Revista científica ‘despublica’ artigo de grupo do Instituto Butantan após biólogo pisar em jararacas

Jararaca. Foto: Divulgação

A revista científica Scientific Reports, do grupo Nature, retratou no último dia 11 um artigo publicado em maio do ano passado, no qual cientistas brasileiros descreviam a frequência e as condições em que serpentes da espécie jararaca (Bothrops jararaca) picam seres humanos.

O estudo foi conduzido por pesquisadores do Instituto Butantan e teve como primeiro autor João Miguel Alves Nunes, então orientando de Otávio Vuolo Marques, pesquisador do Laboratório de Ecologia e Evolução do instituto. A retratação ocorreu devido a um problema burocrático relacionado à inclusão de filhotes de serpente no experimento.

Segundo Nunes, o equívoco decorreu de um erro na solicitação ao comitê de ética, que aprovou seu afastamento do projeto após ele ter sido picado quatro vezes por serpentes e apresentar reações alérgicas ao veneno e ao soro antiofídico.

Entretanto, a inclusão dos filhotes no estudo não foi oficialmente autorizada, o que foi interpretado pelos autores como uma permissão para a ampliação do número de animais.

O pesquisador destaca que o termo “pisada”, usado no artigo, gerou confusão e que a expressão correta seria “tocar levemente com o pé”. Ele reforça que nenhum animal sofreu sequelas, lesões ou morreu ao longo dos dois anos de pesquisa. “A decisão foi tomada por um excesso burocrático e erro de formulário, não por mal-estar animal”, afirmou.

Jararaca mordendo uma bota. Foto: Divulgação

Otávio Vuolo Marques, coordenador da pesquisa, assumiu a responsabilidade pelo erro, destacando que não houve intenção de ocultar informações. “Infelizmente, a burocracia tomou conta, não só no Butantan, mas em diversas instituições”, disse.

Ele lamentou a retratação e ressaltou que o estudo não sofreu contestações por plágio ou manipulação de dados, enfatizando sua relevância para a prevenção de acidentes ofídicos. A diretora do Instituto Butantan, Ana Coccuzzo, reforçou a necessidade de cumprimento das normas legais.

“Como instituição pública, temos a obrigação de seguir os protocolos. Se essa notificação não fosse feita e houvesse repercussão, poderíamos enfrentar sanções federais desnecessárias”, afirmou.

Nunes, que não faz mais parte do Instituto Butantan, afirmou que não teve a oportunidade de esclarecer os fatos perante a comissão de ética devido ao seu afastamento compulsório de projetos envolvendo serpentes e venenos. A situação o levou a desistir da carreira na instituição.

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