Camarote cobra até R$ 21 mil por oásis VIP no ‘caos’ do carnaval de Salvador

Uma gigantesca estrutura metálica ganha forma em uma área de 11 mil metros quadrados na orla de Salvador. Mais especificamente no bairro de Ondina, onde, durante o carnaval, blocos puxados pelos trios elétricos terminam um percurso iniciado a quase 5 km dali, no famoso Farol da Barra.

O Camarote Salvador é construído do zero, “brota” do chão de uma praça enquanto os outros são montados sobre fachadas e varandas de edifícios. É como erguer uma mini-cidade que vai funcionar somente durante os dias de folia, com programação, esquema de segurança e até opções de hospedagem próprios. Habitá-la, como se pode imaginar, não sai barato.

Faltando menos de duas semanas para o início da festa, um full pass de seis dias no Camarote Salvador chega a ultrapassar os R$ 21 mil – passagens aéreas e hospedagem não estão inclusos nesse valor, vale lembrar.

Ingressos comprados separadamente variam de valor conforme o dia. São mais caros no sábado e na terça-feira de carnaval, podendo chegar a mais de R$ 4 mil. É, de longe, o camarote mais caro do carnaval baiano, como aponta um levantamento feito pela plataforma Quero Abadá, a pedido do InfoMoney. Para se ter uma ideia, o segundo colocado dessa lista, o Camarote Villa, cobra praticamente metade desse valor por um dia de acesso.

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O que tem no Camarote Salvador

Ivete Sangalo e Léo Santana: shows particulares para pagantes do camarote (Foto: Redes sociais @ivetesangalo | @leosantana)

Não é fácil transformar a entropia do carnaval de Salvador em uma experiência VIP. A capital baiana já tem a quinta maior população do país, com mais de 2,5 milhões de habitantes, de acordo com o IBGE. E a expectativa é que 850 mil visitantes estejam na cidade durante os dias de festa, de acordo com estimativas da prefeitura, número superior ao do ano passado. Aliás, nove entre dez frequentadores do Camarote Salvador são turistas.

A estrutura abriga, em média, 5 mil pessoas por noite e praticamente oferece uma realidade paralela ao carnaval em si. Enquanto a multidão que acompanha os trios elétricos disputam espaço à tapa (muitas vezes literalmente) na avenida, o Camarote Salvador tem suas próprias atrações musicais distribuídas em dois palcos. O line-up deste ano tem cerca de 70 artistas e nomes de peso, como Ivete Sangalo, Leo Santana, Carlinhos Brown e Alok.

Os serviços incluem espaço gourmet com open bar e open food, spa com massoterapeutas, área de beleza para retoque de maquiagem e cabelo e uma outra para customização de camisas. São espaços para ativações de marcas parceiras e que patrocinam o camarote, como Petra, cerveja do Grupo Petrópolis, Pernod Ricard e Red Bull.

“A gente pode dizer que o Camarote Salvador, hoje, se assemelha a um festival. Mas ao contrário de Rock in Rio e Lollapalooza, temos interação com a rua”, diz Paulo Goes, sócio da Premium Entretenimento, empresa que faz a gestão do camarote. Ele se refere ao mirante, de onde os frequentadores acenam e interagem para os cantores que passam na rua, em cima do trio.

As interações, diga-se de passagem, são comuns, visto que o Camarote Salvador é um dos preferidos das celebridades e até de políticos que passam o carnaval na capital baiana. Bruna Marquezine, Sasha Meneguel e o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, são algumas das presenças ilustres que estiveram no camarote em anos passados.

Empresa fechou hotel para frequentadores

O Camarote Salvador fechou um hotel inteiro para acomodar uma parte de seus frequentadores nos dias de carnaval. Ao optar pelo pacote completo, o cliente paga um valor adicional de cerca de R$ 9 mil pela hospedagem (valor por pessoa). Algumas regalias extras estão incluídas, como um serviço de transfer até o camarote e escolta para levar o folião até a entrada da estrutura.

O hotel quatro estrelas fica a pouco mais de três quilômetros do camarote e tem 174 quartos, a maioria com vista para o mar. A expectativa é receber uma média de 390 hóspedes no período carnavalesco.

“Mesmo o cliente que comprou um ou dois dias de camarote pode se hospedar no hotel para ter outras experiências em Salvador além do carnaval, como conhecer a culinária local, ou navegar pela Baía de Todos os Santos”, explica Luciana Villas Boas, CEO da Premium Entretenimento.

Empresa é de herdeiro dos Magalhães

Luis Eduardo Magalhães Filho, Luciana Villas Boas (CEO) e Paulo Goes, da Premium Entretenimento (Foto: Divulgação)

A empresa não revela quanto investe no Camarote Salvador nem o quanto fatura com ele a cada carnaval. Em 2025, a estrutura completa 25 anos, mas ainda que seja um “produto” sazonal, leva um ano inteiro para ser planejado e é o que mantém o negócio de pé. Assim que o carnaval acaba, os ingressos da edição seguinte começam a ser vendidos e este ano o plano é antecipar a abertura de vendas para 2026 durante os dias da festa.

A Premium Entretenimento chegou a se aventurar fora da Bahia com o Conexão Salvador, uma espécie de carnaval fora de época realizado em 2022, em São Paulo. Naquela ano, o carnaval baiano foi suspenso, ainda por conta da pandemia de Covid-19. As redes sociais do evento davam a entender que haveria uma nova edição no ano seguinte, o que acabou não acontecendo.

“Hoje ainda estamos focados no crescimento do próprio Camarote Salvador, não só como evento, mas também como marca”, diz Luis Eduardo Magalhães Filho, que fundou a Premium junto a Paulo Goes. Ele é neto do ex-senador Antônio Carlos Magalhães, cujo grupo político governou a Bahia por mais de uma década. E filho do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Luis Eduardo Magalhães, morto em 1998, aos 43 anos.

“Talvez a gente já tenha hoje o maior espaço do circuito carnavalesco atual. Então temos o desafio de inovar dentro do próprio equipamento, para surpreender o cliente”, explica Magalhães.

“Se o carnaval de Salvador ampliar o número de circuitos para outras áreas, aí sim surgem novas possibilidades para que a gente possa ousar no tamanho do camarote. Até porque em muitos dias de carnaval, a gente tem uma demanda maior que a oferta”, complementa.

No final do ano passado, os vereadores de Salvador aprovaram a criação de um terceiro circuito do carnaval, no bairro da Boca do Rio. Hoje a festa ocorre na orla da Barra à Ondina e também no Campo Grande, região central da cidade.

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