Manifesto da PUC-SP contesta definição de antissemitismo usada para perseguir professores

Placa de identificação do campus Monte Alegre da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP): um grupo de 121 professores da instituição publicou um manifesto de repúdio à uma decisão da Fundasp – Foto: Reprodução

Um grupo de 121 professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) publicou, nesta sexta-feira (28/02), um manifesto de repúdio à decisão da Fundação São Paulo (Fundasp) de adotar um Protocolo Antidiscriminatório que foca exclusivamente no antissemitismo.

O documento critica a postura da mantenedora da universidade, alegando que a medida está alinhada a organizações ligadas ao movimento sionista. O debate ganhou força após a Fundasp investigar denúncias contra os professores Reginaldo Nasser e Bruno Huberman, coordenadores do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais (GECI), acusados de práticas antissemitas por um grupo de estudantes sionistas. A apuração concluiu que os docentes não cometeram tais atos, decisão reconhecida pelos signatários do manifesto, que destacaram a importância da liberdade de expressão garantida pela Constituição.

Os professores Reginaldo Nasser e Bruno Huberman – Foto: Reprodução

No entanto, o texto aponta que o protocolo desconsidera outras formas de discriminação relevantes para a sociedade brasileira e a comunidade acadêmica, como o racismo contra negros, indígenas, imigrantes, árabes e muçulmanos. O manifesto cita um episódio ocorrido em fevereiro de 2025, quando pichações em um banheiro da PUC-SP incitavam violência contra árabes e defendiam o bombardeio à Faixa de Gaza.

Os professores também questionam a falta de participação da comunidade acadêmica na formulação do protocolo e afirmam que a Reitoria e o Conselho Universitário não ratificaram a decisão da Fundasp. “Esse termo parece ter sido publicado para atender a interesses externos à nossa instituição”, afirmam.

Críticas à definição da IHRA

O manifesto chama atenção para a escolha da IHRA como referência para definir o antissemitismo, ressaltando que a adoção desse conceito foi influenciada pela Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) e pela organização Stand With Us Brasil (SWU). Segundo os professores, essas entidades atuam junto à Confederação Israelita Brasileira (Conib) para que assembleias legislativas, câmaras municipais e instituições de ensino adotem essa mesma definição. O Estado e o município de São Paulo já aderiram à diretriz.

A principal controvérsia apontada pelos docentes está na interpretação da IHRA que considera críticas ao Estado de Israel como manifestações antissemitas. O manifesto alerta que isso pode abrir margem para punições a professores, funcionários e estudantes que se posicionem criticamente em relação ao governo israelense.

O texto também denuncia a influência da Fisesp e da SWU na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, que estaria promovendo mudanças nos currículos de História e Geopolítica para favorecer a narrativa israelense sobre os conflitos no Oriente Médio. Para os professores, essa interferência fere os princípios constitucionais do pluralismo de ideias e da liberdade de aprendizado.

“A definição da IHRA tem sido usada globalmente como ferramenta de censura e perseguição a professores, jornalistas e ativistas que expressam solidariedade à causa palestina. De acordo com essa concepção, afirmar que Israel é um projeto baseado no racismo seria considerado antissemita. Se essa lógica fosse aplicada ao Brasil, qualquer análise sobre o racismo estrutural do país poderia ser classificada como racismo, uma inversão de valores com o objetivo de silenciar críticas”, destaca o manifesto.

O texto conclui ressaltando que há diversas iniciativas judaicas e israelenses ao redor do mundo que se opõem à IHRA. Como exemplo, cita a Jerusalem Declaration of Antisemitism, de 2021, elaborada por intelectuais israelenses, que separa explicitamente críticas a Israel de manifestações de ódio contra judeus. Além disso, menciona organizações como o Jewish Voice for Peace, nos EUA, e o Vozes Judaicas por Libertação, no Brasil, que rejeitam a definição da IHRA por considerá-la uma tentativa de confundir sionismo, judaísmo e Estado de Israel.

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