Xícara de R$ 210 e fraude: caso Tania Bulhões expõe as picaretagens do mercado de luxo

A empresária Tania Bulhões se viu no centro de uma denúncia depois que uma internauta levantou dúvidas sobre a autenticidade de uma xícara da marca nas redes sociais. Na última sexta-feira (7/2), a empresa atribuiu o episódio a um descuido dos fornecedores e anunciou a interrupção da produção da coleção Marquesa. Além disso, pediu desculpas aos clientes.

Fundadora da renomada marca de luxo especializada em decoração, porcelanas e perfumaria, Bulhões está à frente da direção criativa da empresa há 35 anos. Suas coleções vão de artigos para casa a fragrâncias exclusivas, com um conceito descrito no site oficial como de “aura naturalmente sofisticada”.

Em 2023, a empresária adquiriu a Royal Limoges, uma tradicional fábrica de porcelanas na França, e atualmente está construindo uma unidade de produção própria em sua cidade natal, Uberaba (MG). Segundo a marca, essa nova fábrica poderá absorver a produção dos itens descontinuados.

Antes de ingressar no segmento de decoração de alto padrão, Bulhões começou sua trajetória no artesanato. Em 1989, abriu sua primeira loja em Uberaba, MG, onde vendia peças feitas à mão, como pratos, quadros e móveis. Dois anos depois, mudou-se para São Paulo e iniciou um novo negócio em uma garagem na Alameda Itu, no bairro dos Jardins. Em seguida, migrou para um espaço maior na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, no Jardim América. O grande salto veio em 2005, com a inauguração da loja conceito na Rua Colômbia, no Jardim Paulista.

Atualmente, a administração da marca está sob o comando do CEO Virgílio Castro Cunha, filho de Tania Bulhões, enquanto a empresária preside o Conselho da empresa.

A controvérsia ganhou força quando a internauta Izadora Palmeira compartilhou um vídeo no TikTok relatando uma experiência curiosa em um café na Tailândia. Segundo ela, foi servida em uma xícara idêntica à da coleção Marquesa da Tania Bulhões, mas sem o logotipo da marca. Ao retornar ao Brasil, comparou a peça usada no café com a coleção brasileira e se surpreendeu: “Inacreditável, olhem isso, idênticas. Para quem paga uma fortuna, tá aí.”

No site oficial, o conjunto de xícara e pires da coleção Marquesa custa R$ 210, enquanto a coleção completa, composta por 18 itens, é vendida por quase R$ 5 mil.

@izapalmeira

Descobri o segredo da Tânia Bulhoes ! Pra quem paga uma fortuna nas louças! #segredoTâniaBulhoes #taniabulhoes #thailand #taniabulhões

♬ original sound – Izadorapalmeira

Publicado no dia 14 de janeiro, o vídeo rapidamente se espalhou pelas redes sociais, especialmente no X (antigo Twitter), onde usuários expressaram indignação. Enquanto alguns ironizavam a situação — “Todo dia sai um malandro e um bobo de casa” — outros questionavam a originalidade do design:
“Se fosse só comprar e colocar um logotipo, mas ela diz ter se inspirado em Minas Gerais para desenhar a coleção.”

Após a repercussão, a influenciadora Isa Rangel também abordou o caso em um vídeo, levando a marca a publicar um comunicado oficial explicando o processo de produção da xícara e afirmando que tomaria “medidas cabíveis contra a disseminação de informações falsas”. Pouco depois, Rangel recebeu uma notificação extrajudicial da empresa, solicitando a remoção do conteúdo.

Em 2010, Tania Bulhões foi condenada pela Justiça Federal por crimes como falsidade ideológica, descaminho, formação de quadrilha e crimes contra o sistema financeiro nacional. A pena de quatro anos de reclusão foi convertida em prestação de serviços comunitários e pagamento de multa.