Livro resgata a memória negra de Belo Horizonte

Poucas pessoas que passam pelo cruzamento da rua da Bahia com a Timbiras, na Região Centro-Sul, sabem que aquele local era o Largo do Rosário. Isso, antes mesmo da fundação da capital mineira. E, nele, ficava a Igreja do Rosário. Tal qual, um cemitério para os membros da Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, responsáveis pela construção do Largo há mais de 200 anos. A boa notícia é que, para resgatar essa história, o Padre Mauro Luiz da Silva escreveu “Largo Do Rosário – Do Arraial dos Pretos à cidade dos brancos”. Mais que um registro, a obra convida à reflexão sobre as relações entre território, raça e poder.

Professor, doutor e coordenador do Projeto NegriCidade, Padre Mauro lembra que, no século 19, este importante marco para a população negra foi destruído para a construção da capital mineira. Com isso, os então moradores foram forçados a se deslocar para áreas periféricas. “Queremos que as pessoas conheçam a história do Largo do Rosário e de quem ajudou a construí-lo. Afinal, esse é um espaço de grande importância para a memória da população negra em BH. Portanto, queremos devolver esse direito à memória”, aponta.

Estudo

“Largo do Rosário – Do Arraial dos Pretos à Cidade dos Brancos” é, pois, um estudo sobre as transformações históricas e socioculturais do Largo do Rosário. A obra foi escrita a partir de minuciosas pesquisas realizadas pelo organizador. “A publicação reúne os achados dessa minha pesquisa, iniciada em 2011. Daí, traz à superfície vozes e presenças que foram silenciadas ao longo dos anos”, destaca Padre Mauro.

Eventos de lançamento

Para o lançamento oficial da obra, haverá três eventos abertos e gratuitos. Primeiramente, no dia 18, terça-feira, às 20h, no Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos (Muquifu). Do mesmo, no dia 22, sábado, às 10h, no Auditório Generosa, Felicíssima e Nicolau do Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB). E, ainda, no dia 23, domingo, às 10h, na Paróquia Santo Afonso de Ligório (confira os endereços abaixo). Emanuela São Pedro lembra que a escolha dos locais seguiu um propósito.

Ela, que é coordenadora do projeto e Diretora Institucional da Agência de Iniciativas Cidadãs (AIC),organização responsável pela execução dos projetos da NegriCidade, ressalta que todos têm uma importância histórica. Isso, por reunir pessoas das comunidades que outrora passaram por um processo de exclusão. “No dia 22, por exemplo, vamos ocupar um auditório dedicado à história, pesquisa e difusão do conhecimento sobre a capital mineira”, diz. Ela se refere ao fato de o espaço do MHAB conservar, em suas dependências, um casarão da antiga Fazenda do Leitão. A construção data de 1883, tempos em que Belo Horizonte era conhecida como Arraial do Curral del-Rei, destaca.

Generosa, Felicíssima e Nicolau

Durante o lançamento no MHAB, os visitantes também poderão conferir a exposição “Generosa, Felicíssima e Nicolau – Nomes sem Histórias e Histórias sem Nomes”, em exibição até 29 de junho de 2025. A mostra tem parceria com o Muquifu e já rendeu frutos, como ressalta Padre Mauro. “Inicialmente, é um reconhecimento a essas pessoas escravizadas que dão nome à exposição. Mas não só. O museu também nomeou o auditório em homenagem a elas. O que destaca o simbolismo das narrativas na história do local e da própria cidade”.

Créditos

O livro do Largo do Rosário faz parte do “NegriCidade: Resgate do Território Negro do Largo do Rosário”. Trata-se de um projeto realizado pela AIC com recurso do Ministério da Igualdade Racial/Governo Federal. Isso, via emenda parlamentar indicada pela ex-deputada federal Áurea Carolina na Lei Orçamentária Anual 2023. Parceria com o Muquifu e o Projeto NegriCidade.

Serviço

Lançamento do Livro “Largo do Rosário – Do Arraial dos Pretos à Cidade dos Brancos”

18/02 (Terça-feira) – 20h: Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos (Muquifu), às 20h, durante o Chá da Dona Jovem.

Endereço: Rua S. Antônio do Monte, 708, Vila Estrela.

22/02 (Sábado) – 10h: Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB), às 10h, com uma roda de conversa no Auditório Generosa, Felicíssima e Nicolau.

Endereço: Av. Prudente de Morais, 202, Bairro Cidade Jardim.

23/02 (Domingo) – 10h: Paróquia Santo Afonso de Ligório e SABIC (Associação dos Amigos das Bibliotecas Comunitárias). A manhã de autógrafos será na Biblioteca Comunitária Renascença.

Endereço: Praça Muquí, 89, Bairro Renascença.

Sobre o idealizador

Mauro Luiz da Silva é um estudioso dedicado à preservação da memória e da cultura negra. Sua pesquisa sobre o Largo do Rosário é um importante passo para o reconhecimento da contribuição da população afrodescendente na construção de Belo Horizonte.

Sobre a AIC

Fortalecer, articular e promover ações coletivas de construção da cidadania é o horizonte que norteia o trabalho da Agência de Iniciativas Cidadãs (AIC). A organização sem fins lucrativos soma 31 anos de atuação em variados projetos e programas, realizados junto a uma rede de mais de 500 entidades parceiras. O trabalho já obteve o reconhecimento de prêmios nacionais e internacionais.

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