Sakamoto: PM infla público para evitar que ato esvaziado frustre anistia de Bolsonaro

Manifestação com Bolsonaro em Copacabana pela anistia dos condenados pelo 8/1. Foto: Giorgio de Luca/Entre Nuvens

Bolsonaro e aliados convocaram, para a manhã deste domingo (17), o que era para ser um enorme ato a fim de defender a anistia aos golpistas. O baixo comparecimento (cerca de 18,3 mil almas) na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, reduz a pressão sobre o Congresso Nacional para aprovar o projeto que pretende perdoar quem tentou transformar o Estado democrático de direito em geleia.

Os números são do Monitor do Debate Político, que antes estava ancorado na Universidade de São Paulo e, agora, mudou-se para o Cebrap, um dos mais importantes centros de pesquisa brasileiros, e a ONG More in Common. Para efeito de comparação, na micareta de 07 de setembro de 2022, também em Copacabana, quando Bolsonaro transformou as celebrações do Bicentenário da Independência em seu comício eleitoral, o mesmo Monitor calculou 64,6 mil manifestantes.

Não adianta a Polícia Militar do Rio de Janeiro, sob a batuta do governador bolsonarista Cláudio Castro, inflar descaradamente os números ao afirmar que mais de 400 mil pessoas acompanharam o ato. Qualquer criança, olhando as imagens, que nem contando todos os banhistas do Leme ao Arpoador se chegaria a esse tanto.

Há deputados e senadores que contam lorotas e meias verdades para influenciar os eleitores, mas a maioria racional deles usa fatos concretos para tomar suas próprias decisões. E as imagens deste 16 de março não mentem, o ato foi menor do que Bolsonaro esperava.

A oposição diz que já tem votos suficientes para aprovar a anistia na Câmara dos Deputados. No Senado Federal, ainda vai ter que lutar. Com a baixa pressão que veio das ruas, terão que lutar dobrado.

Vale lembrar que, mesmo se o Congresso aprovar a ideia e, depois, derrubar o provável veto de Lula, e a Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal aceitarem essa loucura, ainda Bolsonaro vai precisar de outro milagre para estar com a cara estampada nas urnas eletrônicas que ele tanto odeia em 2026.

Afinal, ele está inelegível até 2030 por causa de duas condenações do Tribunal Superior Eleitoral por abuso de poder — incluindo a micareta em Copacabana de 7 de setembro de 2022. Então, terá que ver esquartejada a Lei da Ficha Limpa. Ou seja, terá que lutar pela impunidade da corrupção política no país. Não que não tenha o apoio de muito parlamentar, mas há certas coisas que são mais complicadas porque pegam mal. Mesmo no Brasil.

É cedo para dizer que isso significa uma perda de influência de Bolsonaro para convocar grandes manifestações. Uma pauta como anistia, ou seja, perdão por um crime, é algo que empolga menos do que uma agenda de crítica e de batalha. Se o ato fosse apenas pelo impeachment de Lula, talvez houvesse mais pessoas que desencanariam do domingo de sol e vestiriam o uniforme da CBF e

“A confusão na convocação se o ato incluiria ou não o impeachment, se ela seria só no Rio, se ela seria descentralizada, com idas e vindas, pode ter comprometido o poder de convocação. O processo de mobilização deles é bastante oscilante, mesmo se olharmos para as manifestações anti-Dilma, elas oscilaram bastante”, afirma Pablo Ortellado, professor de Políticas Públicas da USP e um dos coordenadores do levantamento.

“Esse número baixo não é necessariamente um atestado de que o bolsonarismo perdeu o poder de mobilização. Teríamos que observar três ou quatro manifestações com esse nível mais baixo para afirmarmos isso”, diz.

Mesmo com a baixa popularidade de Lula, a questão para os congressistas é: vale a pena lutar pela anistia de uma pessoa, com risco de se queimar junto à opinião pública, se nem os seguidores dela se mostram empolgados de fazer o mesmo?

Originalmente publicado no UOL

Adicionar aos favoritos o Link permanente.