcast em 2022, ele admitiu cobrar juros de até 50% ao ano e tomar bens em caso de inadimplência, embora negasse a prática de agiotagem, chamando sua atividade de “comércio”. Em junho de 2024, Pacovan foi assassinado, em um caso ainda sob investigação da Polícia Civil do Maranhão.

Quitação de dívida e cobranças

A investigação da PF revelou que Pacovan também cobrava recursos públicos como forma de quitação de supostas dívidas. Em dezembro de 2019, no primeiro ano de Josimar como deputado federal, mensagens de WhatsApp mostram que o agiota foi informado sobre três repasses do Ministério da Saúde para custeio de unidades municipais, totalizando R$ 6,6 milhões.

Embora não fossem formalmente emendas parlamentares, os diálogos sugerem que Josimar planejou as indicações de forma a serem identificadas como suas.

Atirador treinado e ligações antes de morrer: o que se sabe da morte de Pacovan | Portal AZ
O agiota Josival Cavalcanti da Silva, conhecido como Pacovan: ele foi assassinado em junho de 2024. Foto: reprorudção

Cerca de um mês depois, em janeiro de 2020, Pacovan reclamou com Josimar sobre dificuldades em convencer a prefeitura de São José do Ribamar a lhe repassar parte dos recursos, alegando que o dinheiro estaria sendo direcionado a outro lobista, identificado como Ebenezer. O deputado tranquilizou o agiota, explicando que havia feito indicações de “valores quebrados” para facilitar a identificação.

“Foi votado (sic) com valores quebrados para não ter essa (sic) tipo de problema”, afirmou Josimar.

Mensagens analisadas pela PF também mostram que Josimar orientou Pastor Gil a “deixar 1.048 para Ribamar” e conversou com Bosco Costa sobre repasses ao mesmo município, embora Costa fosse de outro estado. Registros indicam que Costa direcionou R$ 4,123 milhões, enquanto Josimar ficou com R$ 1,5 milhão.

Nas conversas, Pacovan demonstrou irritação ao ver a prefeitura dificultando o repasse da verba da Saúde. Ele mencionou que esperava “R$ 1,6 milhão de devolução” e enviou a Josimar os contatos do prefeito e do secretário municipal de Saúde, pedindo ajuda para “esclarecer” a situação.

“Porque eu quero desmascarar esse cara que tá dizendo que é dele. Ele vai pegar uma bala na cara. Esse vagabundo. Eu fiquei ontem até meia-noite lá com o prefeito, no Ribamar”, disse Pacovan em um áudio enviado a Josimar, segundo a PF.

Ligação entre Josimar e Pacovan

A relação entre o deputado e o agiota ia além dos recursos da Saúde. Em entrevista a um podcast em 2022, Pacovan elogiou Josimar, dizendo que ele era “gente boa” e “sempre me tratou bem”, além de destacar sua boa relação com Josinha Cunha (PL), irmã do deputado e prefeita de Zé Doca.

Durante a gestão de Josinha, entre 2019 e 2020, o município firmou contratos de R$ 1,6 milhão com um dos postos de gasolina de Pacovan, o Posto Joyce I, localizado na BR-316. Em junho de 2024, o agiota foi executado nesse mesmo posto, com tiros pelas costas.

A Polícia Civil investiga a hipótese de que a execução esteja ligada a uma disputa entre Pacovan e uma ex-funcionária do posto. A cidade de Zé Doca segue sob controle da família de Josimar: em 2024, ele elegeu sua sobrinha, Flavinha Cunha (PL), como sucessora da tia na prefeitura.

Conheça as redes sociais do DCM:

⚪Facebook: https://www.facebook.com/diariodocentrodomundo

🟣Threads: https://www.threads.net/@dcm_on_line

Adicionar aos favoritos o Link permanente.