A denúncia da PGR revela uma ofensiva de guerra híbrida no Brasil

Jair Bolsonaro: ex-presidente pode enfrentar mais de 30 anos de prisão caso seja condenado pelos crimes apontados na denúncia apresentada pela PGR – Foto: Reprodução

Por Reynaldo Aragon, jornalista especializado em geopolítica da Informação e Geopolítica da Tecnologia

A denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF) revela um conjunto de estratégias que se encaixam perfeitamente no conceito de guerra híbrida. Longe de ser um evento isolado, a tentativa de golpe de Estado no Brasil seguiu um roteiro estruturado, combinando operações psicológicas, manipulação informacional, lawfare, cooptação de setores militares e insurreição popular.

Essa abordagem, amplamente utilizada em diversos países, visa corroer as instituições democráticas de dentro para fora, tornando o próprio sistema incapaz de se defender. A denúncia demonstra que a ofensiva contra a democracia brasileira começou bem antes da derrota de Bolsonaro nas urnas. Desde 2021, a estrutura golpista foi desenhada em três pilares principais: a descredibilização do sistema eleitoral, o ataque contínuo ao STF e TSE e a mobilização de sua base radicalizada para garantir a adesão das Forças Armadas. A desinformação foi utilizada como ferramenta de guerra psicológica, convencendo milhões de brasileiros de que uma fraude eleitoral estava em curso, quando não havia qualquer evidência disso.

A guerra psicológica funcionou através de redes sociais, aplicativos de mensagens e uma rede de influenciadores que amplificavam teorias conspiratórias. Essa estratégia transformou plataformas digitais em campos de batalha, onde a percepção da realidade foi sendo progressivamente alterada. A construção de um pânico moral e a disseminação de fake news foram essenciais para manter a base mobilizada e disposta a agir violentamente.

O ataque golpista de 8 de janeiro de 2023 em Brasília. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O 8 de janeiro foi o resultado final desse processo, um movimento planejado para criar caos e forçar uma resposta militar que não aconteceu. Outro elemento crucial da guerra híbrida foi o uso do lawfare. A denúncia da PGR revela que houve planos concretos para prender ministros do STF e do TSE, em uma tentativa de desestabilizar o sistema legal e viabilizar a permanência de Bolsonaro no poder. A utilização do discurso de “perseguição judicial” e “censura” contra decisões da Justiça fazia parte de um plano maior de deslegitimar o sistema judicial e enfraquecer sua autoridade.

A tentativa de golpe não fracassou por falta de disposição de seus articuladores, mas porque fatores essenciais da guerra híbrida não se alinharam a tempo. A ausência de uma adesão militar unificada impediu que o caos gerado pelos ataques aos Três Poderes em 8 de janeiro fosse utilizado como justificativa para uma intervenção armada. Mesmo assim, os danos causados ao sistema político e à opinião pública são duradouros e mostram que a guerra híbrida no Brasil está longe de acabar.

A questão agora é: como evitar que essa mesma estratégia seja aplicada novamente? A regulação das Big Techs, o fortalecimento da educação midiática e a responsabilização dos envolvidos no golpe são medidas essenciais para impedir que a democracia continue vulnerável. A guerra híbrida é um processo de longo prazo, e sua próxima fase já está em andamento. O Brasil resistiu a esse ataque, mas sem uma resposta estrutural, a próxima ofensiva pode ser ainda mais sofisticada e perigosa.

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