Apetite de streamings por futebol brasileiro leva LFU a contrato valorizado com Globo

Um grupo de 33 clubes do futebol brasileiro finalizou no último mês as negociações em bloco dos seus direitos de transmissão. A ida ao mercado pela venda dos pacotes expôs o apetite de gigantes da tecnologia por eventos esportivos ao vivo e aumentou o poder de barganha para que a Globo garantisse a presença de todos os clubes do da Série A em 2025.

Pela negociação, a Liga Forte União (LFU), que conta com clubes como Corinthians, Vasco, Botafogo, Cruzeiro, terá seus jogos transmitidos em Record, YouTube, Prime Video e Grupo Globo. O contrato é avaliado em R$ 1,7 bilhão anual.

A ideia foi transformar os direitos de transmissão em pacotes comerciais, explica o sócio da LiveMode, representante para negociação dos direitos de transmissão da liga, Leo Lenz Cesarr, ao InfoMoney. No primeiro, uma mesma partida seria transmitida exclusivamente por dois players abertos — ficou com Record e YouTube. Um segundo pacote focava em um canal privado para a transmissão exclusiva de uma partida. A Amazon levou.

O InfoMoney apurou que a LiveMode conversou com mais de 10 empresas para vender o terceiro pacote dos jogos — todos aqueles de times da LFU que não seriam transmitidos em Record, YouTube e Amazon. A Globo fechou o negócio a menos de dois meses do início do Brasileirão, quando ainda havia dois outros interessados na negociação.

O modelo acordado garante que cada um dos compradores dos direitos de transmissão façam um rodízio para ter, a cada rodada, a primeira, segunda e terceira escolha dos jogos, com um limitador máximo de escolhas por clube.

Para a LFU, a ida ao mercado ajudou a definir o preço por jogo negociado no pacote com o volume principal de transmissões. A valorização foi de 55% nos contratos de direitos de transmissão na comparação com o mesmo conjunto de clubes em 2024.

Do lado da Globo, estar sem a LFU tiraria 11 clubes da primeira divisão do Campeonato Brasileiro em 2025 da sua grade. Isso diminuiria as opções de transmissão em TV aberta, nos canais fechados do SporTV e esvaziaria o pay-per-view exclusivo para futebol, o Premiere. A Globo já tinha contrato fechado para transmitir os nove clubes do grupo comercial batizado de Libra na Série A.

Representantes tratam a negociação dos direitos de transmissão em blocos comerciais como um avanço diante do cenário anterior do futebol brasileiro, quando eles eram vendidos individualmente pelas próprias gestões. “Os clubes nunca foram assessorados, era sempre o presidente da vez [quem negociava]”, diz Bernardo Ramalho, também sócio da LiveMode. Os clubes da LFU tiveram assessoramento da LiveMode e da XP Investimentos.

Streamings mais fortes no jogo

Transmissões esportivas ao vivo se tornaram uma das grandes apostas dos principais serviços de streaming para melhor a conversão de assinantes com eventos exclusivos e, em geral, inadiáveis.

Gigantes da tecnologia como a Netflix têm aumentado seus investimentos na aquisição de transmissões esportivas. No caso da líder do mercado, parte do plano de recuperação no pós-pandemia foi baseado em aumentar as assinaturas de planos com publicidade e captação por meio de eventos como o jogo de Natal da NFL e a luta de boxe entre Jake Paul e Mike Tyson.

Em janeiro, o Prime Video, da Amazon (AMZO34) anunciou o narrador Galvão Bueno para suas transmissões do Brasileirão e da Copa do Brasil — sublicenciada pela Globo para o serviço de streaming. Desde 2024, YouTube — uma das empresas da Alphabet (GOGL34), controladora do Google — têm uma parceria pela exibição do Campeonato Paulista com a CazéTV, da própria LiveMode.

“Estamos passando por um momento muito único na nossa história, de uma completa transformação dessa cadeia de distribuição de direitos”, diz Cesar. “Têm muita coisa para ser consumida em várias plataformas. Está todo mundo percebendo que esporte tem um poder de trazer uma audiência relativamente segura e sólida por muito tempo”, avalia.

Olhos atentos do mercado

A tese também agrada investidores no mercado de capitais. A Life Capital Partners investiu um valor próximo a R$ 2 bilhões pela participação nos direitos de transmissão negociados pela LFU. O valor varia de clube para clube, mas, na média, fica em 13%.

Segundo o fundador e managing partner da Life Capital Partners, João Leitao, o ativo “é altamente gerador de caixa, nós não temos capex [despesas em capital, como estrutura física] para fazer, 90% de margem”.

“A receita é muito grande. As pessoas adoram esportes, é um dos segmentos que não vai ser disruptado por tecnologia no sentido de que não queremos ver máquinas jogando, queremos ver seres humanos”, diz Leitao.

Por enquanto, o Brasil não formou uma liga unificada para comandar o Campeonato Brasileiro. Divergências quanto a a aspectos como o modelo de distribuição de receitas quando uma liga ainda vinha sendo formada levou à ruptura entre dois grupos, a LFU e a Libra.

A leitura no mercado é de que a junção dos blocos seria um ponto de virada para destravar valor em negócios no futebol. Ambos os grupos, no entanto, agora tem comprometidos os direitos de transmissão, uma das principais linhas de faturamento, até 2029.

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