Quem é a única mulher denunciada por tentativa de golpe

Marília Ferreira de Alencar, ex-diretora de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do DF na gestão de Anderson Torres. Foto: Reprodução

Marília Ferreira de Alencar, ex-diretora de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal na gestão de Anderson Torres, foi a única mulher denunciada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), junto com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros 32 acusados, por tentativa de golpe de Estado.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou na denúncia enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) que Marília integrou o grupo que tentou “sustentar a permanência ilegítima” de Bolsonaro na Presidência.

“Em um segundo plano, os denunciados com posições profissionais relevantes gerenciaram as ações elaboradas pela organização. Silvinei Vasques (ex-diretor-geral da PRF), Marília Ferreira de Alencar e Fernando Sousa de Oliveira coordenaram o emprego das forças policiais para sustentar a permanência ilegítima de Jair Messias Bolsonaro no poder”, diz a denúncia.

De acordo com o documento da PGR, as ações de Marília de Alencar, Anderson Torres e do ex-número dois da Secretaria de Segurança Pública à época dos ataques, Fernando de Sousa Oliveira, “revelaram descumprimento deliberado do dever que se lhes impunha, no âmbito das suas responsabilidades na segurança pública, de prevenir exatamente as barbaridades ocorridas”.

Na época delegada da Polícia Federal, Marília foi nomeada subsecretária de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do DF por Anderson Torres, ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro e ex-secretário de Segurança Pública do DF.

Antes de assumir essa função, ela já havia ocupado o cargo de diretora de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça, também a convite de Torres, quando ele comandava a pasta.

Em depoimento à PF, Marília declarou que conheceu o ex-ministro de Bolsonaro por meio da atuação na Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), onde foi diretora parlamentar.

Segundo o currículo de Marília, ela é delegada da Polícia Federal desde julho de 2007. Na corporação, ela ocupou postos na diretoria de Logística e Administração Policial e na Academia Nacional de Polícia.

CPI dos Atos Antidemocráticos

Durante a CPI dos Atos Antidemocráticos na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), em março de 2023, Marília Ferreira de Alencar afirmou que as forças de segurança da capital foram informadas sobre a intenção dos bolsonaristas de invadir prédios públicos. Na ocasião, ela negou que a Inteligência da Secretaria de Segurança Pública tenha falhado.

Segundo Marília, a inteligência da secretaria identificou “falas adversas” de bolsonaristas sobre a invasão de prédios públicos, mas alegou que tais falas “não tinham coordenação”. Ainda assim, afirmou que todo o material foi repassado às forças de segurança da capital.

Erasmo Júnior e Marília Alencar, delegados da PF, em dia de protesto contra Dilma Rousseff, em 2016 - Reprodução/Facebook
Marília Alencar e Erasmo Júnior, delegados da PF, em protesto contra Dilma Rousseff, em 2016. Foto: Reprodução

Já em depoimento à Polícia Federal, Marília declarou que forças de segurança de diferentes órgãos participavam de um grupo no WhatsApp, no qual eram compartilhadas, desde o dia 6 de janeiro, informações sobre as movimentações de grupos contrários ao resultado do segundo turno das eleições presidenciais.

À PF, a ex-subsecretária relatou que, a partir das 14h30, “as ações violentas ganharam grande vulto com as ações de invasão e depredação dos prédios dos poderes públicos”. Segundo ela, a secretaria repassou todas as informações obtidas para a Polícia Civil e a Polícia Federal.

Na denúncia apresentada na terça-feira (18), a PGR apontou que, apesar do compartilhamento das informações pelo grupo na rede social, “foi somente às 16h50 que a subsecretária de Inteligência Marília Ferreira Alencar enviou a sua primeira mensagem no grupo, informando: ‘Força Nacional subindo agora pro Palácio’”.

Envolvimento nas blitze de 2022

Marília também atuou na articulação para que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) impedisse eleitores do Nordeste de votarem no segundo turno das eleições de 2022.

Próximo à data do segundo turno, Marília solicitou a coleta de dados sobre locais onde Lula (PT) teve votação expressiva no primeiro turno, o que levantou suspeitas e foi percebido pelo funcionário encarregado da tarefa.

“Ele expressou perplexidade diante das solicitações de Marília Alencar, dado que o seu trabalho deveria se concentrar na segurança das eleições, e não na análise de resultados que poderiam orientar as ações da PRF”, diz um trecho da denúncia da PGR.

A Procuradoria-Geral da República considera que houve “manejo indevido” das forças de segurança para dificultar a votação de eleitores nas regiões onde Lula venceu no primeiro turno.

“Verificou-se, nesse momento, o manejo indevido das forças de segurança pública para dificultar a votação de eleitores no candidato da oposição. Ficou evidente que o grupo tentava, pelo uso da força estatal, forjar um resultado eleitoral favorável”, aponta a denúncia.

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